Obra de arte de Brennand é furtada do Parque das Esculturas, no Recife

O Parque é um dos principais pontos turísticos da capital pernambucana e abriga mais de 90 obras do artista
Bruna Oliveira
Publicado em 04/12/2020 às 13:55
Serpente foi roubada do Parque das Esculturas Foto: REPRODUÇÃO/INSTAGRAM


Matéria em atualização

O cenário de abandono no Parque das Esculturas Francisco Brennand, denunciado pelo JC em setembro deste ano, resultou em mais consequências: algumas obras do renomado artista plástico pernambucano, que compõem o parque, localizado no Recife, foram furtadas na última segunda-feira (30). De acordo com a Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer (Seturel) do município, a Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco foi acionada para apurar os fatos. Localizado próximo ao Marco Zero, no Centro do Recife, o Parque é um dos principais pontos turísticos da capital pernambucana e fará, no próximo dia 29 de dezembro, 20 anos que foi inaugurado. Coincidentemente, também em dezembro, no dia 19, fará um ano que Francisco Brennad faleceu.

Nesta sexta-feira (4), a equipe do JC esteve no local e constatou que a enorme serpente de bronze, obra de Brennand, de 20 metros, teve suas partes retiradas. Além disso, um pelicano também foi levado do Parque. A Delegacia de Boa Viagem está investigando a investida.

No dia do crime, a advogada Priscila Bernardo, de 30 anos, estava no Marco Zero, próximo ao Parque, acompanhada por alguns amigos, por volta das 19h, quando ouviu barulhos vindo do local. “Começamos a ouvir batidas e perguntamos aos barqueiros o que era [o barulho], então eles disseram ‘que era o povo levando a cobra, que é de cobre, que o povo vai até lá para roubar’, explicou a advogada.

Segundo ela, os barqueiros começaram a gritar para espantar os suspeitos, mas, no entanto, não obtiveram sucesso e as batidas continuaram a ser ouvidas. Como o passeio do grupo atrasou, Priscila pôde continuar acompanhando a situação e percebeu que, cerca de 20 minutos depois, uma viatura chegou até o início do Parque, de onde os suspeitos saíram correndo no sentido das pedras.

“Eles deram um tempo e voltaram e continuaram a bater. Voltamos do passeio e eles estavam lá batendo ainda”, comentou Priscila. Ela afirmou, ainda, que na ocasião seu namorado sofreu um acidente e precisou ser socorrido. Com isso, policiais da Companhia Independente de Apoio ao Turista (CIATur), da Polícia Militar, chegaram para prestar ajuda ao homem.

“A gente até comentou o fato dos furtos com os policiais e eles disseram que ouviram e passaram o rádio para a Delegacia de Boa Viagem, que era jurisdição deles e que chegou uma viatura, até o começo, mas como não encontrou ninguém foi embora”, declarou.


Procurada pela reportagem para esclarecer o caso, a Polícia Militar de Pernambuco enviou uma nota da SDS, que afirmou que "a PMPE apoia as ações da Guarda Municipal do Recife na segurança do Parque das Esculturas" e que "em todos os turnos, o local é patrulhado por viaturas e motos tanto do 19º Batalhão como de Grupo de Apoio Tático Itinerante (GATI)". 

Além disso, a nota diz ainda que "abordagens são feitas com frequência, especialmente à noite" e que "nas últimas semanas, pessoas suspeitas de furtos e vandalismo foram detidas". "Outras pessoas foram abordadas pela PMPE logo após o ocorrido, mas a escultura ainda não foi localizada, disse trecho da nota.

Apesar de absurdo, o recente furto é apenas um dos problemas enfrentados pelo Parque, que foi inaugurado como comemoração dos 500 anos de descobrimento do Brasil e abriga mais de 90 obras do artista plástico Francisco Brennand, incluindo a Coluna de Cristal, de 32 metros de altura, símbolo da capital pernambucana. "No momento do furto eu e meus amigos até comentamos sobre a situação precária de iluminação no Parque das Esculturas, que só propicia o que aconteceu", declarou a advogada. No último dia 5 de novembro, um homem foi encontrado morto no local, com marcas de tiros.

Problemas

Visitado pelo JC nesta sexta, o cenário encontrado no Parque das Esculturas não foi muito diferente do que foi visto em setembro: o local acumula diversos problemas causados pela falta de manutenção. Entre eles, o piso cheio de buracos e fios expostos, que dificultam a locomoção no espaço, o mau cheiro, as estruturas enferrujadas e vandalizadas, além de obras degradadas.

