Ato com aglomeração contra Bolsonaro no Recife é dispersado pela polícia com balas de borracha e gás de pimenta

A Polícia Militar de Pernambuco usou spray de pimenta e bala de borracha para dispersar a multidão e feriu militantes presentes
Katarina Moraes
Roberta Soares
Publicado em 29/05/2021 às 12:15
CONFRONTO Para evitar situações de violência policial, MPF orientou "plena obediência à Carta Magna" Foto: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM


Com informações da repórter Cinthia Ferreira, da TV Jornal

O ato contra o governo de Jair Bolsonaro que aconteceu na manhã deste sábado (29) no Centro do Recife foi surpreendido pela ação de forças policiais, que usaram spray de pimenta e bala de borracha para dispersar a multidão. O protesto era, até então, pacífico, mas aconteceu em descumprimento ao decreto estadual que proíbe aglomerações de pessoas devido à crise sanitária causada pela covid-19. Por volta das 13h, o grupo de protestantes já estava disperso. Há relatos de militantes feridos e presos.

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Pouco tempo depois, o governador Paulo Câmara anunciou que havia determinado o afastamento do oficial que comandou ação da PM e do policial que teria jogado spray de pimenta contra a vereadora do PT Liana Cirne. “A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social já instaurou procedimento para investigar os fatos. O oficial comandante da operação, além dos envolvidos na agressão à vereadora Liana Cirne, permanecerão afastados de suas funções enquanto durar a investigação”, disse o governador.

Os policiais montaram uma barricada em cima da Ponte Duarte Coelho, e avançaram contra os manifestantes, que afastavam-se do confronto em direção à Rua da Aurora. Bombas de gás lacrimogênio foram lançadas contra os militantes. Havia cerca de dez viaturas da PM no local. Ainda, um helicóptero da Secretaria de Defesa Social (SDS) rondava a Avenida Conde da Boa Vista.

"Estávamos tranquilos, chegando na Avenida Guararapes, quando fomos confrontados pelo Choque e recebidos com bala de borracha. Foi desnecessário. Você diz que está protegendo a saúde do trabalhador, mas estava ferindo e colocando em risco a integridade física dos manifestantes. A policia agiu de maneira arbitraria e truculenta por mais de 40 minutos. Tivemos companheiros feridos e presos", relatou Antônio Celestino, que integra a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Pernambuco (OAB-PE).

A reportagem do JC tentou entrar em contato com a Secretaria de Defesa Social (SDS), com a Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) e com o Palácio do Campo das Princesas para obter esclarecimentos sobre o caso, mas, até agora, não teve retorno.

Por nota, a Comissão Executiva da Câmara Municipal repudiou "com veemência os atos violentos ocorridos neste sábado (29), durante manifestação no centro da cidade. Uma das vítimas destes atos foi a vereadora Liana Cirne (PT), covardemente atingida nos olhos com spray de pimenta, quando tentava dialogar com policiais militares na Ponte Princesa Isabel."

Já a OAB-PE exigiu "uma apuração rigorosa e punição por parte do Governo do Estado de Pernambuco dos responsáveis pela atuação da Polícia Militar durante toda a manifestação", também repudiou a violência contra a vereadora Liana Cirne e informou que levará o caso "aos órgãos competentes e estará à disposição para prestar assistência no caso".

O ato

O protesto teve concentração na Praça do Derby, por volta das 9h, e contava com a presença de centrais sindicais, movimentos estudantis e sociais e representantes da sociedade civil, que denunciavam ações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de sua equipe principalmente durante a pandemia da covid-19.

O que se observou no ato foi o uso massivo de máscaras - principalmente do tipo PFF2/N95, a mais recomendada para vedação contra o vírus, segundo estudo recente da Universidade de São Paulo - e a tentativa de se manter um distanciamento social e fornecer álcool para higienização das mãos. Mas, mesmo assim, aglomerações foram registradas. Os militantes carregavam bandeiras e cartazes, muitos com os dizeres: "Fora Bolsonaro, Mourão e militares", "Cadê a vacina, Bolsonaro?" e "Não tem vacina? A culpa é dele!". A passeata começou em torno das 10h40. 

