Ex-senador e ex-ministro, Cristovam Buarque acredita que a educação no Brasil não é uma prioridade no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em entrevista à Rádio Jornal, nesta terça-feira (29), o pernambucano comentou a saída de Milton Ribeiro do Ministério da Educação (MEC), o quarto ministro a deixar a Pasta em pouco mais de três anos de governo.
"Essa mudança tão constante significa que, até hoje, não entrou nenhum ministro de verdade porque educação não é uma prioridade no Governo Bolsonaro, não é um setor que ele considere fundamental para o progresso do Brasil. Ele considera, por exemplo, o petróleo e esquece que o grande combustível do futuro do país é o cérebro de seu povo", disse Cristovam.
Milton Ribeiro deixou o MEC após vir á tona a suspeita de envolvimento com pastores que cobravam propina para intermediar recursos para escolas. Ele entregou o cargo ao presidente Jair Bolsonaro nessa segunda (28).
Em carta, o ministro disse que as reportagens apontando tráfico de influência em sua Pasta "provocaram uma grande transformação em sua vida". Ele pediu que as suspeitas de que uma pessoa próxima a ele "poderia estar cometendo atos irregulares devem ser investigados com profundidade".
Eu acho lamentável que tenhamos um governo que não dá prioridade à educação, escolhe ministro conforme conveniência política, descobre despreparo e tem que retirá-lo.Cristovam Buarque sobre as trocas no MEC
De acordo com Cristovam Buarque, é preciso tempo para entender toda a estrutura do MEC e implantar políticas públicas. "Nós precisamos de 30 meses, às vezes, para mudar uma rubrica no orçamento, alterar o projeto anterior para um seguinte leva meses de negociações no Congresso. Além disso, o ministro, ao menos o primeiro, pega o orçamento que vem de antes", disse.
Para o futuro da educação no País, Cristovam cobra uma maior participação do governo federal no ensino de base, não somente com transferência de recursos, mas garantindo que seja implementado um modelo unificado em todo o país.
"A educação de base no Brasil é deixada a critério dos municípios e Estados. O ministro tem dificuldade profunda para fazer funcionar. Por isso, alguns focam no ensino superior, com as escolas técnicas federais e as universidades federais", disse Cristovam. "Precisamos de um ministro que lute para que a educação seja uma das melhores do mundo e para que o filho do pobre tenha escola boa como o filho do rico" completou.
Pastores
No último dia 18, reportagem do Estado de S. Paulo apontou a existência de um gabinete paralelo no MEC com atuação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Com sua saída, quem deve assumir o Ministério é o secretário-executivo Victor Godoy Veiga, de forma interina.
Com a demissão, o governo Bolsonaro passará por sua quinta gestão diferente do MEC. Além de Ribeiro, também comandaram a área federal da educação Abraham Weintraub, Ricardo Vélez Rodrguez e Carlos Alberto Decotelli, este último teve a nomeação publicada no Diário Oficial da União, mas ficou somente cinco dias na função, sem nunca ter despachado, por conta de inconsistências no currículo.
Segundo Milton, em carta, ele quer "mais do que ninguém, uma investigação completa e longe de qualquer dúvida acerca de tentativas dele de interferir nas investigações". O ministro disse que seu afastamento "é única e exclusivamente decorrente de minha responsabilidade política que exigem de mim um senso de País maior do que quaisquer sentimentos pessoais". Encerra a carta com o "até breve" prometendo voltar se sua inocência for comprovada.