A Porto de Galinhas que você não vê: paraíso também é tomado por problemas
Com a urbanização desenfreada no local, foram intensificados problemas que hoje estão evidentes
Como principal destino turístico de Pernambuco, Porto de Galinhas precisa ser tratada como o tesouro que é. A praia situada no município de Ipojuca atraiu cerca de 800 mil visitantes só neste ano, movimentando a cadeia econômica e produtiva da cidade e do Estado. Mas a vila que concentra centenas de comerciantes formais e informais, contribuindo para essa dinâmica, precisa de atenção. Com a urbanização desenfreada no local, como pontuou reportagem do JC desta semana, foram intensificados problemas que hoje estão evidentes, desde a infraestrutura, até a falta de orientação e de fiscalização municipal.
Com o longo período de restrições devido à pandemia da covid-19, quem vive do turismo no Ipojuca torce para que a alta temporada em janeiro movimente o local como nunca. Para 2022, a expectativa do Porto de Galinhas Convention & Visitors Bureau é atingir “a marca de 1 milhão de turistas com a volta dos estrangeiros”, segundo o Presidente, Eduardo Tiburtius.
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Há, então, ações a serem tomadas para receber tanta gente. O viajante Diego Oliva, que avalia na internet os diversos lugares que visita, pontuou que falta "muito cuidado na organização" da vila. "Às vezes dá a impressão daquele crescimento desordenado com lojas e casas sem pintura, excesso de propaganda e muita coisa de gosto duvidoso. Acredito que precisaria haver um casamento entre natureza e urbano, pois existe um potencial enorme na região", disse.
No centro, fica evidente o principal calo do Ipojuca, a carência de saneamento básico. Nos dias de chuva, segundo moradores locais, a vila alaga e o esgoto emerge das galerias, gerando odor. Estima-se que apenas cerca de 20% do tratamento de dejetos é considerado adequado no município. “Moro no centro de Porto, e o esgoto de fato brota na frente de casa durante um mês, com um cheiro insuportável. Na maré alta, uma água suja sobe das rachaduras do chão na vila”, disse Renata Cintra, da Pousada Pérola do Porto, que revelou receber muitas reclamações de turistas insatisfeitos com a cidade ultimamente.
Por nota, a Prefeitura do Ipojuca defendeu o que brota "na verdade são águas provenientes das chuvas. "Em algumas situações existem ligações clandestinas que podem contaminar estas águas, e que a Prefeitura vem atuando para eliminar. Nos meses de setembro e outubro os comércios da vila de Porto foram fiscalizados para verificar se havia ligações irregulares". Em outubro, o Governo de Pernambuco anunciou o início do processo de contratação das obras da primeira etapa do sistema de esgotamento sanitário do Ipojuca, com recursos da ordem de R$ 60 milhões. As obras, previstas para serem concluídas em março de 2023, devem beneficiar 28 mil moradores da localidade, elevando o índice de saneamento do município para 60%.
Outra frequente reclamação dos visitantes é a abordagem excessiva e, por vezes, invasiva dos comerciantes locais tanto na vila, quanto na beira-mar. A maioria deles, inclusive, não possui identificação ou indicação de credenciamento aparentes. “Achei um pouco bagunçado. E vou ser bem sincera, o pessoal incomoda demais. Para a gente na rua, bate no carro. Essa parte é bem chata, apesar de eu entender que é o serviço deles”, contou a engenheira Giovanna Louredo, de 24 anos, que veio de Brasília visitar as praias do Nordeste com o marido, o contador Thiago Louredo, 36.
O "assédio" já foi identificado pela gestão, que diz estar trabalhando na capacitação de "abordagem e qualificação". "O turista deve estar atento aos serviços credenciados. Os credenciados geralmente usam camisa com nome e número, os jangadeiros, por exemplo, têm uma cabine onde vendem os passeios. Então, o turista deve evitar comprar de forma avulsa. Os mergulhos também devem ser comprados nas lojas. Para o passeio de buggy, o turista deve verificar se no veiculo tem o adesivo do BUGGY LEGAL", indicou.
Em todo o equipamento, só dois banheiros públicos, na Praça das Esculturas e no do Relógio. Faltam também chuveiros públicos para quem quiser se lavar após um banho de mar. As placas informativas são basicamente todas escritas em português - são poucas as que trazem outras línguas, que melhor atenderiam os estrangeiros - e não há mapas expostos. A Prefeitura do Ipojuca informou que há "expectativa de que Porto esteja sinalizado com placas informativas em outros idiomas já no 1º semestre de 2022, e que neste ano foi inaugurado o Centro de Atendimento ao Turista (CAT), facilitando a troca de informações".
Alguns dos bancos da vila estão pichados e/ou com ferros estruturais aparentes, e ainda há carência de acessibilidade na vila. Rampas são raras, assim como os estacionamentos reservados para cadeirantes e pessoas com outros tipos de deficiências físicas. Segundo a gestão, "está em fase de licitação a implantação de um estacionamento rotativo, demanda antiga da população", e há um projeto de acessibilidade da Secretaria de Infraestrutura em estudo para as Alamedas de Porto de Galinhas, Maracaipe e Serrambi". Ainda, outro projeto "visa a contratação da requalificação que inclui paisagismo e sistema de drenagem" do distrito.
Apesar de tudo, Porto de Galinhas continua um desejado destino pela beleza natural, como as piscinas naturais com peixes coloridos e tartarugas em meio ao cenário formado pelos arrecifes de corais, e serviços proporcionados aos turistas. No local, são 15 mil leitos, distribuídos em 17 grandes hotéis e 230 pousadas, além de 120 restaurantes e diversas empresas, juntas, geram mais de 15 mil empregos diretos e indiretos - todos ligados, direta ou indiretamente, ao turismo. Vai visitá-la? Confira algumas dicas de viagem do JC:
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