Julgamento

Sobrevivente da colisão na Tamarineira cobra pena máxima e diz que acusado tem de pedir perdão a Deus

Muito abalado durante o julgamento, Miguel da Motta disse que a vida foi destruída após a morte da esposa, do filho e da babá da criança em 2017

Cadastrado por

Cássio Oliveira

Publicado em 15/03/2022 às 14:48 | Atualizado em 15/03/2022 às 19:12
Julgamento no Recife do responsável pela colisão que matou três pessoas na Tamarineira em 2017 - BERG ALVES/JC IMAGEM

''A ele, só posso dizer que peça perdão a Deus, tente seguir em frente no caminho de Deus e saber que as atitudes que a gente toma aqui podem machucar alguém, podem ferir e, no caso dele, matou minha esposa, o amor da minha vida, matou meu filho e a babá Roseane, e a filhinha dela na barriga, sequelou minha filha, acabou com minha vida". Essa foi a declaração do advogado Miguel da Motta Silveira sobre João Victor Ribeiro de Oliveira Leal, responsável pela colisão que matou a família de Miguel.

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No dia 26 de novembro de 2017, um domingo à noite, o carro que Miguel da Motta Silveira dirigia, transportando a família e uma babá, foi atingido em cheio, do lado do passageiro, por um outro veículo.

Com a colisão, morreram Maria Emília Guimarães da Mota Silveira (esposa/mãe), 39, Miguel Arruda da Motta Silveira Neto (filho), 3, e a babá das crianças, Roseane Maria de Brito Souza, 23. Sobreviveram Miguel (pai) e a filha Marcela Guimarães da Motta Silveira, 9, que ficou com sequelas após o caso.

Me perguntam como sou forte, não sou forte, eu preciso ser forte, mas estou destruído por dentro, não deixo passar isso à família porque se eu parar, Marcela para, minha família para e eles já me ajudam muito com Marcela e eu preciso ser forte. Quem me sustenta é minha filha, me acorda e me faz dormir.
Miguel da Motta

Responsável pela colisão, João Victor Ribeiro de Oliveira, 29, que está preso desde 2017, está sendo julgado nesta terça-feira (15), em sessão do júri popular, na Primeira Vara do Tribunal do Júri da Capital, no Fórum Rodolfo Aureliano, no bairro de Joana Bezerra.

Acompanhe o julgamento

Victor é réu por triplo homicídio doloso duplamente qualificado e por dupla tentativa de homicídio. A perícia do Instituto de Criminalística revelou que João Victor trafegava a uma velocidade de 108 km/h. O máximo permitido na via, entretanto, era de 60 km/h. Ele ainda avançou o sinal vermelho. O teste de alcoolemia realizado no motorista registrou nível de 1,03 miligrama de álcool por litro de ar, três vezes superior ao limite permitido por lei.

Desespero

Durante o depoimento emocionado do advogado Miguel da Motta Silveira, o acusado entrou em desespero. João Victor se jogou no chão, pediu para ser morto e pediu desculpas. A sessão foi interrompida e o homem retirado por policiais. "Eu não queria fazer isso, me perdoe, me mate, me mate, eu não queria machucar a sua família, me perdoe por favor", gritou o homem.

De acordo com Miguel, seria impossível estar preparado para o que aconteceu. "Para mim, infelizmente, essa história não é o último capítulo. Uma pena aqui não vai significar muita coisa pra mim, porque minha dor vai ser estendida até o último dia da minha vida. Ele logo em breve estará livre, como determina a lei. Mas nos cabe mudar as leis e mudar esse pensamento egoísta de que tem que satisfazer os seus prazeres de beber, de dirigir e de não se responsabilizar pelas coisas que faz. O perdão não será meu, será de Deus. Eu não tenho que perdoar ninguém. Eu tenho apenas que seguir a minha vida ao lado da minha filha", disse o advogado.

O advogado explicou que voltava da casa dos pais naquele domingo por um caminho que era comum para ele e a família. Ele disse não lembrar do acidente em si, mas que momentos antes o clima no carro era descontraído, pois estavam tentando manter o filho mais novo acordado e brincavam com ele.

Miguel ainda destacou que a segurança era prioridade, que o carro apitava se estivessem sem os cintos e que era blindado. "Tenho a lembrança do pós-fato, sendo retirado do veículo. Retiraram o vidro da frente, saí do carro e não entendia nada, não sabia a situação, lembro de pouco depois destravar o celular para uma pessoa que estava ajudando ligar para o meu cunhado. Eu estava com dificuldade para respirar, tive fraturas nas costelas, estava inflando sangue, não conseguia respirar e não lembro mais nada, só que me colocaram na maca do Samu com muitas dores e de entrar no hospital com minha mãe segurando minha mão enquanto eu pedia para respirar", disse.

Ele disse não ter sido um acidente, chamou de "fato" e comentou sobre as sequelas para ele e a filha Marcela. "Até hoje eu sofro a consequência daquele crime. Não advogo mais, tive sorte de ter amigos, irmãos, que tocaram o escritório até hoje, mas nunca mais fiz uma defesa, uma audiência, sem vida pessoal e profissional desde aquele dia 26 de novembro não trabalho".

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