Os indicadores econômicos confirmam o que qualquer chefe de família ou consumidor sentiu no bolso em 2021: o custo de vida no Recife pipocou. A feira ficou mais cara, o combustível disparou, a conta de luz subiu, o aluguel aumentou, o gás de cozinha ultrapassou os R$ 100. Provocado pela crise da covid-19 e agravado por fatores locais, esta escalada nos preços corroeu o poder de compra da população e impactou a economia. Em vários indicadores, Recife chega a ter desempenho negativo acima da média nacional.
A inflação é um dos exemplos. Se em 2021, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no Brasil fechou em dois dígitos (10,06%), no Recife cravou 10,46%, ocupando o 8º lugar no ranking nacional. Assim como no Recife, a inflação superou a faixa de 10% em 10 das 16 capitais e regiões metropolitanas pesquisadas em 2021 pelo IBGE. De forma mais geral no País, os índices que mais subiram foram os grupos de transportes e habitação, além de alimentos e bebidas.
A capital pernambucana acompanhou a tendência nacional. "A inflação recifense teve como carro-chefe os grupos de transportes e habitação, tendo combustíveis, energia e aluguel como os principais pesos para esta pressão. O combustível impacta duplamente o bolso das pessoas, tanto na compra direta como no repasse dos preços de logística e transportes. A energia também tem efeito semelhante. Já o aluguel foi pressionado pela necessidade das pessoas de morar mais próximo do centro para evitar transtornos com deslocamento (engarrafamentos), além da utilização de transportes públicos por conta da pandemia", analisa o economista da Búzios Consultoria, Rafael Ramos.
INFLAÇÃO NAS CAPITAIS
Variação % em 2021
Curitiba -12,73
Vitória -11,5
Rio Branco - 11,43
Porto Alegre - 10,99
Campo Grande - 10,92
Salvador - 10,78
Fortaleza - 10,63
Recife - 10,42
Goiânia - 10,31
Aracaju - 10,14
São Luís - 9,91
São Paulo - 9,59
Belo Horizonte - 9,58
Brasília - 9,34
Rio de Janeiro - 8,58
Belém - 8,1
Fonte: IBGE
CESTA BÁSICA DISPAROU
O professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e consultor de empresas, Ecio Costa, explica que Recife tem, historicamente, um custo de vida alto por conta de peculiaridades locais."A cesta básica, um dos fatores que impacta o custo de vida, teve alta acima da média nacional em função de determinados produtos, da tributação e do preço dos combustíveis, por exemplo. Quando soma todos esses fatores, Pernambuco e Recife acabam apresentando um comportamento inflacionário mais elevado que a média nacional", explica Costa.
Levantamento do Dieese mostra que em 2021, o valor da cesta básica aumentou nas 17 capitais onde o departamento realiza mensalmente a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos. Com aumento de 13,42%, Recife aparece em terceiro lugar entre as capitais que tiveram as maiores altas do País, atrás apenas de Curitiba (16,30%) e Natal (15,42%), Recife (13,42%). Esta foi a alta da cesta no último mês do ano, em relação a igual período de 2020.
"Certamente além dos impactos inflacionário geral, a maior parte dos itens que apresentaram aumento da cesta básica vêm de fora do Estado e são contaminados pelo custo do transporte para a cidade, que historicamente tem um custo de vida alto", observa o economista Edgard Leonardo.
Os maiores aumentos anuais no Recife foram percebidos para o café (52,43%), o açúcar (43,94%), a banana (37,02%), o tomate (29,07%), a carne (14,32%), a manteiga (13,38%), a farinha de mandioca (5,24%), o óleo de soja (5,00%) e o pão francês (1,84%).
Variação da cesta básica por capital
Curitiba - 16,30
Natal - 15,42
Recife - 13,42
Florianópolis - 12,02
Campo Grande - 11,26
Belém - 11,18
Porto Alegre - 10,92
Vitória - 10,28
São Paulo - 9,35
Fortaleza - 8,24
Salvador - 8,17
João Pessoa - 7,50
Rio de Janeiro - 7,27
Belo Horizonte - 6,44
Goiânia - 5,93
Aracaju - 5,49
Brasília - 5,03
Fonte: Dieese
Quando o assunto é o preço do aluguel, mais uma vez o Recife aparece entre as capitais que tiverm as maiores altas do Brasil em 2021. O Índice FipeZap de Locação, aponta a cidade como a terceira com maior variação do País e reajuste na casa de dois dígitos. Curitiba (14,17%), Florianópolis (11,59%) e Recife (11,19%) foram as únicas com aumentos acima de 10% no acumulado do ano. Além da pandemia, o professor Ecio Costa explica que as próprias condições do mercado imobliário local são propícias à alta nos preços.
"Os alugueis dispararam no Recife porque tem o problema de falta de área para expansão do mercado imobiliário. Recife é ladeado por Jaboatão, Olinda e Camaragibe e termina não tendo para onde crescer. Isso repercute não só no preço dos imóveis como também dos alugueis", observa.
O economista Edgar Leonardo corrobora e complementa o raciocínio, reforçando que existe um contexto histórico no Grande Recife. "O preço dos alugueis é historicamente caro, principalmente em bairros já conhecidos pelo alto custo de locação do metro quadrado, com preços comparáveis a cidades com renda média superior. Usualmente, bairros com boa infraestrutura que já apresentando relativa saturação a exemplo de Pina, Boa Viagem, Parnamirirm, Espinheiro e outros. Tudo isso, associado ao fato de que muitos recifenses pretendem residir na proximidade do seu trabalho, essa relação entre oferta e demanda acaba elevando o valor médio dos aluguéis, em alguns bairros que atendem a essas expectativas", destaca.
Aumento dos preços dos aluguéis em 2021 (em %)
Curitiba - 14,17
Florianópolis - 11,59
Recife - 11,19
Fortaleza - 9,55
Belo Horizonte - 7,17
Salvador - 4,73
Brasília - 4,42
Goiânia - 4,01%
Porto Alegre - 0,27
Fonte: Índice FipeZap de Locação Residencial
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