DIREITOS HUMANOS

CHUVAS EM PERNAMBUCO: para os desabrigados e desalojados, o medo, agora é da hora de voltar para casa

Alojados há mais de uma semana pensam na hora de se despedir dos abrigos, e no medo de que mais chuva atinja fortemente o Estado

Cadastrado por

Katarina Moraes

Publicado em 06/06/2022 às 20:01 | Atualizado em 06/06/2022 às 20:04
Abrigo na Escola Municipal Celia Arraes, na Várzea, Zona Oeste do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Há mais de uma semana o ambulante Felipe Barbosa, de 27 anos, não consegue trabalhar. “É muito aperreio na cabeça”, contou ele, que está abrigado em uma escola municipal na Zona Oeste do Recife desde as chuvas de 28 de maio. Em breve, terá de sair do espaço, hoje moradia de 82 pessoas, e procurar um novo teto para abrigar a família - já que, literalmente, parte da casa onde vivia com a esposa e o filho de 10 anos desabou.

“Minha casa ficou só pela misericórdia. Perdi a geladeira, o fogão. Tudo. Estou procurando uma nova casa para morar de aluguel, mas ainda assim é numa área de risco. Não tenho como pagar em outro lugar”, disse ele, que mesmo com tudo que passou agradece por não ter perdido a vida na tragédia anunciada no Estado, que deixou 128 mortos por alagamentos e deslizamentos de terra desde 26 de maio, início da precipitação mais forte.

A história de Felipe se repete nos 123 abrigos de 31 municípios de Pernambuco, que viraram a residência temporária de 61.596 pessoas encontram-se desalojadas - pessoas que deixaram suas casas por prevenção ao desastre - e 9.631 desabrigadas - pessoas cuja habitação foi afetada e representa perigo, o que impede o retorno.

Muitos deles já retornam até a casa onde viviam para fazer limpeza, ver o que sobrou e o que dar para ser reaproveitado. Outros, entram em contato com parentes para buscar um lar.

Isso porque a instituição onde Felipe está, a Escola Municipal Celia Arraes, na Várzea, deve deixar de ser um ponto de apoio em breve, segundo a diretora Ana Beatriz Silva. “Estamos conversando para saber quando eles devem sair, porque as crianças precisam voltar a estudar. Fico preocupada, porque sei que não têm para onde ir”, desabafou, chorando.

Abrigo na Escola Municipal Celia Arraes, na Várzea, Zona Oeste do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Abrigo na Escola Municipal Celia Arraes, na Várzea, Zona Oeste do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Abrigo na Escola Municipal Celia Arraes, na Várzea, Zona Oeste do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Abrigo na Escola Municipal Celia Arraes, na Várzea, Zona Oeste do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Abrigo na Escola Municipal Celia Arraes, na Várzea, Zona Oeste do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Abrigo na Escola Municipal Celia Arraes, na Várzea, Zona Oeste do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Abrigo na Escola Municipal Celia Arraes, na Várzea, Zona Oeste do Recife - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Apesar de se demonstrarem gratas pela segurança temporária, os desalojados e desabrigados se veem com as mãos na cabeça, sem saber o que farão a partir da saída das escolas. Isso porque o valor indenizatório que será dado pelo poder público pouco dará para recomeçar a vida. Pelo Governo de Pernambuco, será de R$ 1,5 mil, enquanto a Prefeitura do Recife acrescentará mais R$ 1 mil.

“Só sobrou uma televisão e o som. O resto estragou, até os móveis. Foi muita lama, bateu o peito. Ainda tem uma rachadura para ajeitar. Foi um desespero da poxa”, disse o auxiliar de limpeza Paulo Luiz da Silva, 53. O medo dele é que volte a chover onde mora, a comunidade ribeirinha da B13, na Várzea. “Quando começa a chover, já penso se já está enchendo lá.”

Auxílio às vítimas

Na manhã desta segunda-feira (6), o prefeito João Campos (PSB) afirmou que todas as famílias que passaram por abrigos já estão cadastradas para receber o auxílio, e que a Prefeitura vem fazendo uma busca ativa das pessoas prejudicadas em áreas alagadas e de vulnerabilidade social. “Sabemos que isso não resolve tudo, mas essa é uma forma emergencial de dar um suporte tendo em vista o impacto de uma magnitude muito grande causado na cidade”, disse o gestor.

No Recife, cerca de 2 mil famílias vão receber a ajuda, ainda em prazo indeterminado. “Assim que o cadastro é feito a pessoa recebe no WhatsApp o comprovante de que está sendo analisado. Caso aprovado, a família recebe um indicativo de uma ordem de pagamento. Não precisa ter conta bancária, nem documento; ela vai receber a informação para ir em tal agência bancária, vai lá e saca o recurso.

Por nota, a Prefeitura do Recife garantiu que os 18 equipamentos em funcionamento provisoriamente como abrigos e pontos de apoio, sendo 9 unidades de ensino municipais, só serão desativados quando todas as 1.221 pessoas abrigadas conseguirem retornar para seus lares. "A gestão informa que a desocupação dos espaços é analisada caso a caso e que, no ápice do cenário das chuvas, contabilizou 25 unidades de ensino abrigando as famílias.

Como chegamos até aqui?

O desastre que aconteceu na última semana em Pernambuco não foi aleatório. Um conjunto de reportagens do JC mostrou as causas, efeitos, o que poderia ser feito para preveni-lo e o que deve ser implementado a partir de agora para que novas tragédias não se repitam - e para que mais vidas não sejam perdidas. Confira:

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