VIOLÊNCIA

Homem que perdeu visão após ação da PM em protesto no Recife diz que está 'desestruturado'

Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, o adesivador Daniel Campelo, 51 anos, que perdeu a visão do olho esquerdo, relatou que a violência policial o deixou "emocionalmente desestruturado"

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Amanda Azevedo

Publicado em 06/06/2021 às 21:52 | Atualizado em 06/06/2021 às 21:57
Daniel tinha ido ao Centro do Recife comprar material de trabalho, quando foi atingido - REPRODUÇÃO DE VÍDEO/TV GLOBO

"Emocionalmente desestruturado". É assim que o adesivador Daniel Campelo, 51 anos, descreve como se sente depois de perder a visão de um dos olhos por causa da violência policial durante um protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Recife, no dia 29 de maio.

Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, exibida neste domingo (6), Daniel relatou que o momento em que foi atingido por balas de borracha no olho esquerdo e nas costas se repete, "que nem em um filme".

"Você está dormindo e, rapidamente, volta. Você escuta os barulhos, o estampido, a gritaria. Eu estou emocionalmente desestruturado. Qual era a ameaça de cidadãos procurando seus direitos e de cidadãos indo trabalhar?", questiona.

Daniel também relembrou o momento em que, ferido, pediu ajuda aos policiais em uma viatura, sem sucesso. "Se eles não me ouvissem, estavam me vendo", disse.

O adesivador não participava do protesto. Ele tinha ido ao Centro da cidade comprar material de trabalho e foi atingido pouco depois de descer de um ônibus, impedido de passar por causa da manifestação. Assim como Daniel, o arrumador de contêiner Jonas Correia de França, 29, também não fazia parte do ato e foi vítima da ação truculenta, perdendo a visão do olho direito.

Jonas, que chegava ao Centro do Recife para comprar carne, falava com a esposa pelo telefone no momento em que foi ferido por bala de borracha. Na sexta-feira (4), ele recebeu a notícia de que não é possível reverter o dano causado em seu olho. Agora, preocupa-se com o sustento da família.

"Quem sai de de casa para manter minha família sou eu. E agora, como vai ficar? Os policiais têm que proteger os cidadãos, não maltratá-los. Eu não mostrava nenhum perigo", disse.

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