O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Pernambuco (OAB-PE), Bruno Baptista, disse considerar que a invasão do Congresso dos Estados Unidos na quarta-feira (6) por extremistas apoiadores do presidente Donald Trump dá uma sinalização da necessidade de vigilância contínua do funcionamento das instituições democráticas do País.
"A gente acha sempre que a nossa democracia está segura, consolidada, mas momentos como esse mostram que em todo lugar a gente está vigilante no tempo todo e, principalmente, não existe pessoa nenhuma acima das instituições", avaliou o presidente.
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Manifestantes extremistas invadiram o capitólio americano na quarta (6) para impedir a confirmação da eleição de Joe Biden pelo Congresso. "Acho que para todo mundo que estava assistindo, ver a democracia mais antiga e talvez mais consolidada do mundo ser alvo de um ataque como esse foi absolutamente surpreendente. Não foi uma revolta, uma revolução, está mais para uma revolta de pequenas proporções, mas o capitólio é um símbolo da democracia", disse ele.
Na visão de Bruno Baptista, no Brasil já existe um discurso de descredibilizar a apuração das eleições pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), assim como está sendo feito por Trump nos EUA. Esse discurso, segundo ele, pode servir como uma preparação para o negacionismo do próprio resultado do pleito.
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Nesta quinta-feira (7), ao comentar sobre o episódio ocorrido no capitólio, Bolsonaro voltou a questionar a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro. Ele afirmou que, caso o voto impresso não seja implementado no País nas próximas eleições presidenciais de 2022, "uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos", disse.
Mais uma vez, Bolsonaro repetiu o discurso de Trump ao afirmar que houve fraude na apuração das eleições presidenciais dos Estados Unidos que sagraram Joe Biden como novo presidente. "Lá, o pessoal votou e potencializaram o voto pelos correios por causa da tal da pandemia e houve gente que votou três, quatro vezes, mortos votaram, foi uma festa lá. Ninguém pode negar isso daí", disse Bolsonaro, sem apresentar provas. "E aqui no Brasil, se tivermos o voto eletrônico em 2022, vai ser a mesma coisa. A fraude existe."
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Bruno admite a possibilidade ainda que remota de que um episódio como esse - em uma democracia consolidada como os EUA - ocorra no Brasil. "Mas acho que há uma diferença que no nosso sistema eleitoral é muito mais objetivo, não há necessidade de haver uma confirmação ulterior pelo Congresso. Não tem essas etapas que as eleições americanas tem. O que pode haver no pais é uma revolta a aqueles que foram derrotados nas urnas, com o discurso de fraude", projeta o presidente.
Para o presidente da OAB, a resposta para evitar isso está no fortalecimento das instituições. "Eu acho que a gente tem que batalhar pela imprensa livre, a liberdade do congresso, do Judiciário, o sistema de freios e contrapesos. Eu acho que é fundamental nós ficarmos atentos e sempre repudiarmos qualquer tipo de manifestação antidemocrática. Aqueles que vem exaltando a ditadura, ou não viveram a ditadura ou então enquanto ditadura foram opressores, porque a gente sabe que a própria democracia é que permite que essas pessoas critiquem tragam as suas contribuições", completou Bruno.