Matéria atualizada às 17h53
Com o lockdown válido desde o último sábado (16) em cinco cidades da Região Metropolitana do Recife, Pernambuco vive a expectativa de diminuir a circulação de pessoas e, consequentemente, do novo coronavírus no Grande Recife, tendo impacto direto nas curvas de contágios e óbitos pela covid-19. Dados divulgados pelo Gabinete de Enfrentamento à Covid-19 do Governo de Pernambuco, porém, indicam que as taxas de isolamento, de fato, aumentaram, mas ainda não chegaram ao número ideal, de 70%, e fica ainda mais longe disso em dias úteis. Por exemplo, a região que agora está em lockdown registrou 49,75% de isolamento social na segunda (11) e terça-feira (12) da semana passada, quando as medidas mais rígidas ainda não haviam sido aplicadas. Nos mesmos dois dias úteis desta semana, já com as medidas implantadas, a média de isolamento da segunda (18) e terça (19), subiu para 52,8%.
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"Considerando a experiência internacional, que a gente já teve com os países que fecharam (aderiram ao lockdown) e os que não fecharam, todos os que fecharam tiveram, após se isolar de verdade, conseguiram resolver. Como Portugal, Espanha, Itália, que agora estão retomando, aos poucos, a vida normal", pontuou Jones Albuquerque, pesquisador do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (Lika-UFPE) e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
"Deveria apertar ainda mais (o lockdown) se as duas semanas não forem suficientes. Essas duas semanas foram sabiamente definidas, corretíssimo, qualquer lugar do mundo faria a mesma coisa. O problema é o nosso povo, a gente é assim. Ou a gente cria a cultura mesmo de se isolar ou a gente vai pagar esse preço alto, mesmo com todas as diretrizes. Tem que desmistificar isso. Ficar longe não é um problema", acrescentou Jones.
Jones Albuquerque fez uma comparação entre Pernambuco e a Índia, país populoso, com forte cultura de proximidade entre as pessoas, e que está conseguindo controlar o coronavírus com mais sucesso, segundo ele.
“A Índia resolveu isso muito bem (a questão do isolamento). Um país que tem 1,3 bilhão de pessoas registrou 3.400 mortes, enquanto Pernambuco, com 9,2 milhões de habitantes, já tem 1.834 mortes. Pode até haver subnotificação na Índia, mas ainda assim são seis vezes maiores que nós e Pernambuco está se encaminhando para o número de óbitos da Índia. Eles são mais pobres e mais amontoados que a gente, então como eles resolveram? Resolveram com medidas drásticas, que a gente não tem cultura para receber. Como resolve isso? Tem que mudar a nossa cultura em muito pouco tempo. Enquanto isso for necessário, precisamos de medidas drásticas e elas vão acontecer se essas duas semanas não forem suficientes”, disse.
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Durante fim de semana dos dias 9 e 10 de maio, que antecedeu a implementação do lockdown no Recife, em Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e São Lourenço da Mata, foi registrado em média 50,25% de taxa de isolamento, enquanto no fim de semana com lockdown, sábado (16) e domingo (17), este número chegou a 61,95%. Analisando o período completo, do sábado (9) até a terça-feira (12), o Grande Recife chegou a 50% de isolamento social, sem a quarentena rígida. Com o lockdown, entre o sábado (16) e a terça-feira (19), a taxa subiu para 57,37%.
"Nos fins de semana, naturalmente, ela (a taxa de isolamento) tende a ser mais alta do que nos dias úteis. A orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde) é que tenha pelo menos 70% e nenhuma cidade conseguiu até agora, o que é um desafio. O que a gente está esperando é que, infelizmente, o lockdown em Pernambuco, no Maranhão, Piauí, vai ficar muito aquém do praticado na Europa. A expectativa do lockdown é uma redução nas curvas de contágio e mortalidade. Com lockdown brasileiro, que é ‘café com leite’, a gente pode esperar uma redução menor nas taxas de contágio e mortalidade. Se a gente imagina que o lockdown salva vidas mais na frente, o que vai acontecer é que a gente vai salvar menos vidas”, explicou o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Dalson Figueiredo. Ele coordena o grupo de Métodos de Pesquisa em Ciência Política e integra o Observatório de Coronavírus da UFPE, que reúne vários departamentos da universidade trabalhando de forma integrada. O Observatório produziu, inclusive, um relatório técnico com a estimativa de quantas pessoas podem ser salvas em Pernambuco com a aplicação do lockdown.
“Lockdown é igual a academia, não vai ter efeito no dia seguinte. Demora, só vem com o tempo. E precisa mostrar isso para a população para evitar um efeito manada. As pessoas não veem o resultado imediato, acham que não está resolvendo, e começam a sair na rua”, acrescentou Dalson.
Os dados detalhados, dia por dia, fornecidos pela empresa InLoco mostram que: no sábado (9), antes da implantação da Operação Quarentena, a taxa de isolamento chegou a 48,1% nas cinco cidades, a 52,4% no domingo (10), 49,4% na segunda-feira (11) e 50,1% na terça (12). Depois da implementação, os números subiram para 60,1% no sábado (16), 63,8% no domingo (17), 53,5% na segunda (18) e 52,1% na terça (19).
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“Nos resta só ficar em casa, como Portugal, Itália e Espanha fizeram. As pessoas ficaram em casa, se trancaram, mesmo. Cidades como Barcelona, que não entrou em colapso, todo mundo trancou-se e resolveu. Agora está todo mundo saindo. A gente, a América Latina, tem um desafio gigantesco. Além de toda a questão política, temos a questão cultural. Se nosso presidente estivesse alinhado com essas políticas, acho que a gente também não conseguiria. A gente acha que está sendo oprimido quando nos mandam ficar em casa, mas estamos tentando salvar vidas”, destacou Jones Albuquerque.
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Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.