URBANISMO

Dois meses após ser lançado, Escritório do Centro do Recife entrega poucas ações de zeladoria e foca na elaboração de projetos para região

O Recentro, que atuará nos bairros do Recife, de São José e de Santo Antônio, foi dividido em ações que serão tomadas a curto, médio e longo prazo. JC buscou atualizações sobre o que avançou no programa

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Katarina Moraes

Publicado em 24/01/2022 às 8:00 | Atualizado em 28/04/2022 às 14:09
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Há dois meses, a Prefeitura do Recife apresentava o Programa Recentro, que chegou para repensar e voltar as energias da gestão para o Centro da capital pernambucana, uma área que ao longo dos anos vem sofrendo um intenso processo de degradação. O esforço ficou sob responsabilidade de um novo gabinete, que desde 1º de dezembro coordena as diferentes secretarias envolvidas e atores externos - como o setor comercial, turístico, imobiliário e tecnológico, principalmente.

Acompanhando de perto o desenvolvimento do projeto, o JC identificou que, até então, foram feitas algumas poucas ações emergenciais na área, e que ainda estão em fase de elaboração de projeto as que pretendem reavivar a região nos próximos dez anos.

O Recentro, que atuará nos bairros do Recife, de São José e de Santo Antônio, foi dividido em ações que serão tomadas a curto, médio e longo prazo.

Poucas mais rápidas - de zeladoria e limpeza, por exemplo - foram entregues, como a primeira etapa da revitalização da Praça do Sebo - que teve a identidade visual alterada, reparos e ornamentos no espaço -, e a inauguração do monumento Encontro dos Rios, no Cais da Aurora, com instalação de mobiliário urbano, bancos, balanço, pergolado de madeira e novos espaços de convivência e a doação de mil cestas básicas a ONGs e entidades civis na área central, juntamente com a Associação da Comunidade Chinesa do Recife.

Ainda, há promessa para que seja iniciada neste ano o embutimento da fiação elétrica no Recife Antigo.

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Rua Nova, no Bairro de Santo Antônio, Centro do Recife - DAY SANTOS/JC IMAGEM
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Rua Nova, no Bairro de Santo Antônio, Centro do Recife - DAY SANTOS/JC IMAGEM

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Como foi apresentado pelo próprio programa, ações como estas, no entanto, são pontuais e insuficientes para reativar toda a dinâmica urbana pretendida; tanto que outras semelhantes já foram feitas anteriormente.

Quando prefeito, Jarbas Vasconcelos (MDB) criou o Escritório de Revitalização do Centro e a partir disso organizou o Recife Antigo e construiu o camelódromo da Avenida Dantas Barreto, que agora é considerado subutilizado. Já a gestão Geraldo Julio (PSB) implantou o projeto Recife Antigo de Coração, que foi eficaz em trazer a população para aproveitar o Marco Zero aos domingos, mas não durante toda a semana. Ainda que louváveis, as iniciativas não foram capazes de reabitar a região.

Por isso, o diferencial do Recentro foi fomentar, por meio de incentivos e isenções fiscais, novas construções e reformas nos imóveis existentes, a volta do comércio e da moradia aos três bairros: o que leva tempo.

Até que a população considere que o Centro é um bom lugar para viver e que os empresários considerem um bom ponto de vendas para diferentes tipos de comércios, muito precisa ser feito; visto que a região hoje é sinônimo de insegurança, abandono e desordem para os recifenses. Sobre isso, segundo a Prefeitura do Recife, o Recentro está no processo de “diálogo e escuta com os diversos setores da sociedade, levantando as demandas de cada segmento e analisando os projetos existentes”.

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Ao todo, segundo o Gabinete, foram feitas mais de 40 reuniões com diferentes ramos, e colhidas mais de 200 contribuições para melhorias no Centro. Entre os atores ouvidos estão a CDL Recife, Ademi-PE, Sinduscon-PE, Núcleo de Gestão do Porto Digital (NGPD), Conselho de Turismo do Recife (Conture), World Resources Institute (WRI Brasil), Associação de Lojistas do Centro do Recife (Alcere), dentre outros.

A Prefeitura do Recife também informou que teve início o estudo de Parceria Público-Privada (PPP) para habitação social, com o objetivo de ofertar, no mínimo, 450 unidades habitacionais prioritariamente na área central, voltadas para famílias com renda máxima de três salários mínimos.

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Avenidas Dantas Barreto, no Bairro de Santo Antônio, Centro do Recife - DAY SANTOS/JC IMAGEM
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Avenida Dantas Barreto, no Bairro de Santo Antônio, Centro do Recife, é um importante polo comercial da cidade, mas carece de moradia - DAY SANTOS/JC IMAGEM

Urbanismo

Por serem Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural (ZEPH), os bairros do Recife, São José e Santo Antônio têm poucas áreas possíveis para alteração e construção de novos imóveis. Ainda, quem pretende reformá-los precisa seguir uma série de determinações.

Por isso, o Instituto da Cidade Pelópidas Silveira (ICPS), por meio da Gerência Geral de Preservação do Patrimônio Cultural (DPPC), disse estar elaborando fichas técnicas com parâmetros urbanísticos a serem observados, levando em consideração as características do conjunto edificado por quadra. Quando finalizadas, serão disponibilizadas ao público através do Portal de Licenciamento Urbanístico.

Construção

A Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE) alegou que, pela falta de regulamentação da Outorga Onerosa do Direito de Construir (instrumento que permite a construção de edifícios com altura máxima permitida, acima do coeficiente básico), poucos projetos vêm sendo tocados na cidade como um todo, e que por isso as imobiliárias ainda não focam no Centro, apesar de acharem a iniciativa louvável.

“O setor olha para o Recentro com bons olhos, mas o mercado está focado em coisas mais urgentes, que tiram um pouco o foco disso, já que estamos há um ano sem poder licenciar novos projetos. Além disso, levam anos para saírem do papel, então só devemos ver mudanças no Centro muito a frente”, disse o assessor urbanístico da Ademi-PE, Sandro Guedes.

Comércio

O setor comercial foi um dos que participou de reuniões sobre o Recentro, apontando suas principais dores e necessidades.

“Para ser bem objetivo, ainda não vimos mudanças do Recentro, apesar de ter havido um esforço da Prefeitura; mas estamos com excelentes expectativas. Eles estão nos ouvindo, o que é importante, por ser é um processo longo. Aquela área precisa de tudo, zeladoria, segurança, mas o principal é dar condições para que as pessoas a ocupem. Tem que ser bem estruturado”, disse o presidente da CDL Recife, Fred Leal.

História e lazer

O arquiteto Francisco Cunha, um dos nomes que cobrou, nas últimas duas décadas, pela instalação de um escritório para a região, está criando um roteiro de visitação para recifenses e turistas que, nas palavras dele, "irá recosturar o território que foi esquartejado pela construção das avenidas Guararapes e Dantas Barreto”.

“No meu entendimento, as pessoas só preservam o que conhecem; e é inacreditável como toda esquina no Centro tem história. Até eu fico surpreso. A ideia é que seja montada uma rota, com guias no piso e placas, mostrando o que cada local significa, como um museu vivo da história de Pernambuco, e que as pessoas que passam o dia próximas dos pontos sejam espécies de 'guardiãs' deles”, explicou.

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