Era 8 de setembro de 1845 e a pedra fundamental de uma das construções mais imponentes do Centro do Recife era lançada, na presença de autoridades locais, como o presidente da então Província de Pernambuco, Antônio Pinto Chichorro da Gama. Ao todo, foram quase 20 anos entre projeto e construção da Igreja Matriz de São José, localizada no bairro que leva o mesmo nome. Mas foi necessário um tempo muito mais curto para que ela se deteriorasse e caísse no abandono. Interditada há sete anos por oferecer riscos, o templo está há um mês em obras de requalificação para reformar toda a cobertura. O processo deve levar 18 meses, mas ainda não há perspectiva de quando a igreja voltará a receber fiéis.
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A interdição aconteceu em 2013, quando o teto cedeu, em decorrência de uma infestação de cupins. A brecha no forro abriu espaço para outros problemas, como infiltrações. O Jornal do Commercio esteve no local em 2017 e a situação do templo era crítica. De um dos buracos, o mato crescia, evidenciando a falta de manutenção. Naquele mesmo ano, o tombamento da igreja foi aprovado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Estado de Pernambuco, passando a vigorar em 13 de junho de 2018, por meio do Decreto n° 46.149.
O reconhecimento da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) devolveu a esperança ao templo. Na época, o padre José Augusto Esteves, pároco da matriz, já havia tentado recursos junto a uma instituição católica na Alemanha por mais de uma vez, sem sucesso. Segundo ele, os custos eram estimados em R$ 1 milhão apenas para a parte emergencial. Havia a promessa de recuperação a partir de medidas mitigadoras do Projeto Novo Recife desde 2015, mas as obras no Cais José Estelita haviam sido interrompidas após impasses judiciais. Foi com o sinal verde para construção das torres que a questão avançou. Assim, é o Consórcio quem está financiando as intervenções, que não tiveram valor detalhado.
O projeto foi elaborado pela empresa Lopes e Valadares Arquitetura e Patrimônio e encaminhado à Fundarpe para análise e parecer pela Arquidiocese de Olinda e Recife, proprietária do bem. Ele foi aprovado por meio do Parecer Técnico GGPPC n° 014/2019, em 15 de março de 2019. A intervenção compreende o restauro da estrutura da coberta (madeiramento e telhas), que tem mais de 700 metros quadrados, além do piso do andar superior, uma espécie de mezanino. “Além do levantamento foi realizado o diagnóstico do estado de conservação incluindo mapeamento de danos. Por meio do mapeamento foi possível prever o quantitativo de substituição do madeiramento que estava comprometido, propondo assim o resgate das características originais da coberta da Matriz e possibilitando a execução da obra para sua retomada de uso”, explicou Raphaela Rezende, arquiteta da Fundarpe. Segundo ela, as intervenções estão sendo executadas pelo Instituto para o Desenvolvimento Humano (IDH) e fiscalizadas pela Fundarpe.
A importância da igreja para o bairro foi destacada na declaração de significância escrita pelo historiador Breno Albuquerque, em 2011. “A Igreja Matriz de São José destaca-se na paisagem do bairro com a presença imponente das suas torres sineiras e durante todo o século 20 foi referência religiosa com realizações cotidianas de suas celebrações. Por estes elementos agrega-se ao monumento o valor histórico, arquitetônico, artístico, simbólico e paisagístico que justificam sua preservação para as gerações presentes e futuras”, diz o parecer, que serviu como base para o tombamento. Entre as obras de valor da igreja, está um mosaico de Francisco de Brennand, localizado na fachada.
O início das obras foi comemorado pela Igreja. “A reforma estava sendo aguardada com muito carinho, vista a importância da Matriz de São José para a cidade do Recife, não só no âmbito religioso, mas cultural e patrimonial. Quando recebemos a notícia de que a reforma iria começar, foi motivo de muita alegria”, disse o padre César Figueiroa de Arruda, vice-chanceler da Arquidiocese de Olinda e Recife. Mas ainda é cedo para pensar em reabrir o templo. “Essa reforma atende o telhado, mas outros problemas precisam ser sanados depois que essa parte emergencial ficar pronta. Com esse tempo todo praticamente a céu aberto, muitos problemas de infiltração aconteceram. As paredes sofreram muito. A parte elétrica também precisa ser refeita. Não é uma obra pequena”, pontua.
Enquanto a igreja não volta a funcionar, as missas são realizadas provisoriamente na Capela da Santíssima Trindade, localizada na Avenida Dantas Barreto, também no bairro de São José.