O registro de mais um ataque de tubarão na Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, fez com que Pablo Diego Inácio de Melo visse no noticiário, mais uma vez, a repetição do que foi o maior trauma de sua vida. Mordido em abril de 2018 por um animal, também na altura da Igrejinha de Piedade, o ambulante de 37 anos diz ter sentido na pele o incidente com o auxiliar de serviços gerais Marcelo Costa Santos, de 51 anos, que, diferente dele, não resistiu aos ferimentos.
“Ainda estou abalado, porque me senti no lugar dele. O que ele passou, eu passei, mas ele não teve a mesma sorte de sobreviver, enquanto eu, Graças a Deus, estou aqui vivo para contar a história. Chorei bastante, me emocionei muito, me senti na pele dele. Quando vi as lesões dele, disse, ‘meu Deus, não acredito’, e minha mãe falou comigo, ‘ Pablo, tenha calma’”, contou.
Natural do Rio Grande do Norte, Pablo morava no Recife há 1 ano e 8 meses quando sofreu o ataque, e, assim como Marcelo, também jogava bola na praia com os amigos antes de entrar no mar para se refrescar. Na água, sentiu o animal passando pelas suas pernas. “Pensei que era um amigo meu, e disse, ‘que brincadeira é essa, fulano?’. Depois, senti aquela dor, algo me mordendo e me puxando pelo braço, foi então que avistei a boca dele e consegui bater no nariz para ele me soltar”, relatou.
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Em ambos os casos, a espécie do tubarão foi identificada como “tigre”, considerada extremamente agressiva por pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Com o caso de Marcelo, o Estado deve somar 67 ataques ou incidentes com tubarão até hoje, em área continental ou em Fernando de Noronha, em dados compilados pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarão (Cemit).
À época, Pablo passou por cirurgias para amputação da perna direita e parte do braço direito, mas teve uma recuperação considerada “surpreendente” pela equipe médica do Hospital da Restauração (HR), no Centro do Recife, onde ficou internado durante 49 dias. "Os médicos me falaram que do jeito que estava, eu não iria sobreviver, pois havia perdido muito sangue", afirmou a vítima em entrevista ao JC em maio de 2018.
“Foram uns 4 ou 5 meses para me readaptar, não foi fácil. O que me ajudou foi não desistir. Até amigos meus diziam: ‘se fosse comigo, eu me matava’, mas eu precisava seguir em frente e me readaptar à nova vida”, disse o potiguar à reportagem nesta quarta-feira (14).
Até hoje, Pablo convive com as sequelas do incidente. Para recuperar parte do movimento da mão esquerda, também perdido, ele ainda passa por sessões de fisioterapia intensiva. O ambulante já teve duas próteses para a perna. A primeira foi doada pelo governo do estado, e a segunda, de valor estimado em R$ 80 mil, foi dada por uma clínica de ortopedia privada do Recife que se comoveu com o caso.
O potiguar pede que a população se conscientize sobre o perigo de tomar banho nas áreas de risco em Pernambuco, porque também não acreditava que seria mordido por um tubarão. "Fui teimoso e aconteceu comigo. Já fui várias vezes nas praias e sempre aviso do perigo, teve gente que até já riu da minha cara. A gente só acredita quando acontece. Eu sabia que tinha ataque lá, apesar de que não tinha placas à época", afirmou.
Novos planos
A ligação de Pablo com o mar era costurada pelo surf, esporte que amava praticar. Mas, desde o ataque, ele só conseguiu retornar às águas da praia uma vez, há cerca de oito meses, quando tomou um banho rapidamente. “Estava alegre por estar novamente na praia, mas morrendo de medo, olhando de um lado para o outro o tempo todo”, descreve o sentimento.
É longe do mar e na segurança de uma piscina que o potiguar agora traça um novo plano - o de se tornar um atleta paraolímpico de natação - e pede uma oportunidade aos clubes de Pernambuco. “Tenho um sonho e sei que vou conseguir. Já que não vou entrar mais na praia, gostaria de praticar o esporte na piscina mesmo”, afirmou. Quem tiver interesse em ajudá-lo pode entrar em contato pelo telefone celular (84) 99928-6734.