Pernambucana, a jornalista Fabíola Góis acompanhou a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, por apoiadores do presidente Donald Trump nessa quarta-feira (6). À Rádio Jornal, ela contou que a guarda nacional americana poderia ter impedido a invasão. "A guarda deveria ter evitado, foi uma falha absurda na segurança. Ouvi informações de que Trump teria impedido o acesso da guarda nacional e a polícia não deu conta de atuar para impedir a invasão. Foram cenas bizarras, alguns manifestantes estavam felizes, comemorando a invasão", comentou Fabíola.
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Mesmo com a manifestação contrária, o Congresso americano, em sessão conjunta comandada pelo vice-presidente e presidente do Senado, Mike Pence, certificou na madrugada desta quinta-feira (7), pelo horário de Washington, a vitória de Joe Biden e Kamala Harris como presidente e vice-presidente dos Estados Unidos.
A decisão valida os 306 votos dados ao democrata e os 232 concedidos a Trump no Colégio Eleitoral e sacramenta o processo de escolha do líder. Com a confirmação do resultado, não há mais nenhum obstáculo formal no caminho de Biden até a Casa Branca. A data da posse do novo presidente e de sua vice foi confirmada para o dia 20 de janeiro.
Para Fabíola Góis, Donald Trump não só incentivou as manifestações, como não se empenhou em enviar forças de segurança ao local. "Trump poderia pedir às forças militares que impedissem, ele tem capacidade. Se o presidente americano tivesse interesse que as pessoas saíssem, ele teria enviado reforço no policiamento, mas ele estava incentivando que as pessoas protestassem contra a vitória, ele quis ganhar no braço. Até os republicanos que defendiam a manifestação, mudaram o discurso durante a sessão e admitiram ter havido excesso, que foi um ataque à democracia e que não poderia ter ocorrido", afirmou a jornalista.
Fabíola ainda deu uma noção do clima no local. "Nós que estávamos fora, não tínhamos noção do tamanho dessa confusão. Cheguei por voltas das 15h, mas desde bem cedo já havia muitos manifestantes. Peguei um metrô em Washington, não pude descer na estação Capitólio e andei até o local. Muitos estavam com faixas, alguns bebendo, outros com roupas típicas americanas. A polícia estava na frente, mas eram poucos e o conflito começou às 17, quando a polícia jogou bombas de efeito moral e gás de pimenta. Vi um ou dois helicópteros, haviam alguns veículos da polícia, mas sem revistar ninguém, então foi uma cena complicada, alguns que conversei estavam felizes e comemorando a invasão, compartilhando fotos de papéis rasgados dentro do Capitólio".
Capitólio
A sessão que confirmou o resultado das eleições deveria ser um ato simbólico, mas passou longe disso. Na noite de quarta-feira, os trabalhos foram suspensos após extremistas pró-Trump invadirem o Capitólio para impedir a validação do resultado eleitoral. Quatro pessoas morreram e 52 foram presas em meio ao caos promovido pelos vândalos. Sem apresentar provas, apoiadores de Trump afirmam que as eleições presidenciais foram fraudadas. O fato foi lamentado por autoridades de diferentes campos ideológicos, que viram no episódio um ataque à democracia.
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Cerca de duas horas depois de as autoridades terem conseguido limpar o Capitólio e seus arredores, o presidente da sessão conjunta, o vice-presidente Mike Pence, autorizou a retomada dos trabalhos pelas duas Casas do Congresso, para a continuidade do processo de ratificação do resultado das eleições.
No trabalho legislativo, foram apresentadas duas objeções ao resultado das eleições na Pensilvânia e no Arizona, ambas apresentadas por aliados de Trump, mas acabaram sendo rejeitadas nas duas Casas. Sem nenhuma nova objeção, os parlamentares validaram o resultado apresentado por mais de dez Estados em um curto espaço de tempo, confirmando a vitória da chapa democrata.
Bolsonaro
Aliado de Donald Trump, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, não repudiou a invasão do Congresso dos Estados Unidos, repetiu o discurso do presidente americano e disse que "teve muita denúncia de fraude" na eleição do país.
Em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro foi indagado por uma apoiadora sobre se queria comentar as tensões na capital dos EUA. "Eu acompanhei tudo aí. Você sabe que eu sou ligado ao Trump. Então, você já sabe qual a minha resposta aqui", respondeu o presidente. "Agora, muita denúncia de fraude, muita denúncia de fraude. Eu falei isso há um tempo e a imprensa falou 'sem provas, o presidente Bolsonaro falou que teve, foi fraudada as eleições americanas", afirmou.
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Questionada sobre a postura do presidente brasileiro, a jornalista Fabíola Góis disse que Bolsonaro pode repetir a tensão criada por Trump, caso seja derrotado em 2022. "Bolsonaro pode repetir o que Trump fala, ele repete algumas ações do americano. Então, não me admira se o presidente brasileiro seguir a mesma linha. É bom que os órgãos fiquem atentos. Nos Estados Unidos, as instituições são solidas, vimos isso com o resultado confirmado mesmo após a invasão. Vamos ver como Bolsonaro se movimenta, talvez ele recue pois viu que não deu resultado esperado por Trump, mas não admira se ele fizer. Vamos ver o que acontece nesses dois anos", concluiu.