Além das críticas a Bolsonaro, outras pautas também foram trazidas pelo ato, como detalhou o representante da Central Sindical e Popular (CSP) Conlutas no Recife, Carlos Elias. "A principal reivindicação é derrubar o governo Bolsonaro e Mourão, mas também é pelo auxílio emergencial para todas as pessoas que estão passando por necessidade, contra a reforma administrativa que vai atacar a saúde e a educação, destruindo serviços públicos, contra as privatizações, contra a destruição do meio ambiente e em apoio à luta dos povos indígenas", explicou.

Ainda, denunciou as medidas tomadas pelo Governo de Pernambuco e pela Prefeitura do Recife. [Estamos aqui para] denunciar também o negligenciamento com as medidas sanitárias tanto no governo Bolsonaro, quanto no governo Paulo Câmara, e aqui, no Recife, do governo João Campos", disse Elias.

Segundo levantamento da BBC News, o protesto contra o governo Bolsonaro estaria marcado para este sábado (29) em pelo menos 85 cidades brasileiras. Nessa sexta (28), a 34ª Promotora de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital, com atribuição na Promoção e Defesa da Saúde do MPPE, expediu a Recomendação referente ao Procedimento Administrativo nº 02061.000.268/2020 para a não realização de quaisquer atos que possam vir ocasionar aglomerações de pessoas.

O documento destinava-se aos integrantes das Frentes Povo sem Medo e Brasil Popular, a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), bem como as demais entidades e movimentos sociais que estão convocando e convidando a população para o ato em questão.

Ainda assim, muitas organizações decidiram manter a manifestação. "Fizemos um encontro ontem com todas as lideranças que estão hoje nessa atividade, e agora mesmo estamos seguindo todos os protocolos, existe uma equipe que está fazendo o processo de separar as pessoas e higienizar as suas mãos. A princípio, seria uma caminhada até o centro, mas foi abortada. Não vai ter mais a caminhada, mas sim um ato simbólico envolvendo todas as entidades e movimentos sociais que estão aqui", relatou o diretor da Federação Única dos Petroleiros, Luis Lorenzon.

Horas após a concentração na Praça do Derby, contudo, os manifestantes saíram em caminhada pela Avenida Conde da Boa Vista.

A classe dos petroleiros protestou, principalmente, contra as privatizações em curso no país. "Sabemos do compromisso que temos não só conosco, militantes, mas também com a própria população. Dessa forma, queria deixar claro que a gente vem aqui externar a nossa pauta dos petroleiros, e dizer que somos contrários a esse processo de privatização que está em curso no Brasil todo", expôs Lorenzon.

Petrolina

A manifestação também ocorre na Praça Maria Auxiliadora, no Centro de Petrolina, no Sertão do Estado, e vai circular por algumas ruas do Centro da cidade. Segundo os organizadores, há orientações para que os presentes respeitem as medidas sanitárias de proteção à covid-19.

“Estamos organizando três filas, respeitando a distância de 1,5m das pessoas. Temos seis faixas para facilitar a distribuição [dos manifestantes], e durante todo o ato terá distribuição de álcool em gel por nossa equipe de segurança, também estamos distribuindo máscaras PFF2 para pessoas e a equipe de segurança mai estar vigilante para que as pessoas não se aglomerem, retirem ou abaixem a máscara”, explicou Fernanda Vilas Boas, membro da União da Juventude Comunista (UJC).

O ato tem a participação ainda de membros do Diretório Central dos Estudantes da Univasf, União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (UESPE), Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação (SINTEP), Seção sindical dos docentes da UNIVASF (SINDUNIVASF), Sindicato dos Trabalhadores Assalariados Rurais (STAR), Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica (Sinergia), Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf), Associação Raízes, Coletivo Cores, Rua Juventude Anticapitalista, União da Juventude Socialista (UJS) e dos movimentos Olga Benário e Luta de Classes (MLC).

“Estamos defendendo a vida do povo brasileiro. Vemos o que o governo federal, desde o começo, não tem tomado nenhuma medida efetiva contra a pandemia e ainda menosprezou a disseminação do vírus. A situação do país está cada vez pior, com preços altos de alimentos, gás e da gasolina, e com o desemprego se mantendo. Também estamos defendemos a vacinação da população. O vírus não é o único culpado [pelo cenário atual], mas também o governo federal”, disse Bruno Melo, membro da Unidade Popular (UP).

