Candidata a prefeita do Recife, Patrícia Domingos fala em intimidação após notificação da corregedoria

Patrícia fez um vídeo em fevereiro explicando as razões de se filiar ao Podemos e, ainda, falou sobre o fim da Decasp
JC
Publicado em 24/09/2020 às 15:56
DEFESA Candidatura alega que a notificação tem finalidade política Foto: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM


A delegada Patrícia Domingos (Podemos), candidata à prefeita do Recife, fez um pronunciamento em suas redes sociais, nesta quinta-feira (24), afirmando ter sido notificada pela corregedoria da polícia por uma declaração feita, ainda em fevereiro deste ano, quando se filiou ao Podemos. Ao lado de seu corpo jurídico, ela disse não aceitar qualquer tipo de interferência em sua campanha. 

"Fui surpreendida com uma notificação da corregedoria solicitando que eu explicasse uma fala minha de fevereiro desse ano. Em vídeo feito quando me filiei ao Podemos, eu narrei minhas razões de me filiar e falei do fechamento da Decasp. Fui surpreendida com o pedido de explicação de um fato que ocorreu em fevereiro vir agora, que acabei de ser declarada candidata. O documento tem a data de fevereiro e sou notificada agora na condição de candidata, durante a campanha eleitoral. Não aceito esse tipo de desrespeito, acionei os advogados, mas já adianto, não permitiremos que esse tipo de ação aconteça durante a campanha, não estamos aqui para sofrer esse tipo de intimidação", afirmou.

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O advogado Rodrigo Almendra participou do pronunciamento ao lado de Patrícia e disse que foi surpreendido pelo motivo da notificação. "Estamos diante de uma narrativa que noticiou as razões pelas quais ela iria se candidatar no Recife. Nada, absolutamente nada, de ofensivo a justificar a abertura de um procedimento administrativo, quiçá de uma investigação preliminar. Surpreende o momento em que isso ocorreu, com nítida finalidade política, de perseguição, de intimidação e isso não pode acontecer", afirmou. 

Confira o pronunciamento de Patrícia, que tem início após dois minutos do vídeo: 

O advogado Delmiro Campos, que também integra o corpo jurídico da candidata, lembrou que ela está licenciada e, assim, os processos de cunho administrativo deverão ser suspensos. "Observamos um interesse manifesto de causar repercussão no processo democrático eleitoral na cidade do Recife. Patrícia, na medida em que se desincompatibiliza, na medida em que exerce o legítimo direito de filiada partidária, seu direito político-partidário, não pode ficar à margem de suas garantias. Assim como está tutelada sua legítima desincompatibilização de licenciamento, todos os procedimentos de cunho administrativo devem ser sobrestados", declarou.

Decasp

Desde 2018, Patrícia não esconde sua insatisfação pela decisão do governo Paulo Câmara (PSB) de extinguir a Delegacia de Crimes contra a Administração e Serviços Públicos (Decasp), na qual Patrícia era delegada titular, e substituí-la pelo Departamento de Repressão ao Crime Organizado (Draco). Inclusive, em agosto passado, ao lançar sua pré-candidatura, ela relembrou o fato. "Durante quatro anos eu trabalhei na Descasp. Nesses quatro anos, realizamos 15 grandes operações policiais, foram presas 49 pessoas, incluindo políticos corruptos, empresários corruptos, funcionários públicos envolvidos em desvio de dinheiro. O primeiro prefeito preso na história de Pernambuco. Foram as primeiras operações contra a corrupção no Estado e eu tenho muito orgulho de ter feito parte disso”, disse. "Se fecharam a minha arena, eu vou lutar na arena deles e vencê-los na arena deles. Se é no campo da política, então é para lá que eu vou para derrubá-los", complementou.

Mas, o que Patrícia disse em fevereiro que pode ter desencadeado a notificação? Em suas redes sociais, a delegada fez uma publicação em 6 de fevereiro deste ano, com trecho de sua fala em Brasília, quando entrou para o Podemos, ao lado do senador Álvaro Filho e do deputado estadual, Ricardo Teobaldo, e se colocou à disposição para disputar no Recife. Na ocasião, ela disse que descobriu "da forma mais cruel" que não é possível mudar o sistema de "fora para dentro". "Quando a delegacia que nós titularizávamos, de combate à corrupção, foi fechada, tivemos a interrupção de um importante trabalho que defendia os interesse republicanos, que defendia a nação pernambucana do mau uso e das más gestões públicas. Naquele momento, eu disse a mim mesma, que eu escrevo a história da minha vida. Hoje compreendi, com esses fatos, que você pode mudar o sistema de dentro para fora", afirmou.

Confira a fala de Patrícia de fevereiro de 2020:

Outro lado

A Corregedoria Geral da SDS informou, por meio de nota, que encaminhou para Patrícia Domingos, por e-mail, uma solicitação de esclarecimento sobre a declaração de que "o fechamento da antiga Decasp interrompeu um importante trabalho de combate à corrupção”.

Segundo a secretaria, a delegada não está sendo acusada e nem é ré em Processo Administrativo Disciplinar (PAD) referente a esse caso. "Apenas, foi interpelada a esclarecer, detalhar ou aprofundar sua afirmação, o que poderá ser feito a distância em um período de até 15 dias. Esse é um procedimento ordinário da Corregedoria, que visa garantir o espaço à ampla defesa e ao contraditório, para então haver uma definição de abertura de PAD ou arquivamento da Investigação Preliminar (IP)", diz trecho da nota.

Ainda segundo a Corregedoria, a solicitação de esclarecimento, sete meses após a declaração, obedeceu aos prazos de instauração de investigação preliminar, coleta de elementos, nomeação de uma autoridade (um delegado de Polícia Civil) para apurar a denúncia e a distribuição do processo. "Atualmente, 1.000 IPs, envolvendo servidores das Forças de Segurança de Pernambuco, tramitam na Corregedoria. Vale lembrar que o período eleitoral não altera os prazos estabelecidos para conclusão ou prescrição de procedimentos correcionais. Por isso, os trabalhos são conduzidos, de forma técnica, legal e isenta, durante esse calendário, assim como nas demais épocas do ano", concluiu a nota da SDS.

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