A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de manter a anulação das condenações do ex-presidente Lula (PT) na Operação Lava Jato, tomada por 8 votos a 3 na última semana, para além de ajudar a dar contornos mais nítidos para o cenário eleitoral nacional do próximo ano, também tem grande potencial para influenciar a disputa que será jogada aqui em Pernambuco, tanto à esquerda quanto à direita.
Em 2018, condenado em segunda instância, Lula foi impedido de disputar a eleição por conta da Lei da Ficha Limpa. Naquele ano, Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, foi escolhido pelo PT para substituir o seu líder maior nas urnas. Apesar de bastante conhecido no Sudeste, Haddad era um completo estranho em regiões como o Norte e o Nordeste, onde costumava até ser chamado de “Andrade”, tal era o distanciamento dos eleitores da sua figura.
Mesmo assim, pelo simples fato de ser o candidato de Lula, “Andrade” conquistou 66,50% dos votos no segundo turno em Pernambuco, enquanto o então candidato Jair Bolsonaro (sem partido) teve 33,50% da preferência do eleitorado do Estado. Junte-se a isso a queda vertiginosa da popularidade do presidente durante a pandemia e o fato de que pesquisas de intenção de voto têm apontado uma vantagem cada vez maior de Lula em cenários de segundo turno contra Bolsonaro em 2022 (levantamento divulgado na última quinta-feira pelo PoderData mostra que o petista teria 18 pontos de vantagem em um eventual segundo turno contra o atual presidente, por exemplo), e fica nítido que nenhuma candidatura que se lance no ano que vem para o Palácio do Campo das Princesas poderá ignorar o “fator Lula” no jogo.
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O grupo de centro-direita que em 2018 apoiou o ex-senador Armando Monteiro (PSDB) na disputa pelo governo estadual ainda não definiu a estratégia que será adotada no próximo pleito, se apenas um ou mais nomes serão lançados para representar o coletivo. O que se sabe até agora é que a escolha provavelmente se dará entre os prefeitos de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL); de Petrolina, Miguel Coelho (MDB); ou de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB).
E é exatamente aí que o “fator Lula” entraria na decisão do grupo. Sendo Miguel filho do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), líder do governo Bolsonaro no Senado, e Anderson irmão do deputado federal André Ferreira (PSC), vice-líder do governo na Câmara, valeria a pena investir nas candidaturas de figuras tão ligadas ao principal adversário do ex-presidente petista aqui no Estado?
Na visão de Armando, ainda é cedo para dizer que sim ou que não. “As oposições vão definir uma estratégia comum quando houver clareza com relação aos palanques nacionais. Se vamos lançar uma ou duas candidaturas, isso não está claro no momento. Se o Lula for candidato, essa é uma realidade com a qual nós vamos ter que conviver, mas, apesar disso, no meu entendimento a eleição nacional não é definidora da eleição local. Não se desconhece a força de Lula na região, em Pernambuco, mas não vai ser isso que vai definir a eleição local. Em 1994, por exemplo, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi eleito presidente, Miguel Arraes (PSB) tornou-se governador”, observou o ex-senador.
O deputado federal Daniel Coelho (CID), por sua vez, é taxativo ao afirmar que em 2022 não estará em um palanque que apoie a reeleição de Bolsonaro. Segundo o parlamentar, inclusive, um candidato que se proponha a apoiar o presidente terá grandes dificuldades para vencer o pleito. “Buscamos um palanque que não apoie Bolsonaro ou Lula. Acho que a condução de Bolsonaro na vacinação e nas ações de combate à pandemia de covid-19 dificultará a vida de qualquer candidato majoritário que apoie sua reeleição, não só em Pernambuco, mas em todo Brasil”, argumentou o parlamentar.
Cientista político da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Antônio Lucena corrobora com a visão de Daniel. “A avaliação do presidente Bolsonaro aqui em Pernambuco é ruim, de maneira geral, então ter uma candidatura atrelada ao bolsonarismo faz com que você perca votos. O eleitorado fiel do bolsonarismo existe, mas ele não é suficiente para garantir que você ganhe uma eleição. O mais interessante para o grupo de oposição seria apostar no centro”, detalhou.
O docente diz, ainda, que caso a oposição decida por se fragmentar, esse movimento pode gerar um resultado semelhante ao de 2020 no Recife, quando o grupo não conseguiu sequer chegar ao segundo turno. “Lançar duas candidaturas talvez não seja o ideal porque isso vai fragmentar ainda mais a oposição, e vale lembrar que essa fragmentação favoreceria o PSB, porque ele tem melhores condições de negociar com outros partidos do que o bolsonarismo, por exemplo”, cravou Lucena.