Após o governo Bolsonaro desmarcar uma reunião com caminhoneiros para tentar frear a realização de uma greve da categoria no dia 1º de novembro, o movimento paredista ganhou força, e seus porta-vozes reafirmaram a promessa de cruzar os braços ao longo das rodovias do País na próxima segunda-feira.
Descontentes com os aumentos dos combustíveis e com as propostas do governo para o setor, os profissionais pedem a redução do preço do diesel e o retorno da aposentadoria especial após 25 anos de contribuição ao INSS. Outra reivindicação realizada é a "defesa da constitucionalidade do Piso Mínimo de Frete".
O movimento, porém, deve perder força se o governo atender ao menos uma das reivindicações e reabrir mesa de negociação com a categoria. Caso contrário, o país, refém do transporte rodoviário, deve padecer com a paralisação, marcada no último dia 16 de outubro em uma reunião realizada no Rio de Janeiro. No encontro, as associações dos motoristas decidiram que a greve será de 15 dias, se ocorrer.
A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) afirmou que não tem informações a respeito da paralisação. A greve não é apoiada pela Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam).
A Fretebras, plataforma de transporte de cargas, fez uma pesquisa com 2.023 caminhoneiros da sua base de dados e 59% disseram que apoiam a greve marcada para 1º de novembro. Do total dos entrevistados, 54% afirmaram que pretendem aderir à paralisação.
A pesquisa foi divulgada na terça-feira (26), um dia após a Petrobras reajustar novamente os preços dos combustíveis, entre eles os do óleo diesel, que vai custar 9,15% a mais nas refinarias, acumulando alta de 65,3% só em 2021.
- A um grupo de ministros, Bolsonaro disse não acreditar na evolução do estado de greve dos caminhoneiros
- Bolsonaro promete ajuda a 750 mil caminhoneiros para compensar preço do diesel
- Bolsonaro diz que vai oferecer auxílio aos caminhoneiros para compensar aumento no diesel
- Líder dos caminhoneiros diz que oferta de Bolsonaro é 'piada de mau gosto'
No Nordeste, 61% dos entrevistados afirmaram que vão aderir à greve. Os maiores percentuais foram encontrados no Ceará, com 65% dos caminhoneiros favoráveis ao movimento, seguido de Pernambuco, com 61%, e Bahia, com 60%.
Reflexo do apoio constatado no levantamento, alguns vídeos circulam por aplicativos de mensagem e mostram caminhoneiros afirmando que, mesmo tendo votado em Bolsonaro, não tem outra opção a não ser se juntar com a categoria e parar.
Auxílio insuficiente
Numa manobra para tentar enfraquecer a greve, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) prometeu criar um auxílio para atender 750 mil caminhoneiros autônomos. A ideia, no entanto, não foi suficiente para a categoria. O presidente anunciou a medida sem detalhar o valor do benefício, fonte dos recursos, nem tempo de duração do apoio.
"Como está na iminência de ter outro reajuste de combustível, o que nós buscamos fazer? Acertado na equipe econômica. Alguns não querem, não queriam, outros achavam que era possível. Dar ajuste para caminhoneiros. O que está decidido até o momento? R$ 400 a 750 mil caminhoneiros autônomos. Isso é muito, é pouco? É o possível", declarou o presidente.
O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, uma das principais lideranças do movimento de caminhoneiros do País, criticou duramente as declarações.
"Eu acho que foi uma piada que ele (Bolsonaro) fez... ou será de verdade? Isso é uma piada de mau gosto. O caminhoneiro não quer esmola, quer dignidade, quer os compromissos que foram assumidos e que até hoje não saíram do papel", disse Landim, conhecido entre os caminhoneiros como "Chorão".