OAB, Câmara de Vereadores e políticos repudiam violência da PM em protesto contra governo Bolsonaro no Recife

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE), a Câmara de Vereadores do Recife e diversos políticos do Estado repudiaram a violência praticada pela PM para dispersar o protesto contra o governo Bolsonaro no início da tarde deste sábado (29/5), no Centro do Recife. A agressão com spray de pimenta contra a vereadora Liana Cirne foi destacada em todos os posicionamentos. Em alguns casos, o episódio é definido como um “ataque covarde” por parte dos policiais. Também exigem uma investigação rígida por parte do governo de Pernambuco.

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FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Protesto no Recife contra o governo do Presidente Bolsonaro, termina em confusão pelas ruas do centro. - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Protesto no Recife contra o governo do Presidente Bolsonaro, termina em confusão pelas ruas do centro. - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Protesto no Recife contra o governo do Presidente Bolsonaro, termina em confusão pelas ruas do centro. - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social já instaurou procedimento para investigar os fatos, garantiu o governador - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Protesto no Recife contra o governo do Presidente Bolsonaro, termina em confusão pelas ruas do centro. - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Confira:

Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE)

“A OAB Pernambuco, como entidade representativa da advocacia, de defesa do estado democrático de direito e da sociedade civil, vem a público exigir uma apuração rigorosa e punição por parte do governo do Estado de Pernambuco dos responsáveis pela atuação da Polícia Militar durante toda a manifestação ocorrida neste sábado (29/5), na capital pernambucana. Imagens reportam uma repressão absolutamente desproporcional por parte da PMPE, com uso de balas de borracha, gás lacrimogêneo e spray de pimenta, contra grupos que realizavam o ato na área central da cidade.

A OAB Pernambuco também condena e repudia a covarde agressão sofrida pela advogada e vereadora do Recife Liana Cirne por parte de um policial militar até o momento ainda não identificado. A agressão foi filmada e as imagens indicam que a atitude do policial não guarda amparo em qualquer regra ou protocolo sobre o uso legítimo da força. Muito pelo contrário. Tais imagens ressaltam uma agressão gratuita a uma mulher pública no exercício de um ato de cidadania, que não praticava qualquer atitude ao ponto de colocar em risco a integridade do militar.

A OAB Pernambuco, por meio da Comissão de Direitos Humanos e da Comissão de Defesa e Assistência às Prerrogativas Profissionais, irá levar o caso aos órgãos competentes e estará à disposição para prestar assistência no caso”.

Câmara Municipal do Recife:

“Em nome do Poder Legislativo do Recife, a Comissão Executiva da Câmara Municipal repudia com veemência os atos violentos ocorridos neste sábado (29), durante manifestação no centro da cidade. Uma das vítimas destes atos foi a vereadora Liana Cirne (PT), covardemente atingida nos olhos com spray de pimenta, quando tentava dialogar com policiais militares na Ponte Princesa Isabel. Esperamos do governo do Estado uma apuração rígida sobre os responsáveis por estas ações”, afirmou o presidente da Câmara do Recife, vereador Romerinho Jatobá (PSB).

Codeputadas Juntas e vereadora Dani Portela (Psol)

“Autoritarismo, violência e negligência do Governo de Pernambuco marcaram o encerramento do ato pacífico #ForaBolsonaro, em Recife. As mandatas das codeputadas Juntas (PSOL/PE) e da vereadora Dani Portela (PSOL/Recife) estiveram juntas no ato, usando do direito de manifestação por vacina, comida, teto e dignidade, e testemunharam o cumprimento geral de dos protocolos de segurança sanitária estabelecidos pelas autoridades de saúde, até a chegada à Avenida Guararapes. Nessa altura da caminhada, o Batalhão de Choque da polícia aguardava a manifestação com estrutura de guerra, atacando as e os manifestantes com bombas de gás, spray de pimenta e força física, num ato desproporcional, sem motivação e gerador de tumulto, pessoas feridas, pessoas presas sem justificativa. As imagens mostram cenas de terror”.

A Juntas e a vereadora Dani Portela (Psol) presenciaram a violência policial contra o ato desta manhã e formalizarão denúncia contra o governo de Pernambuco. Parlamentares seguem agora para a Central de Flagrantes onde há pessoas detidas pela polícia sem justa causa. O governo precisa responder pela truculência da ação de hoje em Recife”.

