As cirurgias eletivas realizadas no Hospital Otávio de Freitas (HOF), localizado no bairro de Tejipió, na Zona Oeste do Recife, foram retomadas nessa quarta-feira (22). Segundo a unidade de saúde, estas operações tinham sido suspensas entre os dias 14 e 21 de setembro, sendo realizadas apenas as de caráter emergencial. O HOF chegou a ser tema de audiência do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), na semana passada, devido a denúncias de superlotação e falta de infraestrutura.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) informou que foram programadas oito cirurgias eletivas para o dia 22, além de realizados outros 11 procedimentos cirúrgicos em caráter de urgência. Para esta quinta-feira (23), estão previstas novas 10 cirurgias eletivas para serem realizadas na unidade.
“Este número pode sofrer variações, dependendo das condições clínicas dos pacientes, ou motivada por alguma intercorrência com o procedimento anterior, e até mesmo com um outro paciente internado. O Hospital Otávio de Freitas, junto com a Secretaria Estadual de Saúde, segue trabalhando para ampliar a oferta de procedimentos e dar maior rotatividade aos leitos”, frisou a SES-PE.
Segundo a secretaria, durante os oito dias de suspensão das cirurgias eletivas, os serviços não foram interrompidos por completo. “Foi dada prioridade às cirurgias de urgência, que requerem atendimento imediato e quando há risco de vida aos pacientes, além da realização dos procedimentos cirúrgicos em pacientes já internados no serviço, mas que não poderiam ter alta médica pela gravidade do caso. No período citado, foram realizadas 171 cirurgias de urgência e 84 eletivas, além de 571 atendimentos de urgência na unidade e 44 transferências de pacientes para hospitais conveniados”, revelou.
MPPE
Procurado pelo JC, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) informou em nota que a promotora de Justiça de Defesa da Saúde da Capital, Helena Capela, designou uma audiência para a próxima semana, com a Secretaria Estadual de Saúde. Os autos do inquérito têm por objeto tratar da “ampliação das emergências do Hospital Otávio de Freitas”, de acordo com o órgão público.
Por meio da 34ª Promotoria de Justiça de Defesa à Saúde da Capital, o MPPE havia realizado uma audiência para tratar das denúncias sobre demora nas marcações de cirurgias no Hospital Otávio de Freitas, no dia 13 de setembro. O momento contou com a presença da direção da unidade hospitalar e de representantes da Secretaria Executiva de Assistência à Saúde da Secretaria Estadual de Saúde. Segundo o Ministério Público, houve encaminhamento da elaboração de cronograma para atender os 179 pacientes que esperam por cirurgia de trânsito do fluxo intestinal.
Denúncia
Em 13 de setembro, um dia antes das suspensões declaradas pelo Hospital, pacientes denunciaram a espera por cirurgias em meio a um caos de superlotação e falta de infraestrutura. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, é possível ver vários pacientes em macas nos corredores da unidade de saúde, aglomerados e sem máscara - medidas contra indicadas no protocolo de proteção contra a covid-19. “Estamos aqui jogados ao léu, misturados com tudo que é gente. A gente está jogado feito lixo, cachorro”, reclama uma mulher, que se identifica como vigilante.
Inúmeros relatos de descaso
Os relatos de descaso da unidade de saúde - voltada para o tratamento de pacientes com tuberculose e outras doenças respiratórias - por quem depende do serviço já é divulgado pelo Sistema Jornal do Commercio de Comunicação desde 2014. À época, macas e cadeiras de rodas já tomavam os corredores da unidade. O chão também era ocupado por pessoas que improvisavam camas com lençóis e papelão.
O problema perdurou em 2015, somado às queixas de funcionários sobre a escassez de material básico para trabalho, infiltrações e presença de animais dentro da unidade. Em 2019, pacientes denunciavam os corredores transformados em leitos, além da falta de água, sujeira e condições péssimas na cozinha. Alguns dos internados tiveram piora no quadro devido as condições a que foram submetidos.
Com a chegada da pandemia, em 2020, não houve perspectiva de melhora. O problema se tornou ainda mais grave, devido ao risco de contaminação dos pacientes com o coronavírus. O Ministério Público (MPPE) chegou a realizar uma vistoria na unidade e constatou condições insalubres: presença de moscas e gatos dentro da unidade de saúde, além de uma fossa exposta e de condições precárias na área da cozinha.