Um ano sem Miguel: 'essa data está sendo marcada por dor', relata mãe do menino que caiu do 9º andar de prédio no Recife
Mirtes Renata Santana de Souza saiu em caminhada pelas ruas do Centro do Recife em direção ao prédio de luxo onde tudo aconteceu
com informações da repórter Wandryelly Araújo, da Rádio Jornal
Na tarde do dia 2 de junho de 2020, Miguel Otávio Santana da Silva, de apenas 5 anos, caiu do 9º andar de um prédio de luxo localizado no bairro de São José, área central do Recife. Hoje, um ano depois, a dor da mãe, Mirtes Renata Santana de Souza, e de toda família, foi expressada em uma manifestação que saiu pelas ruas da capital pernambucana nesta quarta-feira (2) para pedir por justiça. O ato foi organizado juntamente com a Articulação Negra de Pernambuco e Coalização Negra por Direitos.
- Mirtes Renata, mãe de Miguel, protesta pela anulação do depoimento de uma das testemunhas da morte do filho
- Primeiro ano da morte do menino Miguel: manifestação faz projeções sobre o caso em prédios do Recife e São Paulo
- Um ano do Caso Miguel: 'Ferida não está cicatrizada', diz mãe do menino morto ao cair de prédio no Recife
- Um ano de saudade: menino Miguel é homenageado em projeções exibidas no Recife e em São Paulo
- Um ano da morte de Miguel; substituições na PMPE após crise; detalhes da Copa América. Comece o dia bem informado
"Essa data está sendo marcada principalmente por dor. Eu não amanheci bem, sentindo muita falta do meu filho e ainda mais porque é um ano sem ele. Eu estou muito emocionada e grata porque as pessoas não esqueceram do caso Miguel, elas estão junto comigo nessa mobilização da Semana Internacional do menino Miguel", relatou Mirtes. A mãe do menino afirmou que ele foi "abraçado pelo Brasil e pelo mundo". Além de Recife, estão sendo realizadas manifestações em cidades como Rio Branco, no Acre, Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo, e Londres.
A manifestação se concentrou em frente ao Palácio do Campo das Princesas, no bairro de Santo Antônio, e seguiu para o Cais de Santa Rita, onde fica localizado o prédio de luxo. Em frente ao residencial onde a queda aconteceu, gritos de resistência como 'Justiça por Miguel', 'Mirtes, você não está sozinha', 'Vidas Negras Importam' e 'Miguel, presente', foram entoados pelas pessoas presentes. Entre as reivindicações do ato, está a anulação da oitiva de uma das testemunhas do caso que, segundo a família, ocorreu sem a presença dos advogados da vítima.
A avó materna de Miguel, Marta Maria Santana, pediu um minuto de silêncio em respeito e homenagem à criança. Em seguida, Marta orou o Pai Nosso e, ao final, pediu: livrai-me de todo o mal e dai-nos o direito de ter justiça por Miguel.
- Caso Miguel: Delegacia abre fora do expediente para ouvir Sarí Côrte Real
- Caso Miguel: 'Ela é um monstro', diz Mirtes após conversar com Sarí Côrte Real na delegacia
- Caso Miguel: Sarí Côrte Real deixa delegacia escoltada por policiais após prestar depoimento
- Caso Miguel: veja a diferença entre os crimes de homicídio e abandono de incapaz com morte
- Caso Miguel: "Eu sinto que fiz tudo que podia", diz Sarí Corte Real
- Caso Miguel: MPPE denuncia Sarí Corte Real por abandono de incapaz
- Caso Miguel: Justiça aceita denúncia contra Sarí Corte Real
- Caso Miguel: por vídeo, Mirtes agradece abaixo-assinado em favor da responsabilização de Sarí Corte Real
- Caso Miguel: testemunha foi ouvida pela Justiça nesta terça-feira (02)
- Caso Miguel: Justiça condena Sérgio Hacker e Sarí Corte Real a pagarem indenização
- Caso Miguel: Advogados de Mirtes apontam possíveis falhas em processo
Em determinado momento, os presentes no ato deitaram-se no chão e gritavam: 'eu só queria a minha mãe', fazendo referência a Miguel. O pai do menino, Paulo Inocêncio da Silva, não falou, mas ficou ao lado de Mirtes o tempo todo e chorou ao olhar fotos do filho.
Menino Miguel é homenageado em projeções exibidas no Recife e em São Paulo
Às vésperas do dia em que completou um ano da morte do menino, uma outra homenagem: frases e fotos foram projetadas na Avenida Rio Branco, no Recife Antigo, e na Rua da Consolação, em São Paulo. Mirtes Renata Santana de Souza e Marta Maria Santana estiveram presentes no local na noite dessa terça-feira (1º). As projeções foram organizadas pela plataforma de abaixo-assinado Change.org.
À TV Jornal, mãe da criança afirmou que o último ano não foi fácil. "Está bem difícil viver com a ausência do meu filho. Infelizmente, outras mães passam por isso também e não conseguem se reerguer para poder lutar. Eu queria que elas vissem essa minha situação para que se fortalecessem também e lutassem por seus filhos e que pressionasse o Judiciário como eu pressiono para eles possam tratar bem os casos dos filhos dela porque quanto mais gente cobrar e pressionar o Judiciário eles trabalham. Eu só queria que fizessem", desabafou.
Relembre o caso
Miguel morreu na tarde de 2 de junho de 2020. Conforme investigação, na ocasião, Sarí Corte Real estava responsável pela vigilância do menino, enquanto a mãe dele, Mirtes Renata, passeava com o cachorro da patroa.
A perícia realizada pelo Instituto de Criminalística no edifício constatou, por meio de imagens, que Sarí apertou o botão da cobertura, antes de deixar a criança sozinha no elevador. Ao sair do equipamento, no nono andar, o menino passa por uma porta corta-fogo, que dá acesso a um corredor. No local, ele escala uma janela de 1,20 m de altura e chega a uma área onde ficam os condensadores de ar. É desse local que Miguel cai, de uma altura de 35 metros. Na época, Sarí chegou a ser presa, mas foi solta após pagar fiança de R$ 20 mil.
Sarí Corte Real, ex-patroa da mãe de Miguel, é esposa do ex-prefeito de Tamandaré Sérgio hacker (PSB). Na época do caso, Mirtes e a avó de Miguel trabalhavam na casa do prefeito, mas recebiam como funcionárias da prefeitura. A informação foi revelada pelo Jornal do Commercio.
Após a denúncia, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) instaurou uma investigação e descobriu que outra empregada doméstica da família também era funcionária da prefeitura, e a Justiça determinou o bloqueio parcial dos bens de Hacker. O MPPE descobriu ainda que a mãe e a avó de Miguel ganhavam até gratificação por produtividade, mesmo sem trabalharem na prefeitura, como revelou um documento obtido pela coluna Ronda JC. A assessoria do MPPE disse que o caso segue sob investigação.