Em meio a crise envolvendo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - que incluiu exoneração em massa de servidores do Inep após denúncias de assédio moral e interferência nas questões - veio à tona a informação de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, para que substituísse o termo "Golpe Militar" de 1964 para "revolução" nas questões em que fosse citado na prova, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
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A palavra revolução é comumente usada por membros das Forças Armadas para se referir à ditatura militar, ocorrida entre os anos de 1964 e 1985, quando que o Brasil foi comandado por governos militares. O período foi marcado por cerceamento de liberdades, restrição de direitos políticos e perseguição de opositores, por meio de tortura e até assassinatos.
O pedido para chamar o golpe militar de revolução teria sido feito pelo presidente ao ministro ainda no primeiro semestre deste ano, segundo relataram integrantes do governo à Folha. Já Milton Ribeiro teria relatado a conversa para membros do Ministério da Educação (MEC) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), porém não atendeu ao pedido do presidente, pois a elaboração das questões é algo complexo e demorado.
Bolsonaro chegou a afirmar, na última segunda-feira (15), que o Enem "começa a ter cara do governo". O exame deste ano será realizado nos próximos dias 21 e 28 de novembro. Desde o primeiro ano do governo Bolsonaro, em 2019, não cai nenhuma questão no Enem sobre a ditadura militar.
Em janeiro deste ano, quando o Enem 2020 foi aplicado, Bolsonaro se queixou de uma das questões que tratava sobre a igualdade de gênero, comparando o salário dos jogadores de futebol Neymar e Marta. O presidente classificou a questão como "ridícula".
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Crise
Um grupo de 37 técnicos do Inep entregaram os cargos ás vésperas da aplicação das provas acusando o órgão de psicológica e vigilância na formulação do Enem, para evitar questões que pudessem incomodar o núcleo ideológico do governo Jair Bolsonaro.
O presidente do Inep, Danilo Dupas, esteve no Senado na quarta-feira (17), e negou interferência nas provas e disse que a troca de questões do exame é ‘comum’. O presidente do Inep também afirmou que a demissão em massa não tem relação com qualquer tipo de assédio moral ou institucional aos servidores.