Matéria atualizada às 22h46
Eleito prefeito do Recife neste domingo (29), João Campos (PSB), que, aos 27 anos, será o mais jovem gestor da capital pernambucana, aproveitou seu discurso após a vitória nas urnas para agradecer aos eleitores e disse que governará para todos os recifenses. "Fomos eleitos para ser o prefeito de todos os recifenses, independente de como a pessoa votou nessa eleição, de qual é o seu credo, raça, sua cor ou local onde mora. Nós governaremos para todos os recifenses dessa cidade", declarou o prefeito eleito. "Vamos governar junto do povo todos os dias", acrescentou João, afirmando que, dessa forma, irá superar os desafios do município.
» João Campos (PSB) é eleito prefeito do Recife, vencendo Marília Arraes (PT)
Ovacionado por militantes e aliados, o socialista entrou no Salão Limoeiro do Recife Praia Hotel, na Zona Sul, ao som da tradicional marchinha de carnaval "Madeira que Cupim Não Rói", de Capiba. Alguns apoiadores chegaram a lembrar da chapa formada pelos pais dos candidatos, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e Roldão Joaquim, que disputaram pela primeira vez a Prefeitura do Recife em 1992, mas saíram derrotados pelo senador Jarbas Vasconcelos (MDB). "A história se repete, mas com um final diferente", comentou um aliado, referindo-se a vitória de João Campos e Isabella de Roldão, em sua primeira corrida majoritária . Estiveram presentes o governador Paulo Câmara (PSB), o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), o presidente da Assembleia Legislativa, Eriberto Medeiros (PP), os presidentes estaduais dos partidos da Frente Popular, como Augusto Coutinho (Solidariedade), Silvio Costa Filho (Republicanos), Raul Henry (MDB), André de Paula (PSD).
Como esperado, o agora prefeito do Recife fez questão de mencionar o seu pai, morto em um acidente aéreo, durante a campanha presidencial em 2014. “Não tem como vir aqui hoje, celebrar essa vitória, e não fazer uma homenagem e lembrar daquele que é referência na minha vida e na política, como pessoa e cidadão, que é o meu pai Eduardo Campos. Eu lembro quando ele disse uma vez, sempre que puder ajudar alguém, ajude e não queria nada em troca. E sempre que fizer alguma coisa na vida, faça bem feito. Nós vamos fazer o que Eduardo Campos nos ensinou, na cidade do Recife”, afirmou João.
Sobre os próximos quatro anos, João Campos ressaltou que se dedicará integralmente a governar a cidade. "Recebi uma responsabilidade enorme, mas tão grande quanto essa responsabilidade vai ser minha dedicação para cuidar do Recife. Os próximos quatro anos da minha vida serão dedicados de maneira integral ao cuidado da cidade. Vai ser de manhã, de tarde e de noite, sábado, domingo, feriado e dia santo, porque eu não entro em nada da vida pela metade", declarou, sob aplausos.
Outro ponto em seu pronunciamento, foi com relação ao compromisso de seu governo com as mulheres. Durante o segundo turno, João Campos foi acusado pela campanha de sua adversária Marília Arraes, de usar ataques de cunho machista contra ela . Ao agradecer à Isabella, ele disse que sua participação na chapa majoritária "mostrou que todas as mulheres vão ser olhadas com muito carinho, atenção e muito respeito".
A vitória da ex-secretária de Habitação do Recife, inclusive, passa a representar um fôlego maior do seu partido, o PDT, que não conseguiu eleger nenhum dos seus candidatos à Câmara Municipal. Além de ter rachado internamente após rifar a pré-candidatura a prefeito do deputado federal Túlio Gadêlha.
Após seu discurso, João Campos seguiu em um carro aberto para o seu comitê, junto com o prefeito do Recife, Gerado Julio, Isabella de Roldão, sua namorada, a deputada federal por São Paulo Tabata Amaral (PDT) - que participou ativamente durante toda a campanha. Eles foram recepcionados por uma multidão vestida de amarelo e com várias bandeiras.