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Protesto no Recife contra o governo do Presidente Bolsonaro, termina em confusão pelas ruas do centro. - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Protesto no Recife contra o governo do Presidente Bolsonaro, termina em confusão pelas ruas do centro. - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Protesto no Recife contra o governo do Presidente Bolsonaro, termina em confusão pelas ruas do centro. - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Protesto no Recife contra o governo do Presidente Bolsonaro, termina em confusão pelas ruas do centro. - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Teresa Leitão - Deputada Estadual e líder do PT na Alepe

“O Brasil inteiro foi às ruas neste sábado. Atos ainda limitados em participação, por causa da pandemia, mostraram toda a indignação com o governo Bolsonaro e a solidariedade com as vítimas da covid-19, do desemprego e da fome. Nada mais urgente e pelo bem do povo brasileiro.

Em Pernambuco, o ato pacífico que caminhou em fila indiana pelo trajeto tradicional da nossa luta, foi interrompido pela brutalidade gratuita da Polícia Militar. Bombas de efeito moral, metralhadoras em punho, gás de pimenta foram alguns dos equipamentos exibidos e usados.

Vários manifestantes e a vereadora do PT, Liana Cirne, saíram feridos do ato. Na condição de deputada estadual, líder do PT na Assembleia Legislativa, cobro as devidas explicações ao governador Paulo Câmara. Nosso estado vem sendo vítima de toda política bolsonarista em relação ao tratamento da pandemia. Tem encontrado no governador e sua base aliada, forte voz de denúncia e de reivindicação.
Como se explica um ato pacífico contra isto ser reprimido com tamanha violência pelo aparato policial do Estado? Espero que o governador se posicione e tome as providências cabíveis”.

Rinaldo Júnior - Vereador do Recife e Presidente da Força Sindical em PE

"Repudiamos com veemência as agressões da Polícia Militar de Pernambuco aos trabalhadores e trabalhadoras, aos movimentos sociais e à colega vereadora Liana Cirne que participavam de um ato pacífico e democrático hoje no centro do Recife. Que sejam feitas as apurações e que os responsáveis sejam punidos com o maior rigor da Lei." 

Defensoria Pública do Estado de Pernambuco

"A Defensoria Pública do Estado de Pernambuco, através do Núcleo de Defesa e Promoção de Direitos Humanos e do Núcleo Criminal da Capital, vem externar profunda indignação com as manifestações de uso de força por parte de agentes do estado durante manifestação realizada na manhã de hoje, 29/05/2021.

A atuação de todo agente público deve ser pautada nos princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade, moderação e conveniência.

Nesse sentido, o uso da força pelos agentes de segurança pública deverá se pautar na legislação nacional, nos documentos internacionais de proteção aos direitos humanos e em protocolos internos, considerando em especial que “os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força quando estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do seu dever.” (art. 3 do Código De Conduta Para os Funcionários Responsáveis Pela Aplicação Da Lei Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 17 de Dezembro de 1979, através da Resolução nº 34/169).

Os fatos hoje noticiados indicam contrariedade aos parâmetros acima apontados, expondo uma atuação desproporcional por parte das forças de segurança, que devem estar sedimentadas no respeito aos direitos humanos, incluindo o de manifestação e reunião pacíficas.

Nesse sentido, a Defensoria Pública do estado de Pernambuco coloca-se à disposição para prestar assistência jurídica integral e gratuita às pessoas e organizações cujos direitos tenham sido violados, recebendo as respectivas comunicações através do canal eletrônico: nucleodh@defensoria.pe.gov.br"

