A Venezuela declarou persona non grata e expulsou a embaixadora da União Europeia em Caracas, a portuguesa Isabel Brilhante Pedrosa, dando 72 horas para que deixe o país após novas sanções do bloco contra funcionários venezuelanos, anunciou o chanceler Jorge Arreaza nesta quarta-feira (24).
"Hoje, por decisão do presidente Nicolás Maduro, entregamos nas mãos da senhora Isabel Brilhante (...) a declaração como persona non grata", disse Arreaza à imprensa após uma reunião com a diplomata em Caracas.
"Foi dado um prazo de 72 horas para abandonar o território venezuelano", acrescentou.
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Após o anúncio, Maduro afirmou nesta quarta que a Venezuela quer "ter as melhores relações com toda a Europa", mas destacou que Caracas não pode aceitar as sanções contra altos funcionários venezuelanos.
"Nós não queríamos fazer isso, o fazemos contra a nossa vontade, inclusive porque nós queremos ter as melhores relações com toda a Europa", disse Maduro em ato televisionado. "Mas não podemos aceitar que ninguém venha agredir a Venezuela, a sancionar a Venezuela".
"Ou os senhores retificam ou com os senhores não há nunca mais nenhum trato, de nenhum tipo, nenhum tipo de diálogo, senhores da União Europeia, para que saibam que a Venezuela tem dignidade", alertou.
O governo de Maduro respondeu assim às sanções contra 19 funcionários, incluindo Remigio Ceballos, um dos principais líderes militares da Venezuela; Indira Alfonzo, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE); e dois congressistas.
Pouco depois, Arreaza entregou cartas de protesto ao embaixador da França em Caracas, Romain Nadal, e a representantes da Alemanha, Espanha e Holanda, pedindo aos seus governos para "reavaliar" sua posição em relação à Venezuela.
"Como hoje dissemos adeus em português porque a senhora Brilhante é portuguesa de origem, não queremos ter que dizer adiós, auf wiedersehen ou au revoir", disse o chanceler.
Os 19 funcionários venezuelanos foram acusados de prejudicar a democracia após as eleições parlamentares de 6 de dezembro, boicotadas e denunciadas como fraude pelos maiores partidos políticos opositores.
As votações, não reconhecidas por Estados Unidos, União Europeia e vários países da América Latina, deram ao partido do governo e seus aliados 256 das 277 cadeiras do Parlamento, dando a Maduro o controle do único poder que estava nas mãos de seus adversários.
Na terça-feira, o novo Parlamento pediu a Maduro a expulsão de Brilhante, que ocupava o cargo de embaixadora da União Europeia desde outubro de 2017. Além disso, também pediu para revisar o acordo de funcionamento do escritório do bloco em Caracas.
A União Europeia, que havia pedido, sem sucesso, o adiamento dessas eleições visando buscar condições que garantissem a participação da oposição, pediu nesta quarta-feira ao governo de Maduro para reverter a expulsão de Brilhante Pedrosa, que ocupava o cargo de embaixadora da UE em Caracas desde outubro de 2017.
"A UE lamenta profundamente esta decisão, que só levará a um maior isolamento internacional da Venezuela. Pedimos que esta decisão seja revertida", disse a porta-voz Nabila Nasrali.
Ela acrescentou que a Venezuela "só vai superar a atual crise mediante negociação e diálogo, com o qual a UE está sempre comprometida, mas a quem esta decisão afeta diretamente".
Em 29 de julho, após outro pacote de sanções, Maduro declarou Brilhante como persona non grata e também lhe deu 72 horas para deixar a Venezuela. No entanto, quando esse prazo expirou, o governo socialista recuou após negociações com o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
A Venezuela se tornou o primeiro país latino-americano a ser sancionado pela UE em 2017, que desde então aprovou medidas contra 55 funcionários venezuelanos, que incluem a proibição de viajar para o seu território e o congelamento de bens.
Arreaza chamou as medidas de "ilegais": "É realmente inaceitável".
"Espero que haja uma reflexão na União Europeia, espero possamos reconstruir as pontes de entendimento, de diálogo, espero que aprendam a respeitar", insistiu o chanceler venezuelano.
O governo chavista também enfrenta sanções pesadas dos Estados Unidos, incluindo um embargo do petróleo, que tem como intuito a queda de Maduro.
Washington é o principal apoiador do líder oposicionista Juan Guaidó, reconhecendo-o, assim como fazem outros cinquenta governos, como o presidente interino do país, embora o Conselho Europeu nunca lhe tenha concedido esse título.
"A arrogância do ditador diante do fracasso da fraude o isola mais do mundo e ele tenta arrastar o país com ele", escreveu Guaidó no Twitter.
James Story, embaixador dos Estados Unidos na Venezuela, mas com base em Bogotá, observou que "as decisões soberanas de não fazer negócios com aqueles que cometem abusos de direitos humanos ou minam as instituições democráticas continuam sendo uma ferramenta importante para restaurar a democracia".
"O regime está se isolando cada vez mais", continuou. "Lamentamos que a embaixadora da UE, Isabel Brilhante Pedrosa, esteja entre as quase 6 milhões de pessoas expulsas da Venezuela pelo regime", criticou Story, em referência à onda migratória de venezuelanos que fogem da crise política e econômica em seu país.