Em meio ao debate em torno do anúncio do fechamento das fábricas da Ford no Brasil, o economista Edgard Leonardo afirmou, durante entrevista à Rádio Jornal na manhã desta quarta-feira (13), ser necessária a criação de um ambiente tributário mais amigável para as empresas no País, cenário que seria alcançado se, segundo ele, uma reforma tributária fosse executada no Brasil. A ideia também foi defendida na última terça-feira (12) pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), que apontou a redução no número de tributos como um atrativo para a competitividade de um País.
Mais do que apontar a reforma como uma solução, Edgard Leonardo disse que a reestruturação tributária pode ser uma consequência da saída da montadora do Brasil, justamente pelo impacto que esse movimento causou. "Em um primeiro momento isso (o fechamento da Ford) traz um impacto muito danoso para a economia nacional, serão muitos empregos perdidos em um momento complicado. Todavia, isso sinalizou a importância de uma discussão sobre uma reforma tributária que reduza esse Custo Brasil. Uma reforma que permita que as empresas do Brasil saiam desse pandemônio tributário. Essa saída da Ford produzindo no País automóveis de passeio é uma estratégia mundial da empresa, mas será que o Brasil não poderia ter discutido ao longo dos anos com uma política industrial mais consistente, mais horizontal?", questionou.
>> Trabalhadores da Ford fazem protesto na sede da montadora em Camaçari
>> Fechamento da Ford na Bahia deixa 12 mil trabalhadores desempregados
>> Como ficam os proprietários de carros da Ford no Brasil?
>> Saída da Ford do Brasil terá forte impacto sobre a economia nordestina
O economista frisou, ainda, que o País precisa se modernizar e repensar alguns dos seus setores industriais, entre eles o de automóveis. "Se é pra gente incentivar de forma vertical, que sejam em novas tecnologias, como a do carro elétrico, por exemplo. Eu falo com vocês dentro de um carro movido a combustível fóssil, uma tecnologia muito antiga, do século retrasado. A gente tem que pensar nisso quando formos conceder benefícios porque isso vai trazer tecnologia e uma nova cadeia produtiva, que inclusive o mundo começa a demandar. A grande virada dessa década vai ser o foco no carro elétrico e o Brasil pode, sim, sair na frente porque tem um mercado muito grande e ainda pode se tornar um exportador, pontuou Leonardo.
Consultor automotivo, Alexandre Costa, que também participou do programa, listou, no entanto, alguns desafios para o início da produção de um produto como o carro elétrico em um País como o Brasil. "O processo de eletrificação veicular tem impacto em todas as fases da cadeia produtiva. O vendedor vai ter que reaprender a vender carro, o mecânico vai ter que reaprender a fazer a manutenção do carro, existe um impacto considerável em todos os elos. O próprio consumidor ainda não despertou para os benefícios da eletrificação veicular. Aqui em Pernambuco, pouca gente sabe, o carro 100% elétrico tem isenção de IPVA. Em São Paulo, ele tem redução de 50% no IPVA e fica livre para rodar, não depende de rodízio", pontuou o especialista.
A decisão da Ford de fechar suas três fábricas no Brasil foi anunciada na última segunda-feira (11). O movimento afeta diretamente 5,3 mil funcionários dessas fábricas e a produção de veículos como o EcoSport, Ka e Troller T4.