Manifestações contra Bolsonaro seguem em todo o País

Movimentos sociais, centrais sindicais e partidos de oposição estão nas ruas neste sábado, 29, em manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro e a gestão federal. Os atos criticam a condução federal na pandemia, pedem a retomada do auxílio emergencial de R$ 600 e a vacinação em massa da população, além de defenderem o impeachment do presidente.
No Recife, a manifestação com centenas de pessoas terminou com forte repressão da Polícia Militar de Pernambuco, que disparou com balas de borracha e usou spray de pimenta e bombas de efeito moral em manifestantes. Há registros de feridos, mas ainda não foram contabilizados. A ação da PM foi realizada já no final do ato político, entre a avenida Conde da Boa Vista, no bairro da Boa Vista, e a ponte Duarte Coelho, no centro da cidade, por volta do meio-dia.
Os manifestantes afirmam que a PM atacou de forma inesperada e sem nenhum motivo aparente. "A gente não estava fazendo nada. Não estava acontecendo nada. A gente só estava atravessando a ponte, em fila, batendo palma, algo muito tranquilo, e eles (a PM) responderam dessa forma, do nada", relatou a professora Eva Marinho. Ela participava do ato desde o início, às 10h, e não ficou ferida. A PM chegou a usar spray de pimenta contra a vereadora do PT Liana Cirne, também de forma inesperada, e dentro de uma viatura, enquanto ela conversava com agentes.
Na saída da concentração do ato, a polícia, que acompanhou todo o protesto, impediu a saída de carros de som, que eram utilizados pelas lideranças da manifestação para fazer falas políticas e recomendações de segurança da pandemia, como manter a distância de pelo menos um metro entre as pessoas durante o ato. Desde a última segunda-feira, 24, Pernambuco está sob um novo decreto estadual com medidas de restrição para atividades sociais e econômicas. Especialmente neste final de semana e no seguinte está permitido apenas o funcionamento de serviços essenciais, mas as pessoas não estão proibidas de circular na cidade.
Na última sexta-feira, 28, a 34ª Promotora de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital (PJDCC), Helena Capela, com atribuição na Promoção e Defesa da Saúde do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), emitiu um documento recomendando a "não realização de eventos que possam ocasionar aglomeração neste final de semana (...) a exemplo do ato agendado para a data de 29 de maio na Praça do Derby".
A recomendação utilizou o decreto assinado pelo governador Paulo Câmara (PSB) como base. O documento reforça que "o Código Penal brasileiro, nos artigos 267 e 268, tipifica como crime casos em que cidadãos ou organizações apoiem a disseminação de uma epidemia ou mesmo a infração à determinação do poder público que venha impedir a disseminação de doença contagiosa".
A vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos (PCdoB), em vídeo publicado em rede social, afirmou que a ação da PM não foi autorizada pelo governo do Estado. "Nós estamos ao lado da democracia. Os atos de violência, que repudiamos desde já, estão sendo apurados e terão consequências". diz a publicação, que termina com a hashtag #ForaBolsonaro.
O governador Paulo Câmara repudiou a violência policial durante ato. Câmara também disse, em vídeo publicado nas redes sociais, que determinou a imediata apuração de responsabilidade.
"A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social já instaurou procedimento para investigar os fatos. O oficial comandante da operação, além dos envolvidos na agressão à vereadora Liana Cirne, permanecerão afastados de suas funções enquanto durar a investigação."

Belo Horizonte

Em Belo Horizonte, uma multidão se reuniu na praça da Liberdade, região centro-sul, e saiu em direção ao centro da capital, ora cantando a música que marcou a luta contra a ditadura, "Para não dizer que não falei das flores", de Geraldo Vandré, ora gritando "Fora Bolsonaro". Das janelas dos prédios, houve panelaço.
O protesto foi organizado por cerca de 80 entidades, entre elas a Associação Brasileira de Médicos pela Democracia, que distribuiu máscaras e álcool em gel para as pessoas. Os manifestantes portavam cartazes com os dizeres "Genocida", "Vacina no braço, comida no prato" e "Eu apoio a CPI", entre outros.
Houve um princípio de tumulto quando um motorista, irritado com a manifestação, tentou passar pelas pessoas e chegou a entrar com o carro em uma ciclovia, quase atingindo um ciclista, na avenida Augusto de Lima. "Veio um Sandero prata na contramão e avançou sobre os manifestantes, virou a rua Rio de Janeiro para fugir, quase derrubou um ciclista, desceu do carro fingindo ter algo na mão. Nós nos afastamos com medo e ele se foi", disse a servidora da UFMG Clarissa Vieira, ainda ofegante. O professor Danilo Marques, que estava junto, acionou a polícia, mas o homem já tinha ido embora. Ao chegar à praça da Estação, por volta das 13h30, o protesto se dispersou.

Salvador

O ato #29MForaBolsonaro também reuniu centenas no centro de Salvador. Além do impeachment contra o presidente Bolsonaro, os manifestantes cobraram, sob gritos de "vacina, trabalho e pão", a responsabilização pela negligência do governo federal frente à pandemia.
A militância de esquerda, incluindo lideranças de movimentos sindicais e estudantis, se reuniu no Largo do Campo Grande, centro da capital baiana, por volta das 10h, e seguiram até a Praça Castro Alves. Houve alerta para o distanciamento a ser mantido e, em alguns pontos, chegaram a distribuir máscaras do tipo PFF2 na tentativa de garantir de segurança durante a caminhada, que ocorre de maneira pacífica e é acompanhada pela Polícia Militar.

