O dia seguinte ao ataque de tubarão que matou um banhista em frente à Igrejinha de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, foi de medo e cautela entre os banhistas. De forma geral, as pessoas evitaram entrar no mar e o ataque era a conversa dominante entre todos. Os bombeiros estavam presentes no local - o mais perigoso para incidentes com tubarões de todo o litoral pernambucano - e, em um ou outro momento, tinham que solicitar que banhistas saíssem da água por precaução.
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VEJA IMAGENS DO PRIMEIRO DIA APÓS O ATAQUE:
O medo de novos ataques de tubarões é sentido também por quem reside no Estado e, principalmente, por quem mora perto da Igrejinha de Piedade. “Dá muito medo mesmo. A gente já tem o cuidado, mas quando acontecem novos ataques, o medo aumenta”, afirmou o aposentado Dário Pereira, que aproveitou o domingo na praia. Para ele e para outras pessoas que frequentam a área, a sinalização de alerta sobre o perigo de entrar no mar no trecho do ataque é visível e informativa. “Tem muita informação sim. Só não vê quem não quer. Além disso, os bombeiros estão sempre presentes e orientando a população. Pelo menos nesse trecho da Igrejinha, que é bem conhecido pelo perigo”, confirmou o comerciante José Ivan de Salles, que há 25 anos trabalha naquele ponto.
Neste domingo, três salva-vidas faziam o trabalho preventivo e de orientação na área. Os banhistas estavam sendo orientados sobre o perigo antes mesmo de entrarem no mar. Eram abordados pelos militares.
VEJA COMO FOI O ATAQUE
PONTO CRÍTICO
A Igrejinha de Piedade é o ponto considerado mais crítico de Pernambuco: de um total de 66 ataques oficialmente computados pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) do Estado, 12 aconteceram no local. Ainda há dois incidentes em Fernando de Noronha em análise pela instituição.
Segundo a especialista em tubarões, oceanóloga e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco Rosângela Lessa, existe uma "situação favorável" que explica a recorrência de ataques na região. "Ali há uma abertura nos arrecifes que faz com que as águas do raso e das áreas mais fundas se relacionem. Então, se o tubarão tiver por ali, vai ter acesso às áreas mais rasas". Além disso, há também o fato de haver uma aprofundação da costa no local.
Próximo ao local do incidente, há placas e bandeiras que indicam o perigo. Para Rosângela, a saída para evitar acidentes é a conscientização. "Esse não é um problema que é resolvido. Não tem como prever e nem como garantir que os incidentes não ocorram mais nas áreas onde já ocorreram. É um problema de educação, mais do que qualquer coisa, porque as recomendações não são seguidas. Acredito que não importa o quanto se faça de pesquisa, se os humanos não se derem conta e sigam as instruções", alertou.
Segundo o Cemit, existem aproximadamente 110 placas destinadas à prevenção de incidentes com tubarão no Estado, que contêm informações sobre condutas a serem seguidas. Estão distribuídas ao longo de 33 km do litoral pernambucano, nas áreas consideradas de maior risco de incidente com tubarão.
ATAQUES
O Estado não registrava novos ataques de tubarão desde 2019. De 1992 até 2019, foram registrados 62 ataques na área do 'continente', sendo 27 no Recife, 23 em Jaboatão dos Guararapes, seis no Cabo de Santo Agostinho, quatro em Olinda, um em Paulista e outro em Goiana. Em Fernando de Noronha, quatro pessoas foram vítimas dos tubarões.
Desse total, 25 vítimas não resistiram aos ferimentos, e 41 sobreviveram - muitas sofreram amputações. Os pontos onde mais foram registrados incidentes no continente foram na Igreja de Piedade (19,35%), na Praia de Piedade, e no Acaiaca (11,29%), na Praia de Boa Viagem. Em Fernando de Noronha, cada um dos quatro ataques aconteceu em localidades diferentes.