Com 447.913 votos (56,27%), o deputado federal derrotou nas urnas a sua prima, e igualmente deputada federal, Marília Arraes (PT), que conquistou 348.126 votos (43,73%%). O socialista sagrou-se vencedor de uma das eleições mais disputadas do País em 2020, tornando-se prefeito aos 27 anos e dando continuidade à gestão do PSB na cidade, até então comandada por Geraldo Julio. Neste segundo turno, os votos brancos e nulos no Recife totalizaram, respectivamente, 3,48% (31.717) e 9,17% (83.558). Abstenção, 21,26% (246.010).
João Henrique de Andrade Lima Campos, 27 anos, contou com o maior bloco de partidos aliados no primeiro turno: a Frente Popular do Recife (PSB, PDT, PV, Rede, Republicanos, PSD, MDB, Avante, Solidariedade, PCdoB, PP e PROS). O socialista comandará a cidade com a vice-prefeita Isabella de Roldão (PDT), ex-vereadora e ex-secretária de Habitação do Recife.
Campos formou-se em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2016. Paralelo ao curso sempre atuou junto ao PSB. Em 2014 foi nomeado secretário de Organização Estadual do partido. Dois anos depois, em 2016, foi chamado para ser chefe de gabinete do governador Paulo Câmara (PSB).
Em 2018, disputou sua primeira eleição para uma vaga na Câmara dos Deputados, sendo eleito com 460.637 votos, tornando-se o deputado federal mais votado da história de Pernambuco. Também em 2018, foi alçado ao posto de vice-presidente Nacional de Relações Federativas do PSB.
Apesar de um primeiro turno morno, as eleições municipais no Recife tomaram outro rumo no segundo turno. Em jogo, entre João Campos e Marília Arraes esteve a disputa pela herança política do ex-governador Miguel Arraes e também a definição de qual frente esquerdista conquistaria o poder.
No primeiro turno, João Campos foi o candidato a ser batido, alvo dos adversários de partidos de direita e centro-direita, mas também do PT de Marília Arraes. Por esse motivo, no discurso, Campos se mantinha na defensiva, reconhecendo o que fora feito ao longo de oito anos pelo PSB, mas sempre reforçando o posicionamento de que enxergava erros e necessidade de mais avanços na cidade. No segundo turno, o socialista partiu para o ataque, reforçando o anti-petismo e trazendo à tona denúncias contra a sua adversária.
Os ânimos aflorados colocam em xeque agora os 20 anos nos quais PSB e PT vêm alternando o comando da cidade. Esta eleição tem sido considerada o ponto de partida sobre as novas circunstâncias de cisão que poderão existir entre as duas legendas, inclusive a nível nacional.
Além de política, a disputa também expôs as divergências familiares. Marília é neta do ex-governador Miguel Arraes, de quem herdou seu interesse pela política. João Campos é filho do ex-governador Eduardo Campos, neto da atual ministra e vice-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) Ana Arraes, e bisneto de Miguel Arraes.
As propostas do candidato a prefeito João Campos passam por áreas da saúde, educação, saneamento básico, mobilidade, causa animal, emprego e renda. Entre as promessas voltada para a primeira infância, o socialista garante que irá aumentar em 50% o número de creches e criar o Praças da Infância, espaço para atividades físicas e recreativas, inclusive de crianças com deficiência. Outro projeto, voltado para quem anda de bicicleta pela cidade, trata da ampliação da malha cicloviária em 100 km, ligando a via da Zona Sul a Zona Norte.
Para o centro do Recife, uma das questões mais debatidas nesta eleição, João Campos promete criar um escritório de otimização para a gestão dos bairros centrais, requalificar as avenidas Dantas Barreto e Guararapes para estimular a moradia, e transformar a rua do Bom Jesus numa via exclusiva para pedestres e ciclistas.
Para estimular o emprego e renda, consta entre os projetos do socialista o Embarque Digital, que irá disponibilizar 500 bolsas em cursos com formação tecnóloga para estudantes da rede municipal de ensino, para que possam atuar profissionalmente na área de tecnologia. Além disso terá a agência Desenvolve Recife, que será um centro de empreendedorismo reunindo Sala do Empreendedor, Agência do Trabalho, cursos de capacitação e Crédito Popular.