Diversidade

Escola em Aldeia rebate campanha LGBTQIA+ da Burger King e causa polêmica nas redes sociais

Em um post no Instagram, a escola Eccoprime, que fica em Aldeia, Camaragibe, afirma que crianças e famílias cristãs estão "sendo atacadas" pelo conteúdo da rede de restaurantes

Cadastrado por

Renata Monteiro

Publicado em 27/06/2021 às 9:34 | Atualizado em 13/01/2023 às 11:20
Eccoprime fez publicação no Instagram afirmando que a campanha da Burger King atacava crianças e famílias cristãs - REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Atualizada às 14h34

Após a rede de fast food Burger King lançar a campanha "Como explicar?", que pretende promover a diversidade mostrando o olhar das crianças com relação à comunidade LGBTQIA+, uma escola situada na Região Metropolitana do Recife tem causado revolta nas redes sociais por criticar a peça publicitária com comentários homofóbicos. Em um post no Instagram, a escola Eccoprime, que fica em Aldeia, Camaragibe, afirma que crianças e famílias cristãs estão "sendo atacadas" pelo conteúdo e que pais e unidades educacionais precisam "defender os nossos filhos" e se "posicionar".

A publicação é do último sábado (26) e já contabiliza mais de 6 mil comentários, grande parte deles negativos. "'Homem pode casar com homem, mulher com mulher. Não tem nada de mais'. Essas foram frases ditas por crianças na última campanha da Burger King quando chamadas para 'explicar' o que significa LGBTQIA+. Por que naturalizar este discurso na voz das crianças? Segundo @sensusdivinitatis, isto é um projeto que tem por fim promover uma 'reeducação sexual' às nossas crianças. Tendo em vista que o desenvolvimento das sinapses dos nossos filhos podem ser enganadas de forma lúdica, diferentemente dos adultos", diz alguns cards divulgados pelo centro educacional.

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A escola sugere aos pais, ainda, que para "proteger" as crianças destas "ameaças", eles devem conversar com os seus filhos, ler a Bíblia, fazer cultos domésticos e buscar "escolas que sejam apoio e não obstáculo para o seu caminho". No mesmo post a instituição aproveita para promover o "Centro de Treinamento de Pais Cristãos (CT)", criado por ela, para armá-los "contra estas e outras setas inflamadas do inimigo".

Segundo a Eccoprime, a edição deste ano do CT ocorrerá no dia 18 de setembro, de maneira "totalmente presencial, com a presença do pastor Tedd Tripp e de sua esposa Margy Tripp". O evento é pago e os casais que quiserem participar desembolsam R$ 367 à vista ou 12 parcelas de R$ 35,76. O ingresso individual custa R$ 267 à vista ou 12 vezes de R$ 26,01. As informações estão no site da instituição.

"Se Jesus estivesse vivo nos dias de hoje estava denunciando esse post por discurso de ódio. Vocês tentam usar a Bíblia pra justificar o preconceito que tá em vocês mesmos. Sejam melhores", afirmou um usuário do Instagram na publicação. "Uma escola, em 2021, promovendo o ódio, a segregação, a violência gratuita... Que tristeza. E ainda usam o nome de Cristo pra isso. Que absurdo. Vocês não entenderam NADA. Espero que vocês sofram as duras consequências legais por se sentirem tão à vontade para promover seu asqueroso discurso de ódio e intolerância", observou um outro usuário da rede social.

Após os vários cometários críticos ao post, a escola ainda divulgou uma série de stories negando as acusações de homofobia, apesar de reforçar que considera a homossexualidade "pecado", "não natural" e "não normal". Leia abaixo o pronunciamento na íntegra:

Estão dizendo que a nossa Escola é homofóbica e que promove um "discruso (sic) de ódio", mas é uma pura mentira... que dita muitas vezes pode parecer verdade pros (sic) que leem (sic).

Nunca desrespeitamos ninguém que seja LGBT (sic), nunca incentivaremos a violência contra os mesmos, e nunca faremos isso.

Respeitamos as diferenças, mas cremos no que a Bíblia diz. E a Bíblia diz que a homossexualidade é pecado, e não natural e não normal... conforme esta (sic) escrito em Romanos 1.26-32.

