Cultura, modernidade e sustentabilidade são características prometidas à requalificação de 60 quiosques que compõem a Orla de Boa Viagem, um dos principais pontos turísticos do Recife, feito em conjunto pelo arquiteto recifense Bruno Ferraz, historiador Leonardo Dantas, xilógrafo Severino Borges e pela Associação Pelo Cordel em Pernambuco (Acordel). Aprovado em outubro de 2020 pela Prefeitura do Recife, o projeto seria inteiramente financiado pela iniciativa privada; mas, até hoje, a gestão municipal não autorizou o início das obras. Enquanto isso, barraqueiros e a população sofrem com o abandono dos equipamentos na Zona Sul da capital pernambucana.
Ao longo dos 8 quilômetros da praia, é comum ver quiosques subutilizados, alvos de furtos, com a estrutura fragilizada, sem toldo - ou com a proteção rasgada -, quebrados e alguns que até mesmo viraram pontos de ‘moradia’ de pessoas em situação de rua e de uso de drogas. Tudo isso compondo o cenário de um dos cartões postais do Recife e de uma das áreas mais valorizadas da cidade. “Praticamente todos têm problemas estruturais, de encanação, elétricos, e pelo visual deles já conseguimos identificar isso, precisamos nem entrar para saber que a situação está bem preocupante”, conta Guilherme Melo, representante da Associação de Barraqueiros de Coco do Recife (ABCR).
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Foi a própria ABCR que ficou responsável por firmar o acordo com uma empresa privada que deve encabeçar a revitalização em troca de publicidade. “Ao longo da segunda gestão do [prefeito] Geraldo Julio (PSB), foi feito todo trâmite legal entre a prefeitura, a associação e a empresa que vai construir os quiosques. Foi um longo processo envolvendo audiências públicas, consultas ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas, tudo que é necessário para uma obra que tem participação privada”, diz Guilherme. No entanto, mesmo quando tudo parecia estar encaminhado, a autorização para o início dos serviços não foi dada - e não se sabe o porquê.
“A gente já entregou tudo que a prefeitura pediu, já cumprimos todas as etapas exigidas e o projeto vai ser viabilizado pela iniciativa privada, sem dinheiro do município. Os quiosques estão se acabando, sendo pontos de drogas, tem gente morando neles. A gente quer essa reforma urgente”, pede a presidente da ABCR, Josy Miranda. Ao JC, ela revelou ter recebido uma ligação na manhã desta segunda-feira (5) do secretário de Política e Segurança Pública da cidade, Leonardo Barcelar, que prometeu discutir a pauta durante uma reunião com a associação até esta sexta-feira (9).
Os equipamentos estão há 11 anos sem receber melhorias, já que a última reforma foi realizada em 2009. Neles, é permitida a venda de coco, produtos de fiteiro, frutas e bebidas. A manipulação de alimentos é proibida.
Questionada, a Prefeitura do Recife não respondeu sobre o aval para o início das obras, apenas que "está estudando um conjunto de ações para realizar em paralelo à reestruturação dos quiosques", e que "as intervenções devem ocorrer simultaneamente para diminuir os transtornos causados pela execução de obras no espaço".
Conheça o projeto
O projeto final foi desenvolvido pelo arquiteto recifense Bruno Ferraz, formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 1985 e que já foi presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) em Pernambuco e vice-presidente do IAB nacional. O trabalho foi feito em parceria com o historiador e escritor Leonardo Dantas, com vasta contribuição para o registro histórico do Recife, que será o responsável por elencar 60 fatos marcantes da história recifense, formando uma cronologia ao longo de toda a orla. A xilogravura de cada equipamento será de Severino Borges e o cordel será feito por 60 cordelistas. O material foi contratado pela ABCR e levado para à Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano (Semoc), responsável pela articulação do processo.
Segundo a planta apresentada pela ABCR, cada um dos 60 equipamentos terá painel de energia solar e balcão acessível para cadeirantes, além de versos contando fatos marcantes da história recifense, que comemora 500 anos em 2037, desenhos com grafismo de Cordel e painel de azulejos com o desenho do antigo calçadão da orla. Eles serão confeccionados em concreto resistente, e o design vai permitir sombra e o abrigo da chuva para os frequentadores. O tamanho é semelhante aos que existem hoje. Cada um vai contar também com uma área para depósito, hoje inexistentes, além de toda a estrutura elétrica e hidráulica necessárias.