Livros

Mercado editorial tenta sobreviver à crise com inovação, clubes de assinaturas e aposta no e-commerce

Enquanto grandes livrarias fecham lojas físicas, a exemplo da Cultura e da Saraiva, clubes de assinaturas de livros e outros produtos com vendas online despontam

Cadastrado por

Adriana Guarda

Publicado em 05/02/2021 às 20:41 | Atualizado em 05/02/2021 às 21:20
Livraria Cultura começou 2021 fechando duas lojas em São Paulo e uma no Paraná - Arnaldo Carvalho - Arquivo/JC Imagem

Foi uma cena triste de ver: as prateleiras sendo esvaziadas e os livros encaixotados. No dia 31 de janeiro, a Livraria Cultura fechou três de suas maiores lojas no País, duas em São Paulo e uma no Paraná. Fazia pouco tempo que a rede tinha fechado outras três unidades em Campinas, Ribeirão Preto e Brasília. O mercado editorial no Brasil já estava em crise, mas a pandemia da covid-19 contribuiu para agravar o cenário, sobretudo para as livrarias. Cultura e Saraiva já estavam em recuperação judicial desde 2019 e o fechamento do comércio por conta do distanciamento social prejudicou ainda mais os negócios. Enquanto o modelo de lojas físicas sucumbiu à crise, os clubes de assinaturas de livros e o e-commerce perceberam oportunidade no momento adverso. 

>> Clubes de assinaturas de livros com cada vez mais adeptos no Brasil

Quem olha para os números, chega à conclusão de que o mercado de livros no Brasil é um negócio de risco. Realizada a cada quatro anos, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, co-realizada pelo Instituto Pró-Livro e Itaú Cultural e que está em sua 5ª edição (2020), revela que o brasileiro lê uma média de 2,6 livros por ano, levando em consideração a leitura integral ou em parte. Quando se trata do livro inteiro essa média cai para 1,05. Outra má notícia é que as pessoas estão lendo cada vez mais conteúdos nas redes sociais e aplicativos e deixando o livro de lado. A principal disputa do livro não é mais com a TV, ela ganhou mais um rival de peso: a internet.

Apesar desse cenário estrutural negativo, o mercado editorial fechou 2020 praticamente empatado com 2019, o que se configura em um bom resultado em um ano marcado pelo coronavírus. É o que mostra o Painel do Varejo de Livros no Brasil, realizado anualmente pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Nielsen. O volume comercializado teve um discreto aumento de 0,87%, alcançando 41,9 milhões de livros, enquanto o faturamento registrou uma pequena queda de 0,48%, chegando a R$ 1,73 bilhão. A redução no faturamento pode ser explicada pela redução de 2,43% no preço médio do livro, que baixou de R$ 40,71 para R$ 39,72, e por uma política mais agressiva de descontos principalmente das lojas virtuais. 

Centro de distribuição da Amazon - REPRODUÇÃO
 

e-Commerce de livros ganha mais adeptos

Com o fechamento de seis lojas de 2020 para cá, a Livraria Cultura afirma que vai lançar serviços inéditos em março e dar mais foco na integração com os meios digitais. Por meio de nota, a rede diz que não tem pretensão de "concorrer com os gigantes do comercio eletrônico, mas sim de oferecer aos nossos clientes algo que ninguém oferece, novo e único”, diz o texto. E complementa: “Ao longo dos últimos anos, o mercado online ganhou grande representatividade no mercado editorial. A pandemia impôs novos hábitos de consumo que dificilmente irão retroceder. A digitalização que tomou conta das pessoas e das empresas veio para ficar. Hoje as vendas de livros online representam algo como 80% da receita total do mercado. Esses fatores trazem desafios adicionais para o modelo tradicional das livrarias no médio e longo prazo". 

O grupo também observa que a pandemia comprometeu parte importante de seu faturamento, que vinha da presença dos clientes nas lojas. "Parte importante do faturamento das lojas vinha de eventos, noites de autógrafos, atividades culturais, gastronômicas e obviamente de contato social. Infelizmente não acreditamos que tais atividades voltarão com força ainda em 2021”.

Na avaliação do professor de logística e doutorando em engenharia de produção, Paulo Alencar, as livrarias precisam acelerar a mudança de estratégias para competir com as líderes globais do e-commerce. "As lojas físicas tradicionais passam por um processo de reestruturação e necessidade de redefinição de suas estratégias comerciais remotas com atendimentos rápidos, cada vez mais fáceis e online. O mercado de livros é um dos segmentos que mais sofre frente às mudanças de comportamento dos consumidores e, principalmente, à gigante Amazon que inaugurou o seu Centro de Distribuição no Cabo de Santo Agostinho no primeiro trimestre de 2020 e colocou à prova o mercado tradicional brasileiro e, principalmente, o pernambucano", pontua.

Ele destaca que a Amazon avança na sua estratégia logística e de redução de custos operacionais, pensando na comodidade do cliente, na rapidez na entrega por endereçamento por CEP e, principalmente, nos preços baixos e agressivos frente à toda estrutura de uma loja física física. "A tendência é que o mercado editorial remodele sua estrutura física e logística, urgentemente, tornando as livrarias verdadeiras vitrines menores e com menos custos fixos e, por sua vez, busquem recuperar o mercado perdido junto a uma gigante que já avança continuamente com sucesso em vários mercados mundiais", defende. 

KIT Curadoria do Clube de Assinaturas de Livros TAG Experiências Literárias - Reprodução

Clubes de livros conquistam clientes

Enquanto as livrarias tentam encontrar uma saída para as mudanças no mercado, os clubes de assinantes de livros se multiplicam no Brasil, oferecendo uma nova experiência aos leitores. Como resistir a uma caixinha que chega na sua residência com um livro surpresa (muitas vezes inédito no País), indicado por um escritor e que ainda vem cheia de mimos e conteúdos extras? É com esse conceito que os clubes encantam seus assinantes. 

A experiência é relativamente recente no Brasil e já se expandiu. O pioneiro por aqui foi o TAG Experiências Literárias, criado por um grupo de amigos do Rio Grande do Sul em 2014. Enquanto as vendas de livros empatam no País, o número de assinantes e o faturamento do clube cresce a dois dígitos. O leitor pode escolher o TAG Curadoria (com livros indicados por um escritor) e o TAG Inéditos (best sellers que estão fazendo sucesso no mundo). Os planos podem ser anuais (R$ 56,90 e R$ 46,90) ou mensais (R$ 65,90 e 55,90), além da taxa de entrega. 

As editoras também lançaram seus clubes de assinatura. A Intrínseca tem o Intrínsecos, que entrega os livros do grupo e a Todavia tem o Toda Via Todo Mês. Também tem surgido os clubes segmentados, como o Garimpo, que já tem nove tipos diferentes. As crianças não ficaram de fora e surgiu o leiturinha (o principal do segmento) e outros. Os especialistas acreditam que a febre deverá continuar a ajudar a erguer o mercado editorial brasileiro. 

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