Maio: cenário incerto para os clubes da Série B

Competições paralisadas devido à pandemia do novo coronavírus geram muitas incertezas para os clubes
Antonio Gabriel
Publicado em 03/05/2020 às 10:07
Futebol vive momento incerto devido à pandemia do novo coronavírus Foto: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM


Por Antônio Gabriel, da Rádio Jornal

A palavra “crise” se encaixa perfeitamente ao cenário atual do futebol em todo o país, com competições paralisadas, receitas comprometidas e um cenário de volta às atividades nebuloso. Enquanto os times das Séries C e D acertaram uma ajuda financeira junto a CBF e os clubes da Série A negociam cotas e receitas milionárias individualmente, as equipes da Série B estão diante de um mês de completa incerteza.

Desde que as competições foram paralisadas, na reta final do mês de março deste ano, todo o planejamento das equipes da Segundona para 2020 caiu por terra. Por mais que os gastos estejam previstos para todo o ano, as receitas mensais são as que sustentam as equipes e fazem as correntes de uma temporada serem movidas. Sem essas receitas, as contas não fecham e os clubes ficam sem sustentação.

“Nenhum dos clubes (têm condições de se sustentar). Ano passado ainda tinha o RB Bragantino que tinha essa capacidade financeira. Mas nesse ano pode até ter um ou outro com mais receita ou patrimônio, pois perda de patrocínios, por exemplo, todos terão. Porém, a capacidade de se manter mais do que 40 ou 50 dias eu acho que ninguém tem fluxo de caixa para isso”, disse Adalberto Baptista, presidente do Botafogo/SP e um dos líderes das equipes da Série B na Comissão Nacional de Clubes (CNC).

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O mês de abril mostrou um cenário nacional preocupante e duas consequências claras. Os números da pandemia do coronavírus continuam crescendo em todos os estados e cidades do país. Com isso, a primeira consequência cria uma expectativa de que as competições e atividades demorem ainda mais a voltar. Já a segunda apresentou uma realidade clara aos clubes: os gastos fixos mensais precisam ser diminuídos para que exista uma sustentação com receitas mínimas.

“Foi preciso negociar com os atletas, uma situação que ainda não posso falar pois não fechei com eles, mas estamos perto disso, reduzindo o custo operacional fixo. Eles estão no mesmo barco que a gente. Manter os contratos comerciais, dentro do possível, e manter o quadro de sócios também. Até agora a perda de sócios do Vitória não é muito grande, mas pode vir a crescer. Precisamos ficar vigilantes. O Vitória já vem de uma grande crise institucional e com um passivo de caixa. Cada mês sem competição você tira o atrativo de quem se associa e compra propriedades do clube, fazendo com que as despesas fixas sejam reduzidas violentamente. É o que estamos fazendo”, afirmou Paulo Carneiro, presidente do Vitória/BA.

E foi justamente pensando nisso que um acordo foi traçado, ainda em março, entre os clubes da Segundona a respeito das atitudes que seriam tomadas em meio a pandemia. Entre elas a redução salarial e as férias no mês de abril. Mesmo assim, algumas equipes não tomaram as atitudes sugeridas de imediato em confiança nas cotas de televisão da Série B. A primeira parcela chegou a ser paga, mas o restante segue em discussão entre a CBF e a Rede Globo, emissora que detém os direitos de transmissão da Série B. Os times da divisão acompanham as discussões, mas "pisam em ovos" em relação a um desfecho desconhecido.

“A estratégia do Brasil/RS passa muito pela confirmação ou não de uma possível redução das cotas de televisionamento por parte da CBF e Globo. A gente não tem confirmação disso, mas, se ocorrer de fato, obviamente que vamos ter que trabalhar com a redução salarial. Por enquanto, estamos com o planejamento para que sejam feitos os pagamentos no início do mês contando com o pagamento integral da cota originária de participação na Série B, mesmo que o campeonato não tenha iniciado ainda. Aqui a competição estadual parou em março, mas o pagamento da cota televisiva já tinha sido feito. Contávamos com o pagamento das cotas da Série B, que, ao que parece, vai sofrer uma redução. Por enquanto, estamos trabalhando ainda com a planilha cheia, mas vamos aguardar uma definição da CBF e Globo”, comentou Giovanni Alcântara, vice-presidente do Brasil de Pelotas/RS.

Ancorar-se numa receita é sempre um risco. Muitos enxergam os valores arrecadados mensalmente como complementares para a sustentação dos gastos. Nos últimos anos, algumas equipes do Brasil acordaram para a necessidade de um maior investimento nas campanhas de sócios, já que esta sim se trata de uma receita fixa. Só que a pandemia tem afetado a sociedade de maneira geral, refletindo no futebol. Os números de associados ativos têm despencado em todas as equipes. A receita que o torcedor destinava ao clube do coração começou a fazer falta em casa e isso compromete ainda mais a realidade dos clubes.

“Em maio começa a complicar. As cotas estão incertas, já perdemos alguns patrocinadores e a arrecadação de sócios teve uma queda grande. Estamos fazendo algumas ações de vantagens, descontos e até homenagens para os sócios que continuam contribuindo, mas sempre deixando bem claro que não queremos que os torcedores tirem uma receita de casa para contribuir com o clube. Por enquanto estamos em dia. Em maio já não sabemos como vai ser”, detalhou Hyago Cruz, presidente do Confiança/SE.

Por mais que o cenário futuro assuste por ser desconhecido, uma vez que o calendário programado pela CBF no início do ano pode sofrer alterações, algumas conclusões já estão sendo tomadas. Para os clubes, a crise em maior parte é financeira e agora, mais do que nunca, esse lado financeiro pode decidir campeonatos e traçar rumos de uma temporada.

“Eu sou empresário e o presidente (Edno Melo) também. Isso favorece muito. Precisamos fazer gestão financeira. A gente não pode achar que o que se arrecada no mês pode se gastar no mês. O que a gente precisa é fazer essa ginástica financeira. Guardar dinheiro. Às vezes você enche seu caixa e acha que tá bem, mas não tá. Lá na frente você arrecada pouco e precisa de uma gordura para queimar. Na nossa visão, só sobe para a Série A esse ano quem conseguir pagar. A gente nem acha que vai subir quem tiver o melhor elenco ou o elenco mais caro. Vai subir quem conseguir pagar”, contextualizou Diógenes Braga, vice-presidente executivo e de futebol do Náutico, durante live no canal do jornalista Jorge Nicola. A pandemia, junto com a paralisação do futebol, trouxe um furacão que muda por completo o cenário traçado por todos os clubes do Brasil. Não existem mais os favoritos nos campeonatos, muito menos aqueles que poderiam arriscar um vaga no topo da tabela ou entre os finalistas. Nunca o triunfo dentro das quatro linhas dependeu tanto do que acontece fora delas, até mesmo fora do dia a dia de treinamentos. Nunca dependeu tanto da mentalidade de quem comanda, gere e administra os clubes.

 

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