Respeito sim" Mas considerar "normal" não... Não consideramos normal o que a Bíblia diz ser pecaminoso... Ainda mais quando envolvem crianças!

Temos a nossa fé no que a Bíblia (sic) e temos o direito constitucional de expressar isso.

Não temos intenção de desrespeitar ninguém muito menos promover violência (basta ler os comentários pra ver qual lado tem sido violento).

Dizer que nossas crianças devem aprender o padrão Bíblico é homofobia? Dizer que uma campanha LGBT (sic) envolvendo crianças está errada e é perigosa, é jomofobia e discurso de ódio? Não podemos expressar a nossa opinião Bíblica?

Estão falando como se promovêssemos a violência contra a comunidade LGBT porque consideramos o que a Bíblia diz?

Isso é "homofobia"? Então a Bíblia é homofóbica? Vão censurar a Bíblia? Vão considerar que Ela comete algum crime?

Se você leu até aqui, pare agora... E siga esses 3 passos:

1 - ORE AO SENHOR pela nossa escola @escolaeccoprime
Ore para que Deus levante o seu povo, para que Ele supra de ousadia a nossa fé, para que Deus levante maisd escolas com uma fé bíblica;

2 - Compartilhe nos grupos da sua igreja, pedindo oração, e se possível nos apoio (sic) nas redes sociais;

3 - Curta e comente agora várias postagens da @escolaeccoprime demonstrando seu apoio... Para que a Página aqui no Instagram não seja retirada do ar. Estão tentando desativar a nossa página, com seu apoia (sic) vamos conseguir.

NOTÍCIA-CRIME

Membra da comissão de diversidade sexual e de gênero da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Pernambuco (OAB-PE) e coordenadora municipal da Aliança LGBTI+, Regina Rodrigues afirmou que, por considerar que a publicação da escola Eccoprime configuraria crime de lgbtfobia, uma notícia-crime está sendo elaborada para exigir que a instituição de ensino seja punida. "Estamos preparando uma notícia-crime para a comarca criminal de Camaragibe, para que o Ministério Público seja intimado a se pronunciar, pois esse tipo de postagem configura lgbtfobia", disse.

"Nós estamos fundamentando a notícia-crime por duas perspectivas, primeiro o próprio discurso de ódio que a escola sustenta quando traz diversas frases, como 'nossas crianças estão sob ataque' ou quando diz que 'o discurso do Burger King é uma reeducação sexual que tem por finalidade reeducar as crianças'. O outro aspecto, tão preocupante quanto o anterior, é que nós estamos falando de uma instituição educacional, que deve ter como princípio a valorização dos direitos humanos, a promoção da cidadania, isso está disposto em diversas legislações. Até a Constituição diz que é um objetivo fundamental da República promover o bem de todos sem preconceitos de raça, sexo ou qualquer tipo de discriminação", completa Regina.

Sobre os argumentos usados pela escola nos stories, de que teria o direito de expressar a sua opinião e religião, a advogada lembra que todo direito tem limitações. "A liberdade de expressão vai comportar limitações assim como todos os demais direitos e garantias fundamentais. Não existe direito absoluto e essa liberdade religiosa não pode se valer de um manto que uma pessoa ou grupos utilizem para praticar crimes. Nada impediria que a escola, se utilizando da Bíblia, trouxesse narrativas religiosas ou dissesse que a religião que ela defende considera a homossexualidade pecado. Mas a partir do momento que ela diz que as crianças estão sob ataque, ela está associando pessoas LGBT a um perigo para as crianças, ela ultrapassou o limite da liberdade de expressão", avaliou.

A CAMPANHA

A peça publicitária do Burger King, lançada em co-criação com especialistas em psicologia e diversidade, apresenta a perspectiva infantil sobre o amor e o respeito. O mote da produção é a pergunta "nossa, como eu vou explicar a sigla LGBTQIA+ para as crianças?", então eles mesmos se colocam para falar sobre o assunto.

"Ao longo de todo o filme, os protagonistas da campanha compartilham a sua visão real sobre a diversidade, sempre acompanhados por seus responsáveis. As perguntas foram feitas por profissionais e as respostas são completamente espontâneas, por meio de uma gravação sem roteiro", afirma Juliana Cury, diretora da marca no Brasil, ao G1.

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