Pai, mãe, filho e filha que foram vítimas de um deslizamento de barreira de mais de 50 metros no bairro de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR), durante as últimas chuvas, são enterrados na tarde deste domingo (16) no Cemitério do Pacheco, na mesma cidade. Familiares e amigos realizam a cerimônia em clima de revolta e emoção.
Muitas pessoas esperavam na frente do Cemitério do Pacheco na tarde deste domingo (16). Os corpos chegaram ao cemitério por volta das 15h. Houve um atraso na liberação das certidões de óbito, devido a um problema na identificação da mãe e do filho vítimas do deslizamento.
Os caixões foram dispostos em uma área coberta do cemitério. Em volta deles, os presentes cantaram juntos a música "Aos pés da cruz", do cantor gospel Kleber Lucas. "Pois sei que Tu tens o melhor pra mim /Há um segredo no Teu coração /Oh dá-me forças pra continuar /Guardando a promessa em oração", diz uma das estrofes da música.
Os próprios presentes no enterro levaram os caixões para o local de sepultamento, juntamente com as coroas de flores enviadas.
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Barreira
A casa fica na 6ª Travessa Murilo Braga. No momento da queda da barreira, entre 17h e 17h30, chovia muito na quinta-feira (13). O temporal dificultou o trabalho de resgate. Antes da chegada dos bombeiros, vizinhos se mobilizaram para tentar salvar os moradores da casa. Continuaram mesmo com a presença dos policiais.
O primeiro corpo a ser encontrado foi o do filho, Otávio Pessoa de Siqueira, 16 anos, ainda na noite de quinta (13). Na sexta (14) de manhã, equipes de resgate encontraram o corpo da mãe, Sílvia Regina da Silva, 36 anos. Na manhã deste sábado (15), o Corpo de Bombeiros localizou os corpos de Osvaldo Pessoa de Siqueira, 39 anos e Isabeli Pessoa de Siqueira, 12 anos, filha dele. Segundo os bombeiros, ambos morreram abraçados no sofá da sala.
Ainda durante o velório, a dona de casa Patrícia Pessoa de Siqueira, afirmou ter "uma sensação horrível" em ver quatro pessoas da sua família mortas por causa de um deslizamento da barreira. Ela é irmã de Osvaldo. "É um pedaço da gente que se foi. Vai ficar faltando. É um momento de reflexão pra que isso não venha a ocorrer com outras pessoas", afirmou.
Segundo Patrícia, Osvaldo não foi trabalhar na última quinta-feira, pois decidiu "abrir um rego" com a finalidade de escoar o barro que estava chegando na casa dele por causa das fortes chuvas que ocorreram naquele dia. Abrir um rego quer dizer fazer um sulco ou uma vala para escoamento da água.
Também irmão de Osvaldo, o comerciante Manoel Pessoa Júnior também já morou no local. "Deus me deu condições e eu sai daqui. Graças a Deus os bombeiros e os vizinhos deram o maior apoio e conseguimos resgatar os corpos de todos. A dor é muito grande", disse consternado.
A família morava no local desde 2013, segundo uma sobrinha de Osvaldo, Taís Siqueira, 25. Durante todo a sexta-feira (14), ela e outros parentes acompanharam o trabalho dos bombeiros e da Defesa Civil de Jaboatão. "A gente queria que fossem encontrados vivos", afirmou Taís.
O sepultamento dos quatro mortos na tragédia está sendo custeado pela Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, que afirmou estar prestando toda assistência necessária à família. Em suas redes sociais, o prefeito Anderson Ferreira (PL) publicou um vídeo em que lamenta as mortes e diz que a gestão municipal tem investido em ações de prevenção e infraestrutura na cidade, justamente para evitar que incidentes como o de Cavaleiro ocorram.
Através de nota, a prefeitura disse que Jaboatão registrou o maior volume de chuva da Região Metropolitana nos últimos dias, com mais de 200 milímetros em 24 horas. Por conta disso, a administração diz que adotou uma série de medidas para ajudar famílias que de alguma maneira foram afetadas pela precipitação.
Entre as ações divulgadas pelo Executivo municipal estão a construção, em caráter de urgência, de um muro de construção a barreira onde ocorreu o acidente e a transferência dos moradores dos 12 imóveis que precisaram ser interditados no local para residências de familiares.
"Todos já receberam alimentação, colchões, roupas, material de limpeza e higiene. As famílias foram cadastradas para receber o auxílio moradia, até que possam retornar às suas casas com segurança. A mesma assistência está sendo dada às famílias identificadas pela Defesa Civil do município, que ficaram desalojadas e estão abrigadas em residências de familiares ou pessoas conhecidas", detalhou a prefeitura.
Cinco abrigos para acolher as 28 famílias que ficaram desabrigadas no município também foram montadas pela gestão, que alega também estar fornecendo assistência social e de saúde para o grupo.