PATRIMÔNIO

Veja o que daria para ser construído no Recife com valor gasto para recuperar obras vandalizadas

Anualmente, são investidos R$ 2 milhões apenas para consertos referentes a depredação e pichações da cidade

Cadastrado por

JC

Publicado em 22/02/2021 às 11:02 | Atualizado em 22/02/2021 às 18:32
Menos de 20 dias após a inauguração, a estátua do Rei do Brega, Reginaldo Rossi, localizada no Pátio de Santa Cruz, no centro do Recife, foi encontrada pichada - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

atualizada às 18h31

Todos os anos, é retirado dos cofres públicos municipais um gasto milionário para preservar o que não precisaria, nem tão cedo, de reparos. Segundo a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), são investidos R$ 2 milhões por ano apenas para consertos referentes a depredação e pichações na cidade. Com o valor, seria possível construir duas creches ou duas Upinhas.

A soma do desrespeito pela cultura com ineficazes ações de fiscalização faz com que rotineiramente sejam vistos estátuas e monumentos históricos sendo vandalizados na capital pernambucana. Nesse domingo (21), foi a vez da homenagem ao Rei do Brega, Reginaldo Rossi, localizada no Pátio de Santa Cruz, no centro do Recife, ser pichada; apenas vinte dias após sua inauguração.

Rossi está eternizado na cidade sentado em um banco e debruçado em uma mesa de bar. O artista foi esculpido junto com um microfone, uma rosa, um papel e uma bandeja com um copo de cerveja e com uma garrafa, que foi pichada.

A Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) informou, por nota, enviou uma equipe na manhã desta segunda-feira (22) para realizar a limpeza da obra.

A equipe retirou toda a tinta usada - MARCOS PASTICH/PCR

A dona de casa Kyrteis Falcão e a irmã Kátia, foram até o local para tirar uma foto com o cantor e compositor e encontraram o equipamento depredado. "Reginaldo Rossi é uma preciosidade da nossa cultura. Nossos pais foram professores dele na infância e nós chegamos a conhecê-lo na juventude. É uma bela homenagem, mas ao mesmo tempo triste que esteja nessa situação. Além de manchar o patrimônio, também é uma mancha na imagem do artista que ele foi. É realmente lamentável."

O vendedor Jó Arcanjo também lamentou a situação. "São pessoas sem educação. Cabe ao poder público também cuidar dessa memória de alguém que foi tão importante. Não basta apenas inaugurar, mas manter a manutenção em dia. E isso vale para outros locais da cidade, como o Marco Zero", opinou.

A obra inaugurada pela prefeitura é do escultor Demétrio Albuquerque e integra, junto a outras 17 esculturas, o Circuito da Poesia. O o percurso homenageia grandes nomes da música e da literatura, como Clarice Lispector, Manuel Bandeira, Luiz Gonzaga e Chico Science.

Em setembro de 2020, a escultura do escritor Ariano Suassuna, que fica na Rua da Aurora, no Centro da capital pernambucana, amanheceu no chão, após ser alvo de vandalismo. A partir disso, o JC conferiu o estado das obras da cidade. 

Ao percorrer o Circuito da Poesia, foi possível observar outras depredações ao patrimônio, principalmente nas placas de identificação. Diversas encontravam-se com os plásticos quebrados, arranhadas e pichadas. Outras, além dos atos de vandalismo, sofriam com a ação do tempo, que as tornaram ilegíveis. As placas que estavam mais danificadas eram as de Ascenso Ferreira (Cais da Alfândega), Capiba (Rua do Sol), Manuel Bandeira (Rua da Aurora), Carlos Pena Filho (Praça do Diario) e Liêdo Maranhão (Mercado de São José).

Além da placa, a escultura de Ascenso Ferreira era a que se apresentava em pior estado de conservação, com rachaduras e várias partes danificadas, sendo possível ver os ferros que compõem sua estrutura. Outras obras que apresentavam rachaduras foram as de Mauro Mota (Praça do Sebo), de Carlos Pena Filho, de Liêdo Maranhão, de Luiz Gonzaga (Museu do Trem) e de Celina de Holanda Cavalcanti (Avenida Beira Rio). Já a de Solano Trindade (Pátio de São Pedro), além das rachaduras, tinha pichações em sua base e pedaços descascando.

Na Praça Maciel Pinheiro, onde está localizada a escultura em homenagem à escritora Clarice Lispector, o cenário é de abandono. Cercada de pombos no momento em que a reportagem chegou ao local, a obra e a placa de identificação estavam tomadas por fezes dos animais. As esculturas começaram a ser produzidas no ano de 2005 e, até 2007, o Circuito da Poesia contava com 12 estátuas. Em 2017, ela ganhou mais quatro obras, incluindo a de Ariano Suassuna. No mesmo ano, foi a vez de Naná Vasconcelos ser homenageado, com uma obra no Marco Zero, última inaugurada pelo projeto.

O Circuito da Poesia é composto pelas seguintes obras: Manoel Bandeira (Rua da Aurora); João Cabral de Melo Neto (Rua da Aurora); Capiba (Rua do Sol); Carlos Pena Filho (Praça do Diário); Clarice Lispector (Praça Maciel Pinheiro); Antônio Maria (Rua do Bom Jesus); Ascenso Ferreira (Cais da Alfândega); Chico Science (Rua da Moeda); Solano Trindade (Pátio de São Pedro); Luiz Gonzaga (Praça Mauá); Mário Mota (Pátio do Sebo), Joaquim Cardozo (Ponte Maurício de Nassau), Ariano Suassusa (Rua da Aurora); Alberto da Cunha Melo (Parque 13 de Maio), Celina de Holanda (Avenida Beira Rio), Liêdo Maranhão (Praça Dom Vital) e Naná Vasconcelos (Marco Zero). A estátua de Reginaldo Rossi é a 18ª a compor o conjunto.

Pichações no Recife

Não são só as estátuas que são alvos de pichações na cidade. Elas podem ser vistas em vários lugares, seja em prédios, praças, esquinas ou até mesmo pontes do município. Apesar da quantidade, a ação trata-se de um crime. A Lei Federal de 1998 determina, em seu artigo 65, que pichar edificação ou monumento urbano é crime e pode resultar em multa e detenção de três meses a um ano.

Com os cartões postais da Veneza brasileira manchados pelo descaso, o sentimento da população é de indignação. "As pessoas que fazem isso deviam ser presas, sujam a cidade toda, bagunçam tudo", opina o entregador João Cândido. "Cada prédio bonito, mas tudo com essas coisas horríveis, eu não concordo", declarou o auxiliar de serviços gerais Josenildo Alves.

O que diz a Prefeitura do Recife

Por meio de nota, a Guarda Civil Municipal do Recife, informou que as ações de vandalismo ao patrimônio público municipal deverão ser informadas a corporação pode ser acionada através da Central de Operacões, disponível pelo telefone 153. A corporação também informou que realiza rondas para monitoramento do patrimônio público e deverá intensificar a operação com rota específica para o Circuito da Poesia.

 

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