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'Não é hora de palco', dizem deputados de esquerda sobre CPI para investigar ação policial em protesto no Recife

Parlamentares do PSOL, PT e PCdoB se pronunciaram após o líder da oposição na Alepe, Antônio Coelho (DEM), afirmar que achava "estranho" eles não apoiarem a apuração legislativa

Cadastrado por

Renata Monteiro

Publicado em 09/06/2021 às 19:12 | Atualizado em 09/06/2021 às 19:19
Protesto com críticas ao então presidente Bolsonaro, em 29 de maio de 2021, acabou em confronto - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Um dia depois de Antônio Coelho (DEM), líder da oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), afirmar que achava "estranho" os deputados de esquerda da Casa não apoiarem a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a ação policial durante o protesto do dia 29 de maio no Recife, cinco deputados do PT, PSOL e PCdoB divulgaram uma nota conjunta afirmando que "não é hora de palco, é momento de investigações sérias e responsáveis". Na última terça-feira (8), um grupo de parlamentares foi recebido pelo governador Paulo Câmara (PSB) no Palácio do Campo das Princesas para que o chefe do Executivo estadual explicasse as providências tomadas até o momento com relação ao caso, tanto no que diz respeito à responsabilização dos responsáveis pelo ataque aos manifestantes, quanto ao apoio que está sendo dado pelo Estado aos trabalhadores que perderam parcialmente a visão no ato.

O texto publicizado pelas Juntas Codeputadas (PSOL), Teresa Leitão (PT), Dulci Amorim (PT), Doriel Barros (PT) e João Paulo (PCdoB) começa dizendo que o grupo, que em sua maioria se coloca hoje como independente na Alepe, deseja uma "repactuação da segurança pública em Pernambuco" e que, como ponte entre diversos movimentos sociais, sabe que "a truculência da Polícia Militar de Pernambuco não começou no dia #29M, mas teve no ato #ForaBolsonaro uma dimensão institucionalizada, com vítimas que tiveram danos irreversíveis na visão e no futuro".

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Os deputados afirmam, ainda, que tanto durante quanto depois da manifestação, têm buscado respostas junto ao governo sobre o planejamento e execução da "operação policial desastrosa" e que querem "respostas, indenização justa e proteção para as vítimas Daniel e Jonas, além de uma mudança de rota da polícia no Estado". O adesivador Daniel Campelo, de 51 anos, e o arrumador de contêiner Jonas Correia, de 29, perderam parcialmente a visão após terem sido atingidos por disparos de balas de borracha durante a ação da PM para dispersar as pessoas que participavam do ato. Na ocasião, a vereadora Liana Cirne (PT) também foi agredida pelos militares com um jato de spray de pimenta no rosto.

"Pela Assembleia Legislativa de Pernambuco, com os encaminhamentos do presidente Eriberto Medeiros, e em posições individuais dos mandatos que assinam esta nota, fomos veementes na denúncia da violência, na cobrança para apuração das responsabilidades e para assistência às vítimas do Estado. Fomos e continuaremos a ser implacáveis e exigentes para elucidação dos fatos. Estivemos presentes no encontro com o então Secretário Antônio de Pádua e na reunião com o Governador Paulo Câmara. Estamos conscientes e atuantes, agindo conforme a nossa responsabilidade parlamentar", acrescenta o comunicado.

O grupo continua afirmando que cobra do Estado informações sobre como a PM vai atuar nos próximos atos que ocorrerem no Estado, mas considera "importantes avanços" o afastamento de 16 policiais e as mudanças nos comandos da PMPE e da Secretaria de Defesa Social. Sobre o fato de o governador ter assumido, ontem, a necessidade de revisão dos protocolos da corporação durante manifestações, os deputados afirmam que vão "acompanhar de perto essa revisão para garantir que não contemplem repressão e que os treinamentos policiais passem a visualizar a população (manifestante ou não) como seres humanos, não mais como alvo".

"CPI da PM"

O texto segue informando que há, na Alepe, a tentativa de criação de uma "CPI da PM", que, segundo os parlamentares que assinam a nota, sequer tem um objetivo específico, mas estaria sendo organizada "por uma bancada que apoia o armamento da população e aplaude ações violentas da
polícia. Uma bancada que não quer uma outra segurança pública".

"Nestes termos, nos parece incoerente integrar uma comissão que ainda não informou o que, de fato, irá investigar, quando há propostas de debate público na Comissão de Segurança e quando nossa fiscalização ampla do ocorrido vem surtindo efeito e não irá arrefecer. Não é hora de palco, é momento de investigações sérias e responsáveis", disparou o grupo.

Os deputados também dizem que já participaram de várias mobilizações populares, mas, da parte deles, "nunca se viu aplauso à truculência policial, muito menos deboche à manifestantes. Nenhum de nós usou as redes sociais com imagem forjadas ou ofensas à vereadora Liana Cirne e às entidades organizadoras do ato público". Por conta disso, declaram os parlamentares, vão continuar usando os seus mandatos para cobrar do governo e acompanhar as investigações.

No fim do texto, o grupo frisa que, caso achem ser necessária a instalação de uma CPI na Alepe, eles mesmos a proporão, "sem vícios de origem, sem natureza dispersa, com foco, e com objetivo declarado".

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