Uma comissão de deputados estaduais foi recebida nesta terça-feira (8) pelo governador Paulo Câmara (PSB) no Palácio do Campo das Princesas para debater as investigações sobre a ação policial que acabou com duas pessoas gravemente feridas no dia 29 de maio, durante um protesto contra o governo Bolsonaro no Recife. De acordo com o socialista, os parlamentares foram informados sobre as providências adotadas pelo Executivo para auxiliar as vítimas e identificar os responsáveis pelo ataques.
"Desde o primeiro momento, nossa disposição nesse caso é de transparência em todas as decisões, e de rigor no acompanhamento das investigações. Também informamos os deputados sobre as medidas de amparo às vítimas e o compromisso em rever protocolos para aprimorar, a cada dia, as ações da Polícia e de qualquer agente do Estado", afirmou Paulo Câmara, por nota.
>> Homem que perdeu visão após ação da PM em protesto no Recife diz que está 'desestruturado'
>> Deputados e vereadores pernambucanos comentam a saída de Antônio de Pádua do comando da SDS
Participaram da reunião o líder do governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Isaltino Nascimento (PSB), o presidente da Casa, Eriberto Medeiros (PP); o líder da oposição, Antônio Coelho (DEM); e os deputados Waldemar Borges (PSB, presidente da Comissão de Constituição, Legislação e Justiça), Teresa Leitão (PT, representante da Comissão de Educação e Cultura), Jô Cavalcanti, das Juntas, (PSOL, presidente da Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular), e Fabrizio Ferraz (PP, presidente da Comissão de Segurança Pública e Defesa Social).
Segundo Isaltino, o encontro demonstrou o compromisso da gestão estadual em tratar esse caso com seriedade e transparência. "Tivemos uma conversa esclarecedora, com a presença dos colegas representantes do Legislativo, onde nos foi apresentada a condução séria do Estado a esse assunto, com todo o rigor que exige", pontuou.
Mesmo classificando o gesto do governador de receber a comissão como "cordial", Antônio Coelho disse que a impressão passada durante o encontro é de que não há consenso no governo sobre quem teria dado a ordem para a PM agir durante a manifestação. Por isso, o democrata diz que ainda defende a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para que os fatos sejam devidamente apurados.
"Até o momento, temos 13 das 17 assinaturas necessárias para que a Comissão possa funcionar. Um cenário que demonstra uma aderência suprapartidária à criação da Comissão Parlamentar", afirmou Coelho. O parlamentar, porém, não deixou de alfinetar os deputados de esquerda da Assembleia que não apoiam a abertura da CPI, grupo que, segundo ele, "deveriam ser os principais interessados em esclarecer o acontecido". "É estranho que eles não queiram assinar o requerimento da CPI", disse.
O mandato coletivo Juntas (PSOL), que preside a Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular, também esteve no encontro. Segundo a deputada Jô Cavalcanti, o balanço da conversa é positivo, sobretudo porque o governador mostrou-se aberto a reavaliar os protocolos adotados pela Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) durante manifestações. "O que aconteceu no dia 29 não foi um fato isolado, isso já ocorreu em Amaraji, por exemplo, e em um protesto onde um ambulante levou dez tiros com balas de borracha. A Polícia Militar é uma corporação importante para a segurança pública de Pernambuco, mas precisa rever o modo como age nesses atos e ficamos satisfeitas em ver que o governador está disposto a promover essa revisão", observou.
"A reunião valeu por ter existido. Valeu no sentido de valorizar a Assembleia Legislativa, que foi quem solicitou o encontro. Fizemos todas as colocações possíveis, todos os deputados presentes falaram, e saímos de lá com a informação de que as investigações estão em curso em várias áreas. Nós propusemos uma alteração nos roteiros de atuação em manifestações de rua, até porque elas não vão parar e a gente não pode ver uma repetição do que a gente viu naquele sábado. Além disso, a gente ficou sabendo como está sendo o encaminhamento do apoio aos rapazes que foram atingidos no olho e pedimos que a Assembleia acompanhe par e passo as investigações e seja informada de tudo o que for feito, e tudo isso foi acatado pelo governador", detalhou a deputada Teresa Leitão.
APURAÇÃO
Na última segunda (7), a Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que 16 policiais militares, entre praças e oficiais, foran afastados das suas funções por envolvimento na ação que deixou duas pessoas gravemente feridas durante protesto contra o governo Bolsonaro no Recife. As investigações, contudo, ainda não foram concluídas.
Os dois trabalhadores atingidos no olho durante o ato estão recebendo auxílio do governo estadual de dois salários mínimos mensais, durante três meses. Uma indenização também está sendo negociada no momento.