Opinião

ARTIGO DE ROBERTO PEREIRA: "Comunicação e telegramas geniais"

Penso que na sequência, a carta, o telegrama, o telégrafo e o código Morse, o fax, o e-mail e, agora, celulares, em especial os WhatsApps

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ROBERTO PEREIRA

Publicado em 27/07/2024 às 16:27
O telegrama criou uma linguagem enxuta, até por economia do valor a ser pago - Pixabay

Antes, a carta era o instrumento de comunicação entre as pessoas, apesar da demora, em priscas eras, para chegar aos destinatários, mas sempre um instrumento eficaz de entendimento e de estreitamento entre os povos. Depois, penso que na sequência, o telegrama, o telégrafo e o código Morse, o fax, o e-mail e, agora, celulares, em especial os WhatsApps e quanto mais possa aparecer neste inimaginável e admirável mundo novo colocado velozmente à nossa frente.

A carta de Pero Vaz de Caminha é o primeiro texto sobre o Brasil. Não tem intenção artística, mas é muito expressiva, por registrar as condições de vida dos primeiros colonizadores e habitantes da terra descoberta. Ela não só adensa e condensa as características dessa terra, como mostra a visão de mundo dos portugueses, apresentando a cultura dos índios num contraponto à dos europeus.

O telegrama criou uma linguagem enxuta, até por economia do valor a ser pago. Segundo Jô Soares, eis o modelo. “viagem boa. Nós bem. Tempo maravilha. Beijosfulano”. O “beijosfulano”, numa palavra só, é um expediente para economizar no custo do telegrama.

Emílio de Menezes, que ficou conhecido na nossa língua como um dos grandes humoristas, quando da morte de uma pessoa amiga, conhecida pela alcunha de enxada, passou, quando da morte dela, um telegrama cifrado para Machado de Assis, dizendo: “Machado, enxada foi-se.”

O grande escritor Francisco Bandeira de Mello, o nosso Bandeirinha, quando o poeta embaixador João Cabral de Melo Neto recebeu, na Espanha, o prêmio Rainha Sofia de poesia Ibero-americana, atribuído pelo Patrimônio Nacional da Espanha e pela Universidade de Salamanca, enviou ao autor de Morte e Vida Severina o telegrama mais curto de que se tem notícia: “João: Olé. Bandeira.”

Em Pernambuco, um governador, preocupado com o problema da seca, reuniu os prefeitos do Sertão, debateu o assunto que historicamente nos angustia, e pediu aos prefeitos que sempre dessem notícias sobre as condições climáticas de sua cidade. Para espanto desse alto mandatário pernambucano, era contemplado diariamente, por um mesmo burgomestre, com o seguinte telegrama: “Governador, chuvas? Nenhuma. Prefeito Fulano de Tal” (SIC).

“Chegarei de surpresa dia 15, às duas da tarde, voo 619 da Varig…”. Mengálvio (ex-meia do Santos, em telegrama mandado à família, quando em excursão à Europa). Uma surpresa, portanto, com dia e hora marcados.

O meu pai, escritor Nilo Pereira, ao ser distinguido pela Academia Brasileira de Letras, por seu conjunto de obras, com o prêmio Machado de Assis, foi agraciado com um outro laurel: um telegrama de Luís da Câmara Cascudo, com a seguinte mensagem: “Nilo, larim, toré, babá. Cascudo.” A expressão, da combinação segredada entre os dois, significa, pelo que se sabe, alegria, e era a forma como eles se cumprimentavam para expressar o contentamento a cada reencontro ou diante de uma vitória de um ou do outro. Expressão que, com o encantamento do folclorista Cascudo, passou a ser usada nas missivas e nos reencontros entre o meu pai e o insigne homem público Marcos Vilaça, e, hoje, nos e-mails trocados, modernamente, entre mim e o escritor universal de Limoeiro.

Quando assumi o cargo de secretário de Educação e Cultura de Pernambuco, recebi inúmeros cartões e telegramas de parabéns e de votos de êxito diante da honrosa missão. Entre os telegramas, este do ex-governador e ex-ministro Gustavo Krause: “Sua carreira de educador, herança recebida do querido Nilo e tão bem cuidada, tem agora mais um espaço de afirmação. Como conhecedor de sua competência, fico satisfeito, como cidadão pernambucano, esperançoso.”

O telegrama de GK, genial por seu texto e pela magia do seu magnetismo, muito fortaleceu o meu espírito diante da missão que se iniciava naquele momento marcante de minha vida de educador, de idealista do verbo servir, do servir, sem se servir, à causa pública, em particular à educação do meu Estado. Os telegramas, apesar de sintéticos, tinham essa força, a de animar ou confortar os passos de quem os recebe, tarefa hoje entregue aos WhatsApps, popularmente, aos ZAPs.

Para terminar, faço mais este relato que considero instigante: Quando da eleição malograda do ex-governador de Pernambuco Cid Sampaio ao Senado Federal, o escritor Maviael Pontes enviou ao ilustre político a seguinte mensagem telegráfica: “Dr. Cid: Parabéns eleição senador federal. Perdeu, mas poderia ter vencido.” Venceu o gesto!

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.

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