Há exatamente um mês, em 7 de junho de 2021, Pernambuco perdia um de seus grandes pesquisadores. Mais um entre os tantos acometidos pela covid-19, Fábio Hazin, que morreu aos 57 anos, ajudou a entender o que provocava os ataques de tubarão nas praias do Estado, que soma 62 incidentes até hoje, e implementou mecanismos para barrá-los. A bordo do barco Sinuelo, onde iniciou o Projeto de Pesquisa e Monitoramento de Tubarões no Estado de Pernambuco (Protuba), fez história nas ciências e deixou um legado na engenharia de pesca.
Positivado para o novo coronavírus, Hazin foi internado em um hospital particular do Recife. Com o agravamento da doença, precisou ser intubado e passou por sessões de hemodiálise, mas não resistiu às complicações da infecção. Tamanha a importância do pesquisador é revelada no fato de que a comunidade acadêmica da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) organiza um memorial na instituição para homenageá-lo. O projeto promete, inclusive, trazer o Sinuelo para o Campus de Dois Irmãos, onde ficará aberto à visitação.
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Hazin e o Sinuelo tiveram uma relação costurada pelo Protuba, idealizado pelo pesquisador em parceria com a Secretaria de Defesa Social (SDS) entre 2004 e 2014. No barco, um GPS indicava o melhor lugar para que iscas de moréias e peixes-prego fossem jogadas ao mar. Nem sempre a expedição era bem sucedida, mas, em grande parte, os tubarões eram capturados e soltos após serem marcados para monitoramento pela equipe, que evitava que os peixes voltassem às áreas de risco do Grande Recife. Os que não sobreviviam tinham a carcaça levada para estudos na universidade.
Um trabalho que foi essencial para reduzir a incidência de ataques de tubarões em Pernambuco em cerca de 90% - segundo estudos de Hazin, elogiado pela comunidade acadêmica. “Inicialmente, não se sabia muita coisa sobre a migração dos tubarões e o porquê da presença deles por aqui. Com esse barco, começou-se a fazer pesquisas para identificar a migração deles, onde estavam, para onde iam, além de muitas tarefas de educação ambiental”, explicou o professor Alfredo Olivera, atual diretor do Departamento de Pesca e Aquicultura da UFRPE.
A contribuição de Hazin e outros professores fez com que o aluno de engenharia de pesca José Carlos Pacheco se descobrisse um apaixonado pelo mar. “Se hoje sou professor da área de oceanografia e técnica de pesca, devo à minha experiência no Sinuelo. Foi onde tive meu primeiro contato em navegação de uma embarcação, lançamento de equipamento de pesca e interação com o ambiente oceanográfico”, contou o professor de oceanografia e engenharia de pesca do campus da Rural em Serra Talhada. Além da embarcação, ele também homenageia os mestres Fábio Hazin e Vanildo Oliveira, os que “mais levaram alunos a estudarem no barco-escola”.
Carreira
Hazin era professor Titular da UFRPE, no curso de engenharia de pesca e no Programa de Pós-graduação em Recursos Pesqueiros e Aquicultura. Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), era docente do Programa de Pós-graduação em Oceanografia. Além disso, estava como coordenador-geral científico do Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo. No período de 1995 a 2005, exerceu a função de coordenador do Revizee - sigla do Programa para a Avaliação dos Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva Brasileira/Região Nordeste.
Entre 2004 e 2012, ele exerceu a função de presidente do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) e de diretor do Departamento de Pesca e Aquicultura da UFRPE. Entre 2007 e 2011, presidiu a Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (ICCAT) e a Associação Brasileira de Engenharia de Pesca. Em 2015, exerceu o cargo de Secretário Nacional de Pesca do Ministério da Pesca e Aquicultura e, interinamente, de ministro de Estado da Pesca e da Aquicultura.