Da Estadão Conteúdo
A dois dias da primeira reunião bilateral entre Jair Bolsonaro e Joe Biden o assunto democracia deve ser um impasse para gerar tensões entre os dois líderes. Enquanto o presidente americano recebeu pedido de ativistas para que se posicione a favor da democracia e pela realização de eleições livres no Brasil, além da proteção à Floresta Amazônica, Bolsonaro voltou a lançar dúvidas sobre a legitimidade da eleição americana de 2020, que conduziu Biden à Casa Branca. Vale lembrar que o presidente brasileiro é um declarado aliado do ex-presidente dos EUA, Donald Trump.
"Quem diz (sobre fraude nos EUA) é o povo americano. Eu não vou entrar em detalhe na soberania de um outro país. Agora, o (Donald) Trump estava muito bem e muita coisa chegou para a gente que a gente fica com pé atrás", disse Bolsonaro nesta terça-feira, em entrevista ao SBT.
Em uma carta assinada por 71 organizações, como o Greenpeace Brasil, ativistas pedem ao presidente americano que se posicione firmemente a favor da democracia, eleições livres, ação climática e proteção essencial para a Floresta Amazônica. Um grupo menor de ativistas climáticos organiza um protesto contra Bolsonaro para a manhã de quarta-feira, na frente da prefeitura de Los Angeles.
A Casa Branca tem evitado comentar quais serão os assuntos do encontro entre os dois presidentes. "Obviamente também temos alguns desentendimentos com o presidente e o governo do Brasil que também serão objeto do que, tenho certeza, será uma conversa franca entre os dois líderes. Francamente, é disso que tratam as relações internacionais. E acho que ninguém deveria ficar chocado com o fato da reunião (existir). Em nossa opinião, é muito do nosso interesse fazer isso e estamos ansiosos pela conversa", afirmou a fonte, antes de Bolsonaro voltar a colocar em xeque o resultado da eleição americana de 2020.
Biden, Bolsonaro e a Amazônia
O desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira passa a ser um foco de tensão para o encontro. A Casa Branca passou a ser pressionada para que o democrata cobre o brasileiro sobre as buscas e investigações a respeito do caso.
A líder indígena Sonia Guajajara comunicou John Kerry, ex-secretário de Estado dos EUA e principal assessor de Biden para questões ambientais, sobre o assunto e divulgou trecho da conversa em vídeo publicado em suas redes sociais. "Pedi o apoio dele para proteger a Floresta Amazônica, mas, mais importante, para pressionar o governo brasileiro sobre as buscas", escreveu Sonia, em uma publicação em inglês.
"Estou muito preocupado com a segurança de Dom Phillips, um respeitado jornalista, e Bruno Araújo Pereira, um indigenista, na Amazônia brasileira. As autoridades brasileiras devem urgentemente procurar por eles", publicou o deputado democrata Raul Grijalva, representantes da ala autointitulada como progressista dentro do partido de Biden.
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Para esta ala do partido, Bolsonaro é considerado um político antidemocracia e contrário aos direitos das minorias. O grupo já acionou a Casa Branca diversas vezes pedindo para que os EUA recusem acordos com o governo Bolsonaro. O encontro de Biden com o brasileiro acontecerá a despeito das resistências. A reunião bilateral foi oferecida pela Casa Branca para convencer Bolsonaro a viajar aos EUA e evitar que os americanos sediassem um evento esvaziado.
O presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, deputado democrata Gregory Meeks, expressou preocupação com o desaparecimento de Phillips e Pereira. "Profundamente preocupado com o desaparecimento relatado de @DomPhillips e Bruno Pereira no Brasil esta semana. Junto-me ao povo brasileiro e à comunidade internacional para pedir uma ação rápida para encontrá-los o mais rápido possível", escreveu Meeks.
A repercussão internacional a respeito do caso na Amazônia acontece no mesmo dia em que o governo americano realiza eventos e declarações em prol da defesa de uma imprensa livre, no âmbito da Cúpula das Américas. Um dos eixos programáticos de Washington para este evento, do qual Bolsonaro fará parte, é o compromisso com a proteção de jornalistas. A Casa Branca listou a promoção da mídia independente em um relatório de atos previstos para os dias da Cúpula. Neste tópico, segundo a Casa Branca, o Brasil, ao lado de outros oito países e dos EUA, concordou em trabalhar para resolver os ataques contra a imprensa e "os esforços para calar vozes críticas".