Interior de São Paulo

Algumas das principais cidades do interior de São Paulo também registraram atos contra o governo. Na maioria das manifestações, houve uso de máscara e cuidados para evitar aglomerações. Até o início da tarde não tinham sido registrados incidentes.
Em Campinas, os manifestantes se reuniram no Largo do Rosário, tradicional ponto de concentrações políticas, no centro da cidade. O ato tinha representantes de centrais sindicais, como a CUT, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), além de movimentos sociais, como o Movimento dos Sem-Terra (MST).
O grupo saiu em marcha pelas ruas centrais, deixando o trânsito tumultuado, e retornou para a praça. Durante a passeata, os manifestantes gritavam em coro bordões, como "fora Bolsonaro" e "genocida". Em alguns pontos houve aglomeração. A Polícia Militar acompanhou o ato, mas não calculou o número de participantes. A Guarda Civil Municipal estimou em 1,5 mil pessoas, mas os organizadores falaram em 3 mil.
Em Sorocaba, os manifestantes se reuniram na Praça Fernando Prestes, a principal da cidade, e caminharam pelas ruas do centro, levando faixas e bandeiras. Com todos usando máscara, o grupo pedia vacina para todos, o fim dos cortes na educação e a saída do presidente Bolsonaro. Houve participação de partidos políticos e coletivos de esquerda.
Em Bauru, a concentração aconteceu em frente à Câmara Municipal. Além de "Fora Bolsonaro", os manifestantes pediam "emprego, vacina no braço e comida no prato". Muitos protestavam também contra o aumento na tarifa de ônibus na cidade. Integrantes da comissão de saúde formada pelos organizadores fiscalizavam o uso de máscara. Para evitar aglomeração, o grupo estendeu duas faixas largas para manter o distanciamento entre os manifestantes.
Em Marília, os manifestantes se reuniram na "ilha" da Avenida Nove de Julho, com faixas e cartazes. O mote principal foi vacina para todos e auxílio emergencial digno. Houve protestos também em Araçatuba, na Praça Rui Barbosa - a mesma em que Bolsonaro fez comício durante a campanha eleitoral. Em São Carlos, o protesto aconteceu na região do Mercadão, no centro, e reuniu 300 pessoas, segundo a Polícia Militar. Os manifestantes arrecadaram alimentos para famílias carentes.
Em Piracicaba, os organizadores fizeram marcas na Praça José Bonifácio, no centro, para evitar aglomeração. Os manifestantes fizeram uma "roda de ciranda" no local, gritando palavras de ordem contra o governo Bolsonaro. O sindicato dos servidores municipais e a União Estadual de Estudantes (UEE) estiveram à frente da manifestação.

Outras capitais

Em São Paulo, a manifestação está marcada para acontecer a partir das 16h. A concentração será em frente ao Masp, na Avenida Paulista.
Pelas redes sociais, as entidades organizadoras dos atos compartilham registros dos atos e fazem transmissões ao vivo das passeatas. Segundo publicação da Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), foram distribuídas máscaras PFF2 para os manifestantes do ato em Belém.
Também pelas redes sociais, entidades organizadoras registraram manifestações em Teresina, Porto Velho, João Pessoa e Aracaju.

Redes sociais

Políticos da oposição também registraram seus apoios aos atos pelo País. Guilherme Boulos (PSOL), que disputou a Prefeitura de São Paulo nas eleições de 2020, compartilhou vídeo que mostra outros países que organizaram manifestações políticas em meio à pandemia.
O senador Humberto Costa (PT-PE), membro da CPI da Covid, compartilhou vídeo da manifestação em Recife e defendeu a mobilização digital. "Estou recebendo fotos e vídeos do ato do Recife. Todos usando máscara e formando filas para respeitar o distanciamento. Esse é o melhor caminho. Nas redes sociais, sua militância também é muito importante!", escreveu ele.
O empresário Marcelo de Carvalho, sócio-fundador da RedeTV, afirmou que os protestos contra Bolsonaro estão vazios ao contrário das manifestações a favor do presidente. "Comparem com as manifestações pró e me respondam: "QUEM ACREDITA NO DATAFOLHA ???"", diz a publicação.
 
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