GRAVAÇÃO

'Qual o problema? Vão matar?', pergunta mulher de Queiroz em áudio, após marido ser escondido por advogado dos Bolsonaro

Fabrício Queiroz é apontado como o operador da 'rachadinha' no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj)

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Marcelo Aprígio

Publicado em 06/07/2021 às 7:42
Márcia Aguiar e seu esposo, Fabrício Queiroz - REPRODUÇÃO

Após áudios da ex-cunhada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) virem à tona, implicando o mandatário em um suposto esquema ilegal de entrega de salários de funcionários de seu gabinete, quando era deputado federal, agora foi a vez de gravações, em tom de desabafo da cabeleireira Márcia Aguiar, mulher de Fabrício Queiroz, apontado como o operador da 'rachadinha' no antigo gabinete do senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Os áudios foram divulgados nesta terça-feira (6) pelo portal UOL.

Na gravação, Márcia conversa com uma amiga e afirma não suportar mais ter Queiroz longe da casa da família no Rio de Janeiro. Em novembro de 2019, o ex-assessor de Flávio era obrigado a ficar na casa do advogado Frederick Wassef, que representa a família Bolsonaro, em Atibaia, no interior de São Paulo. Foi lá, que o ex-policial-militar foi preso pela Polícia Civil paulista no âmbito da Operação Anjo.

"Só que eu também não tô aguentando. Tá entendendo? Eu tô muito preocupada com ele. A minha saúde também está abalada, tá entendendo? A gente não pode mais viver sendo marionete do 'Anjo'. Ah, você tem que ficar aqui, traz a família. Esquece cara, deixa a gente viver a nossa vida!", desabafa Márcia. "Qual o problema? Vão matar? Ninguém vai matar ninguém, se tivesse que matar já tinha pego um filho meu aqui, você tá entendendo? Então deixa a gente viver a nossa vida aqui com a nossa família", completa a mulher de Queiroz.

Caso Coaf

Segundo o UOL, o áudio de Márcia Aguiar é do dia 26 de novembro de 2019. À época, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgava a legalidade do compartilhamento de dados da Receita Federal e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com os órgãos de investigação, como os Ministérios Públicos.

A expectativa do advogado dos Bolsonaro a Suprema Corte considerasse ilegal o compartilhamento e, com isso, anulasse o relatório que deu origem à investigação sobre o gabinete de Flávio. Wassef sempre foi defensor da tese de que ocorreu uma quebra de sigilo bancário sem autorização judicial dos dados do filho '01' do presidente da República nos relatórios do Coaf.

No entanto, logo no início do julgamento, os ministros do STF começaram a indicar que a Corte não iria reconhecer a tese da defesa. No dia 27 de novembro de 2019, já tinham votado os ministros Luiz Fux, Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Rosa Weber, todos contrários à tese da ilegalidade do compartilhamento.

Apenas o ministro Dias Toffoli, relator do caso, tinha votado a favor de impor regras mais restritas, mas não foi apoiado pela maioria. Dias depois, o placar terminou em 10 votos a 1 contra a tese defendida por Wassef.

O desabafo de Márcia Aguiar estava relacionado com o medo da derrota no STF porque, segundo ela descreve nas mensagens, Wassef queria que toda a família de Queiroz mudasse para São Paulo em caso de derrota. Márcia não queria ir e também deixa claro que não aguentava mais ter o marido em São Paulo.

Ex-cunhada de Bolsonaro

Gravações inéditas reveladas pelo portal UOL nessa segunda-feira (6) apontam um envolvimento direto do chefe do Executivo Federal em um esquema ilegal de entrega de salários de assessores na época em que ele exerceu seguidos mandatos de deputado federal (entre os anos de 1991 e 2018), a chamada 'rachadinha'. Ouça os áudios ao fim da reportagem.

Em uma série de reportagens publicada nesta segunda-feira (5), a jornalista Juliana Dal Piva revela um áudio em que a fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, confirma que Bolsonaro comandava um esquema no qual funcionários fantasmas dos gabinetes dele e dos filhos – Flávio e Carlos – devolviam até 90% dos valores recebidos em salários para o clã.

Exoneração de cunhado

No áudio, Andréa revela que o irmão, André Siqueira Valle, foi exonerado do gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados em 2007 por não devolver “o dinheiro certo que tinha que ser devolvido”. Andréa e André são irmãos de Ana Cristina Valle, segunda esposa de Jair e mãe de Jair Renan Bolsonaro.

“O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’. Não sei o que deu pra ele”, diz a ex-cunhada do presidente na gravação.

Antes de ser nomeado na Câmara pelo então deputado Bolsonaro, onde ficou entre dezembro de 2006 e outubro de 2007, André foi funcionário do gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) por dois períodos – entre agosto de 2001 e fevereiro de 2005 e de fevereiro a novembro de 2006.

Na época, André chegou a morar na casa de Jair e da irmã, no Rio de Janeiro. Atualmente, ele vive em Resende, no interior do Estado, onde reside a maior parte da família de Ana Cristina.

'01' da família Queiroz

Os áudios revelam ainda que, dentro da família Queiroz, Jair Bolsonaro seria o verdadeiro "01", forma como o presidente costuma tratar seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).  Em troca de mensagens de áudio, a mulher e a filha de Fabrício Queiroz, Márcia Aguiar e Nathália Queiroz, chamam Jair Bolsonaro de "01". Márcia afirma que o presidente "não vai deixar" Queiroz voltar a atuar como antes. 

Em outro áudio, a ex-cunhada de Jair descreve como recolher salários não era uma tarefa exclusiva de Fabrício Queiroz. Segundo ela, o coronel da reserva do Exército, ex-colega do presidente na Academia Militar das Agulhas Negras, Guilherme Hudson, atuou no recolhimento de salários de Andrea Siqueira Valle, no período em que ela constava como assessora do antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

'Fatos inverídicos', diz defesa

Procurado pelo UOL, o advogado Frederick Wassef, que representa o presidente, negou ilegalidades e disse que existe uma antecipação da campanha de 2022. Wassef afirmou que os fatos narrados por Andrea "são narrativas de fatos inverídicos, inexistentes, jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos".

Ouça os áudios:

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