O comércio e os serviços de Porto de Galinhas, no Litoral Sul de Pernambuco, amanheceram fechados nesta quinta-feira (31) após uma criança de 6 anos ter sido baleada e morta durante operação policial na Comunidade Salinas nessa quarta-feira (30).
No Centro do principal destino turístico do Estado, placas pedindo "justiça por Heloysa" estampam as vitrines das lojas. Protestos também foram realizados no distrito nesta manhã, com populares fechando vias e ateando fogo em plantas na estrada.
No município do Ipojuca, criou-se um clima de medo. Comerciantes e moradores afirmam que o fechamento foi determinado por traficantes locais. Circulam áudios e vídeos dos supostos traficantes exigindo uma apuração do caso.
"Mandaram ninguém abrir por três dias, até sábado. Disseram que quem descumprir vai ter problemas. Está todo mundo com medo e revoltado pelo que fizeram com a criança", disse um comerciante local.
Por nota, a Polícia Militar de Pernambuco disse desconhecer "essa ordem do tráfico. As equipes permanecem maciçamente realizando o policiamento ostensivo na região."
Nas redes sociais, pessoas relatam que o balneário está "um caos". "Pagamos caro para chegar aqui e tudo está fechado por que os policiais atiraram em uma criança! Cadê o prefeito dessa cidade para averiguar? Cadê a policia para proteger os visitantes e moradores?", questiona uma turista.
A reportagem entrou em contato com uma das pousadas da região, que informou estar fazendo um esquema para atender aos hóspedes, já que estão impedidos de sair do local por não ter estabelecimentos abertos no município.
"Estamos trazendo comida para eles, fazendo o possível para tornar a estadia melhor. Mas, de fato, não tem nada funcionando, nem jangadeiros, buggies, restaurantes ou lojas."
Morte de criança
Heloysa Gabrielly estava na frente de casa, na Comunidade Salinas, brincando quando foi atingida por disparos de arma de fogo no peito. A Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) informou que a fatalidade aconteceu durante uma troca de tiros com traficantes, mas testemunhas negam.
O pai da criança contou, em entrevista à TV Jornal, que os policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) já “desceram atirando”, e que não viu outro grupo revidar.
“Minha menina brincava de bicicleta na rua, e eles já desceram atirando. A vizinha disse que ela foi atingida. Peguei minha menina no braço, que já estava virando os olhos, e disse [ao policial] ‘seu filho da p***, você matou minha filha. Me jogaram na viatura para socorre-la para o hospital, e diziam: ‘vocês não viram que eles atiraram?’, e eu dizia que não vi nada”, disse o homem, abalado.
O tio também estava no local e disse que, aparentemente, a polícia estava seguindo um homem que passava de moto, mas que ele não atirou contra o BOPE. “O menino não atirou em polícia nenhuma, ela que chegou atirando, amedrontando a população. A ação foi desnecessária. Naquela rua só tem criança brincando e pai e mãe assistindo televisão o dia todo”, afirmou.
Os PMs que participaram da ocorrência que resultou na morte da menina chegaram ao Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), no Recife, com a viatura cravejada de balas. Eles entregaram três armas, que serão periciadas. Em depoimento, contaram ter atirado contra um suspeito que estaria armado em uma motocicleta e efetuado disparos contra a guarnição.
O caso é investigado pela Polícia Civil de Pernambuco que informou estar apurando "as circunstâncias da morte de uma criança, na comunidade de Salinas, em Porto de Galinhas, onde há uma operação da PMPE para combater associações criminosas com atuação no tráfico de drogas", e que é "prematuro, neste momento, fazer afirmativas.