Um dia depois do incêndio de grandes proporções que atingiu o Mercado de Artesanato de Itapissuma, no Grande Recife, o local permanece interditado pela Defesa Civil e pelo Corpo de Bombeiros. Para os comerciantes e artesãos que perderam suas mercadorias, o sentimento agora é de profunda tristeza.
"Eu soube do incêndio porque uma amiga artesã me enviou uma mensagem dizendo 'nosso mercado está pegando fogo'. Na hora eu entrei em desespero. A minha ficha só caiu quando vi tudo queimado, destruído. É triste porque foi muito esforço, muito trabalho, muita dedicação, e vimos tudo aquilo virar pó", contou emocionada Ivanete Maria, que é artesã há mais de 20 anos.
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A dor e a perda é compartilhada por dona Oldezia de Souza Cruz, também artesã. "Ainda não teve como calcular o valor das perdas porque a gente ainda não acredita no que aconteceu. A gente tá vendo que aconteceu, mas a ficha ainda não caiu. Tinha mais de cem peças, não sobrou nenhuma nem de lembrança", disse.
Sem saber exatamente o que vai acontecer daqui pra frente, ela se sente perdida. "Em casa eu tenho ainda algumas coisas, alguns materiais, mas a maior parte estava aqui. Eu sou pescadora também, mas aqui o que eu fazia era hobby, lazer, trabalho, era tudo pra mim", disse a artesã.
O incêndio que atingiu o mercado e o Pub Praça do Vinil de Itapissuma, teve início por volta do meio-dia desta quarta-feira (13). O espaço, inaugurado em 2018, foi fechado por conta da pandemia de covid-19 em 2020 e reaberto no dia 15 de agosto deste ano, com diversas melhorias, como revestimento de vidros, climatização e decorações com materiais artesanais.
"Ia fazer dois meses agora no dia 15 que nós voltamos, mas aconteceu essa tragédia. Graças a Deus que apesar dos estragos materiais não houve nenhuma vítima, porque a gente pode substituir tudo, menos uma vida. Agora é força e fé pra continuar", completou Oldezia.
Apesar dos danos materiais, até o momento não houve registro de feridos e os boxes que compõem o complexo comercial da caldeirada não foram afetados diretamente pelo fogo. Mesmo assim, de acordo com a prefeitura, qualquer afirmação sobre a situação do local só poderá ser emitida após o laudo técnico das autoridades competentes. "Estamos aguardando um parecer para poder tomar as providências legais e prestar as assistências legais", pontuou o prefeito José Tenório (PSD), conhecido como Zé de Irmã Teca.
Ele também orientou a população a não passar próximo ao local, localizado na Rua Dr. José Gonçalves, ao menos por enquanto. “Pedimos a consciência de todos para que evitem passar pelo local, pois há risco de desabamento. Colocaremos gelos baianos e pedimos que todos tratem com os cuidados necessários que o momento requer", disse.
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Agora, de acordo o secretário de Turismo de Itapissuma, Ricardo Oliveira, a prefeitura vai verificar a forma mais apropriada de subsidiar a perda dos artesãos. Cerca de 60 desses trabalhadores tinham material exposto no local, de vários segmentos como vestuário, quadros, decorações, cortinas de marisco, de madeira e outros. Além disso, horas após o incêndio, o prefeito da cidade teria recebido uma ligação do governador Paulo Câmara (PSB), que garantiu que recursos serão enviados para ajudar na requalificação do local.
"O prefeito já revelou que a prefeitura de Itapissuma vai dar todo o aparato às pessoas que sofreram prejuízos financeiros com o incêndio. Qualquer prejuízo em relação a bens materiais serão repostos e o período em que o mercado ficar fechado os artesãos terão subsídio mensal. O pessoal da caldeirada também terá subsídio financeiro durante os dias que não puder trabalhar. O Governo do Estado também entrou em contato sinalizando que está liberada a reconstrução do mercado de artesanato. Por enquanto, a gente aguarda parecer da Defesa Civil. Mas antes de tudo queremos em breve nos reunir com os artesãos para ouvi-los e saber o que eles querem", explicou o gestor de turismo.
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Bombeiros
De acordo com o Corpo de Bombeiros, a ocorrência foi registrada por volta de 12h50 e o efetivo chegou ao local por volta das 13h30. Nas imagens compartilhadas por testemunhas foi possível ver uma espessa fumaça saindo do imóvel. O efetivo informou que enviou ao local cinco viaturas, sendo três de combate a incêndio, uma de comando operacional e uma resgate (esta última não foi utilizada por não haver vítimas).
De acordo com o secretário de Turismo de Itapissuma, Ricardo Oliveira, outras duas ocorrências acabaram atrasando a chegada dos bombeiros no local. "Fui acionado na hora do incêndio, saí de uma reunião de turismo em Olinda, o Corpo de Bombeiros fica em Igarassu e eu cheguei antes. Mas, eles relataram que estavam em outros dois atendimentos, o que atrasou a chegada em Itapissuma. Chegaram mais ou menos 1h30 depois, fizeram laudo, o rescaldo, esfriaram a parede, mas não tinha mais nada para pegar fogo, não se conseguiu salvar nada. Infelizmente, eles estavam em outra ocorrência e tenho certeza que se estivessem disponíveis naquela hora, não tinha chegado a tanto".
O JC entrou em contato por telefone e por e-mail com o Corpo do Bombeiros para confirmar se houve algum atraso e aguarda posicionamento.