Na noite desta sexta-feira (15) o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) concedeu entrevista ao programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan, e falou sobre a crise sanitária no Amazonas, que está com falta de oxigênio para tratar os pacientes com covid-19. O chefe do Executivo Nacional afirmou que gostaria de estar "participando mais ativamente" do enfrentamento à pandemia e alegou que não consegue porque o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que estados e municípios podem tomar as medidas que acharem necessárias para combater o novo coronavírus.
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"O que acontece, o vírus é uma questão em grande parte ainda desconhecida por nós. Eu gostaria de estar podendo participar mais ativamente dessa questão, mas em abril do ano passado, eu fui, simplesmente, proibido pelo Supremo Tribunal Federal de participar das ações, que passaram a ser de responsabilidade exclusivas dos governadores e prefeitos. O caso de Manaus, semana passada a temperatura subiu. Os problemas começaram a aparecer", disse.
Bolsonaro afirmou, ainda, que a decisão do STF foi tomada após o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, assustar os ministro do Supremo. "Essa ingerência de eu participar em ações de combate veio após uma ida do antigo ministro Mandetta ao STF, onde ele falou aos velhinhos coisas que fizeram com que eles ficassem apavorados. O Supremo ficou apavorado e resolveu me 'castrar', mas isso é constrangedor. Nós temos uma equipe bastante qualificada para lidar com isso aí", declarou.
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Sobrecarregado, maior pronto-socorro de Manaus fecha as portas e aciona PM
O Hospital 28 de Agosto, maior pronto-socorro de Manaus, está com as portas fechadas e precisou de ajuda da Polícia Militar para evitar tumulto na entrada. Familiares estão sendo orientados a levar o próprio oxigênio para evitar a morte por asfixia do parente internado. Há relato de pacientes que morreram na maca da ambulância por falta de atendimento.
"Há pessoas morrendo na maca da ambulância porque não tem como entrar no hospital. Estamos aqui para atender e sofremos também", disse o médico José Francisco dos Santos, supervisor de cirurgia no hospital há 35 anos. "A Polícia Militar está em frente à maioria dos hospitais para tentar manter a ordem e evitar a invasão. Estão achando que é o médico que não está deixando entrar. Não é verdade. O médico está lá dentro tentando manter os pacientes vivos. A má gestão da saúde do Estado é que deixou chegar a esse ponto", acrescentou.
A unidade possui 52 leitos de UTI e todos estão ocupados. São ao menos cem pacientes, entre enfermaria e unidade de tratamento intensivo, com necessidade de oxigenação. De acordo com Santos, a situação de calamidade é semelhante em muitos outros hospitais públicos e particulares. No 28 de Agosto, chegou uma nova remessa de oxigênio, mas é insuficiente para manter o fluxo do local na normalidade.
"Temos pedidos de cirurgia de urgência para pacientes que complicaram por covid. Mas temos que esperar o oxigênio chegar para poder botar o paciente na sala. O oxigênio é fundamental para manter um hospital em funcionamento."
Santos contou que há médicos que estão optando pela solução de diminuir fluxo de oxigênio para todos e assim atender mais doentes e evitar a morte por asfixia. "É uma medida de emergência, mas que também tem consequências. Os pacientes ficarão com sequelas pois permanecerão por muito tempo com fluxo baixo de oxigênio. Continuamos em pé de guerra."
Dos cinco andares do 28 de agosto, quatro foram destinados aos pacientes internados pelo coronavírus. O consumo diário de oxigênio no hospital é de 2 a 3 metros cúbicos por hora. A capacidade foi reduzida a um quarto nos últimos dias, segundo Santos.
Na quinta-feira, 14, com a nova explosão de casos de covid no Amazonas, o estoque de oxigênio acabou em vários hospitais de Manaus, levando pacientes internados à morte por asfixia, segundo relatos de médicos que trabalham na capital amazonense. O governo federal anunciou que vai transferir pacientes para outros Estados e pediu ajuda aos Estados Unidos com o fornecimento de um avião adequado para levar cilindros a Manaus.