Um grupo de moradores de Setúbal protesta contra a instalação de um Centro Especializado de Atendimento da População em Situação de Rua (Centro POP), da Prefeitura do Recife, na região do bairro de Boa Viagem, na Zona Sul. Para isso, recolheu 4 mil assinaturas em um abaixo-assinado e realiza passeatas semanalmente.
Eles denunciam uma falta de comunicação com o poder municipal, já que souberam informalmente que uma casa na Rua Sargento Waldir Correia havia sido alugada com esse propósito. Ainda, dizem temer que a implantação do espaço atraia criminalidade para a área.
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Hoje, a cidade conta com duas instituições do tipo: o Centro POP Glória, situado na Rua Bernardo Guimarães, nº 135, em Santo Amaro, área central, e o Centro POP Neuza Gomes, na Rua Dr. João Coimbra, nº 66, Madalena. Mensalmente, os equipamentos atendem, juntos, cerca de mil usuários.
O espaço oferta banho, alimentação, guarda de pertences e encaminhamentos para outros serviços da rede municipal para as pessoas em situação de rua. Lá, elas também podem retirar novos documentos e recomeçar a vida.
O presidente do Unificados pela Pop Rua, Rafael Araújo, é contra o movimento dos moradores de Setúbal, já que considera os Centros Pop como um instrumento para fazer com que as pessoas superem as ruas.
“Boa Viagem já tem a segunda maior concentração de população de rua do Recife. O Centro vai ser capaz de organizá-la, criar documentos para essas pessoas e possibilitar projetos de vida. É um efeito contrário ao que dizem”, afirmou.
A iniciativa torna menos desumana a situação das pessoas em situação de rua na capital - 1.400, segundo última contagem da Prefeitura do Recife, feita em 2019. Um novo censo é feito em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), com previsão de que seja concluído em dezembro.
Mesmo sem o resultado, o aumento dos sem-teto nos últimos anos é claro na capital pernambucana. Junto a isso, vem a carência assistencial. Isso porque a rede de acolhimento do Recife conta com apenas 619 vagas distribuídas por 16 unidades, das quais 80% se encontravam ocupadas na semana da publicação desta reportagem.
Em junho de 2021, o município anunciou a contratação de 200 vagas em hotéis e pousadas para acolher esse público, mas só possui uma instituição cadastrada hoje, a Pousada Solar do Lazer, que acomoda 60 pessoas. "As pessoas são levadas para a hospedagem de forma gradativa, a partir de uma seleção de perfil e possibilidade de adaptação. O edital foi relançado e segue aberto para inscrever novos interessados", disse o município.
Érica pontua que os moradores não têm “nada contra as pessoas em situação de rua” e que concordam que elas precisam de acolhimento, mas não em uma área residencial com estabelecimentos como escolas e clínicas médicas. O grupo cobra uma resposta do município, que tinha sido prometida para 12 de julho.
Em contato com o município, o JC não obteve uma confirmação se, de fato, o Centro Pop seria instalado no endereço indicado pelos moradores - apenas que há intenção da Prefeitura do Recife em fazê-lo na Zona Sul da cidade. Confira resposta:
"Entre os pilares do Programa Recife Acolhe, lançado pela Prefeitura do Recife em 2021, está a expansão dos equipamentos da rede socioassistencial para atender a população em situação de rua. A Secretaria prevê a abertura de um Centro Especializado de Atendimento da População em Situação de Rua (Centro POP) na Zona Sul do Recife com o objetivo de atender às pessoas em situação de rua que vivem nessa parte da cidade."
Quem circula por Pernambuco percebe que a vida piorou. O Estado, conhecido pelo bairrismo da população e pela megalomania de querer ser o maior, o melhor e ostentar recordes, é apontado em vários rankings negativos.
Entre 2019 e 2021, Pernambuco foi o Estado em que a pobreza mais cresceu no Brasil, com taxa de 8,14%. Pelos dados do Mapa da Nova Pobreza, divulgado pela FGV Social, são 1,6 milhão de pessoas vivendo com uma renda de, no máximo, R$ 497 por mês.
Pernambuco também está no topo do ranking do desemprego. Em 2021, o Estado registrou a maior taxa do Brasil, com quase 20% (19,9%) da população em idade para trabalhar sem emprego. A desocupação ficou bem acima da média nacional de 13,2%.