A saída de Wilson Ferreira Júnior da presidência da Eletrobras trouxe uma má sinalização de que o processo de privatização da holding pode não se concretizar neste governo, segundo especialistas e alguns políticos. O executivo informou que o desligamento ocorreu por motivos pessoais. Ele chegou à empresa em 2016 - no governo do presidente Michel Temer - com a missão de prepará-la para a privatização e deve se desligar no próximo 05 de março. Na tarde desta segunda-feira (25), ele fez um balanço das suas ações na estatal. A Eletrobras é uma grande holding do setor elétrico e tem subsidiárias como a Companhia Hidro Elétrica do Nordeste (Chesf), que tem sua sede no Recife. O projeto para vender uma parte das ações da companhia chegou ao Congresso Nacional em novembro de 2019.
>> Defensor da privatização da empresa, presidente da Eletrobras renuncia ao cargo
"Na minha opinião, isso mostra que, do ponto de vista do presidente da Eletrobras, a privatização ficou difícil. A gota da água foi a declaração do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) dizendo que a privatização da estatal não seria prioridade", resume o presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. Ele é especialista na área de infraestrutura. Até agora, Rodrigo é o candidato a presidência do Senado que tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Ainda de acordo com Adriano, também gerou muito desgaste para Eletrobras o episódio da falta de energia no Amapá, que ficou literalmente no escuro por dias. "A grande questão agora é quem vai ser o novo presidente da Eletrobras. Se for uma indicação política, a tendência é a privatização não avançar durante o governo Bolsonaro", comenta Adriano, lembrando que a Eletrobras já é uma empresa que tem dificuldade de ser privatizada, por causa da ligação de vários políticos com as suas subsidiárias. "Os mineiros defendem que Furnas (uma subsidiária da Eletrobras) é de Minas Gerais, os nordestinos que a Chesf é do Nordeste e por aí vai", comenta. "Isso fragiliza a privatização, que fica frágil e não anda no Congresso que é o que aconteceu e está ocorrendo agora", conclui Adriano.
Mesmo com o projeto que prevê a privatização da Eletrobras estando no Congresso desde novembro de 2019, nenhum líder do governo do presidente Michel Temer (MDB) ou do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu o mesmo com convicção. Sequer foi criada uma comissão especial para analisar o projeto na Câmara dos Deputados. Também não foi escolhido um relator. Existiam pelo menos quatro frentes de parlamentares contrário ao projeto na Câmara dos Deputados.
Para os nordestinos, a privatização da Eletrobras não envolve somente a Chesf, mas também o uso da água do São Francisco. "A Chesf deveria administrar a gestão da água do São Francisco, que é vital e estratégica para o Nordeste. Quanto mais água passar pelas hidrelétricas, mais a empresa que vier a explorar as hidrelétricas do São Francisco vai ganhar", explica o deputado federal Raul Henry (MDB) e ex-vice-governador de Pernambuco, argumentando que isso pode gerar um conflito com os demais uso da água.
"As águas do São Francisco são utilizadas, primeiro, para o uso humano e também para fins econômicos na região", comenta o parlamentar. Uma parte desta água alimenta polos de irrigação importantes, principalmente, para a economia dos Estados da Bahia e de Pernambuco.
GESTÃO
Wilson Ferreira Júnior ocupou a presidência do Grupo CPFL antes de chegar ao cargo mais alto da Eletrobras. Na gestão dele, foram implementadas várias iniciativas como a diminuição da quantidade de empregados que saiu de cerca de 20 mil para 12 mil funcionários devido, entre outras coisas, aos planos de desligamento voluntários implementados neste período.
A Eletrobras - incluindo a Chesf - se desfez de várias participações pequenas que tinha nas Sociedades de Propósito Específicos (SPEs) criadas para concorrer em leilões e implantar empreendimentos. Também foram privatizadas algumas distribuidoras do Norte e Nordeste que passaram muitos anos aumentando o prejuízo da holding. A maioria das distribuidoras foram privatizadas no começo dos anos 2000 com exceção dessas que ficaram na Eletrobras.