Em Pernambuco, após meses em casa se adaptando ao formato de ensino à distância, alunos do ensino infantil e fundamental vão começar a retornar às aulas presenciais nas escolas privadas a partir do dia 10 de novembro. Os que estudam do 6º ao 9º voltam já nesta primeira etapa, enquanto os do 1º ao 5º ano retornam a partir de 17 de novembro, seguindo cronograma definido pelo governo do Estado. Já o ensino infantil, será no dia 24. Apesar da notícia representar algo positivo para muitos, o fato de ter que enviar os filhos de volta aos colégios, ao mesmo tempo em que os casos da covid-19 voltam a subir no Estado, preocupa muitos pais e responsáveis. Tendo isso em vista, quais as precauções devem ser tomadas nesta retomada para preparação das crianças? A reportagem do JC conversou com especialistas de saúde infantil para elucidar tais questões.
De acordo com estudo conduzido pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) ,em parceria com a Federação das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o isolamento social gerou alterações no comportamento de 88% das crianças brasileiras. Sintomas como oscilações de humor, ansiedade, irritabilidade, depressão, tristeza, agressividade e aumento de apetite. Deste modo, o retorno gradual às atividades do dia a dia, como idas ao parque, praia e até mesmo à escola, seria um fator importante para a saúde mental das crianças neste período difícil.
No entanto, esta retomada ao ambiente escolar, expondo a criança ao convívio social, pode representar alguns perigos.
“Uma criança que está há quase seis meses sem contato regular com o ambiente externo e o convívio social reduziu o seu contato com agentes, como bactérias, por exemplo, que movimentam a defesa natural do sistema imunológico4. Por isso, o retorno a essas atividades pode ser uma porta de entrada para cargas virais”, indica o pediatra Marcello Pedreira, Coordenador do Núcleo de Especialidades Pediátricas no Hospital Sírio-Libanês.
Febre, coriza e diarreia são sintomas de quadros virais mais comuns relatos por pais e responsáveis após o contágio por doenças como o rotavírus, segundo o Ministério da Saúde (MS). Segundo a médica pediatra Célia Dantas, é importante que os pais realizem uma preparação para a retomada.
"É necessário falar abertamente sobre o vírus para que eles tenham uma compreensão sobre a pandemia. A grande maioria das crianças tem o privilégio da infecção leve ou é assintomática, mas existe a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), que é associada ao coronavírus. É preciso ter cuidado", explicou a pediatra.
Ao todo, Pernambuco totaliza 24 ocorrências da Síndrome. Dessas, 23 tiveram resultado positivo para covid-19 e 1 teve contato comprovado com pessoas confirmadas para o novo coronavírus. Primeiros casos de SIM-P em Pernambuco foram divulgados em agosto. Até o momento, 13 casos são do sexo masculino e 11 do sexo feminino, com idades entre 1 e 14 anos.
Durante a quarentena, muitas famílias acabaram adotando novos hábitos de alimentação, que, por sua vez, podem resultar em alterações na saúde das crianças. O consumo excessivo de alimentos processados, por exemplo, pode acarretar na deficiência de nutrientes e no enfraquecimento do sistema de defesa, deixando a criança mais vulnerável a diarreias e infecções. Por conta disso, o reforço do sistema imunológico por meio da alimentação deve ser garantido neste período.
"As crianças precisam ter uma alimentação adequada neste período para reforçar o sistema imunológico, então é interessante que elas comam frutas, verduras e carnes, pois são alimentos que as fortalecem bem", indicou a médica Célia Dantas. A pediatra deu orientações de como as crianças devem se comportar nas instituições de ensino, que podem ser conferidas no fim da matéria.
Mãe da pequena Luiza Mel Soares, de 7 anos, e de Arthur Rei Soares, de 14 anos, a fisioterapeuta Andréa Karla Soares, de 46 anos, moradora de Olinda, no Grande Recife, acredita que a falta de perspectiva do fim da pandemia é um fator importante para o retorno das aulas presenciais.
"Meus filhos não podem passar dois ou três anos com aulas remotas esperando a vacina. O novo normal vai ter que existir e estou preparando meus filhos para isso. Quando soubemos do retorno das aulas nos reunimos e conversamos sobre essa volta, levando em consideração que esse mês é um período de adaptação para eles perceberem como provavelmente será o ano que vem", contou a fisioterapeuta.
A fisioterapeuta também explicou à reportagem do JC que desde o início da pandemia tem orientado os filhos sobre os cuidados da doença, inclusive para a filha, que mesmo pequena consegue entender os perigos da doença e seguir as recomendações da mãe. Luiza Mel cursa o 1º ano, enquanto Arthur Rei estuda no 9º ano.
"Estamos temerosos com uma possível segunda onda da pandemia mais forte, mas percebo que a minha filha mais nova, por exemplo, consegue obedecer as orientações que são repassadas. Por isso, me sinto mais segura", desabafou.
A segurança dos pais ao mandarem as crianças para escola é um fator muito importante para a psicóloga Karla Tabosa. De acordo com ela, os pais devem estar alinhados com a escola para se sentirem seguros e, consequentemente, passarem segurança para os filhos.
"Os pais devem ir nas escolas para visualizarem o ambiente, tirarem suas dúvidas e conversarem para saberem o que as crianças irão encontrar ao retornarem. Eles estando seguros e tranquilos vão estar passando isso para os filhos também", disse.
É preciso ter em mente que ao retornarem as aulas as crianças não encontrarão a escola que deixaram antes da pandemia. E, apesar de não saber exatamente como será o comportamento nas unidades de ensino, é esperado que as crianças maiores consigam levar o dia a dia nas salas de aula com mais facilidade do que as menores. Para a psicóloga, após um longo período de isolamento, o retorno das atividades devem ser benéficas para esses alunos. "Elas irão poder socializar e interagir com outras crianças. Vão poder sair de casa, correr de uma forma mais livre", o que poderá fazer bem a elas.