Para o aposentado João Lira, de 58 anos, a vista que o local proporciona é linda, no entanto, a falta de preservação deixa a desejar. "A preservação é horrível. Furtaram os fios, levaram tudo, [o lugar] tá abandonada há muito tempo", desabafou. Sobre o furto das recentes obras, o aposentado afirmou que é "falta de consciência do povo que não tem noção do bem que tem e mal que está fazendo".

Indignação

A Oficina Cerâmica Francisco Brennand, criada pelo artista plástico, se pronunciou sobre o caso por meio de uma nota enviada à impressa e publicada nas redes sociais. No texto, o instituto afirma ter tomado conhecimento "com profunda indignação".

"É com profunda indignação, mais uma vez, que o Instituto Oficina Cerâmica Francisco Brennand tomou conhecimento de novo ato de vandalismo ao Parque das Esculturas Francisco Brennand, dessa vez o inconcebível furto de conjunto único de esculturas doadas pelo artista Francisco Brennand", diz o texto.

O instituto também ressaltou que, desde a sua inauguração, o local tem enfrentado diversos problemas com relação à segurança e que isso ocorre por falta de "zelo e manutenção do poder pública. Confira a nota na íntegra:

"É com profunda indignação, mais uma vez, que o Instituto Oficina Cerâmica Francisco Brennand tomou conhecimento de novo ato de vandalismo ao Parque das Esculturas Francisco Brennand, dessa vez o inconcebível furto de conjunto único de esculturas doadas pelo artista Francisco Brennand.

Projetado pelo artista a pedido da Prefeitura do Recife no marco dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil, o Parque das Esculturas Francisco Brennand foi inaugurado em 2000 - com mais de 90 obras - tornando-se um dos mais visitados pontos turísticos da cidade.

Desde sua inauguração, o espaço sofre recorrentemente com ações de vandalismo e depredações pela falta de zelo e manutenção do poder público, transformando o que seria um cartão postal da cidade em um lugar de abandono e insegurança.

O descaso com um patrimônio dessa dimensão, símbolo de uma cidade e situado no seu marco zero, é uma ofensa à população de Recife e um sintoma da incapacidade do poder público de zelar pelo bem comum.

É imprescindível que as autoridades públicas competentes tomem as devidas providências para recuperar o conjunto de esculturas, que as obras sejam refeitas e reinstaladas, e as melhorias na conservação e na segurança do espaço sejam implementadas de forma permanente.

Esperamos que tais medidas sejam tomadas em caráter de urgência, a população de Recife não merece tamanho desrespeito com um dos seus principais patrimônios artísticos e culturais."

Secretaria de Turismo afirma que o local recebe várias manutenções

Em nota enviada pela Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer ao JC, o órgão afirmou o local foi requalificado em 2013 e, ao longo desse tempo, tem recebido várias manutenções, mas que, no entanto, sofre com ações de vandalismo. Veja o texto na íntegra:

"A Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer (Seturel) informa que já fez o levantamento das obras que foram furtadas do Parque das Esculturas e já acionou a Secretaria de Defesa Social para que os fatos sejam apurados e a segurança do Parque reforçada.

A Seturel e a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) esclarecem que o Parque das Esculturas foi completamente requalificado em 2013 e, ao longo desse tempo, foram realizadas diversas manutenções tanto na estrutura do equipamento quanto nas obras. Foi feita a melhoria do molhe além de reparos em todas as obras de cerâmica do parque. A iluminação do parque foi alvo de investimento recente da Prefeitura do Recife, sendo concluída a instalação de luminárias LED no último dia 9 de novembro e de ações para evitar o furto das fiações. A limpeza do local é feita diariamente.

No entanto, este importante atrativo é constantemente alvo de vandalismo. Somente para recuperar monumentos, pontes e edificações públicas que sofreram ações de pichação e vandalismo a Prefeitura chega a gastar aproximadamente R$ 2 milhões por ano. Com relação às novas denúncias, uma equipe irá ao local para analisar os reparos imediatos necessários.

A Guarda Civil Municipal do Recife monitora o Parque das Esculturas via câmera instalada no Marco Zero e da Ronda do Turismo, que pode ser acionada em caso de necessidade, bem como trabalha em parceria com a Polícia Militar."

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