O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou no Recife, na noite desta terça-feira (19), para atos de pré-campanha na capital pernambucana e em cidades do interior entre esta quarta (20) e a quinta (21).
Lula foi recebido pelo pré-candidato socialista a governador de Pernambuco, Danilo Cabral, e pelos demais integrantes da chapa majoritária da Frente Popular: Luciana Santos (vice), Teresa Leitão (Senado) e Silvio Costa (primeiro suplente), além do governador Paulo Câmara, do prefeito do Recife, João Campos, do senador Humberto Costa, do deputado federal Silvio Costa Filho e dos estaduais Doriel Barros, presidente estadual do PT, e João Paulo Costa.
O ex-presidente veio a Pernambuco acompanhado da esposa, Janja, do pré-candidato a vice-presidente em sua chapa, Geraldo Alckmin (PSB), e de coordenadores da campanha nacional, a exemplo do ex-ministro Aloizio Mercadante.
Nesta quarta (20), Lula estará em Garanhuns, onde participa de ato público marcado para as 9h.
Veja ao vivo Lula em Garanhuns
Em seguida, Lula vai para Serra Talhada, e discursa por volta das 16h.
Veja ao vivo Lula em Serra Talhada
Na quinta (21), a programação de Lula no Recife inclui evento com representantes do setor cultural, almoço na casa de Danilo Cabral e ato público no Classic Hall.
Confira a agenda de Lula em Pernambuco
Quarta-feira (20)
- 9h: Ato público em Garanhuns, na Arena 177
- 14h: Visita a casa de Dona Lindu
- 16h: Ato público em Serra Talhada, na Antiga Estação Ferroviária
Quinta-feira (21)
- 10h30: Evento com representantes do setor cultural
- Almoço na casa de Danilo Cabral
- 17h: Ato público no Recife, no Classic Hall
Eleições em Pernambuco, PEC Kamikaze e Bolsonaro: leia entrevista de Lula ao JC
Antes de chegar ao Estado, o petista concedeu entrevista exclusiva, por e-mail, ao Jornal do Commercio, respondendo perguntas a respeito de temas como a corrida eleitoral em Pernambuco, PEC Kamikaze, a situação econômica do Brasil, orçamento secreto e eventual negociação com partidos do 'centrão' caso seja eleito.
Questionado sobre o imbróglio envolvendo o uso de sua imagem por Marília Arraes (Solidariedade) na pré-campanha ao governo do Estado, Lula enfatizou a aliança do PT com o PSB em Pernambuco, reforçando apoio a Danilo Cabral, pré-candidato socialista ao Palácio do Campo das Princesas.
Sobre os votos favoráveis de petistas à PEC Kamikaze, que permite ao governo ampliar benefícios sociais às vésperas da eleição e é aposta de Jair Bolsonaro (PL) para melhorar seu desempenho na corrida eleitoral, Lula disse que o apoio foi "um ato de humanidade", mas "se Bolsonaro pensa que vai ganhar o voto do povo dando isso por três meses, terá uma grande lição. O povo vai pegar o dinheiro e não vai votar nele".
O ex-presidente também falou sobre o papel do seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), caso sua chapa seja eleita, e comentou a escalada da violência política, evidenciada com o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda pelo policial penal bolsonarista Jorge Guaranho em Foz do Iguaçu, no Paraná.
Leia a íntegra da entrevista concedida por Lula ao JC
JORNAL DO COMMERCIO - Em Pernambuco o senhor já chegou a fazer menções a um palanque duplo, com Marília Arraes (SD) e Danilo Cabral (PSB). O senhor tem votos entre aqueles que apoiam Marília e entre os que apoiam Danilo. Para ficar claro, o seu conselho, seu pedido, é para que esses eleitores, hoje com Marília, votem no candidato do PSB?
LULA - O PT tem uma aliança nacional com o PSB e uma aliança com o PSB em Pernambuco. Meu candidato em Pernambuco é Danilo Cabral e estou indo para agendas com ele em Serra Talhada, Garanhuns e Recife.
JC - O Brasil está em uma situação econômica difícil, mas o panorama é ainda mais crítico em países como o Chile e a Argentina, cujos governos o senhor apoia. O que foi feito lá e que não pode ser repetido aqui, caso o senhor vença a eleição?
LULA - Os problemas do Brasil não têm nada a ver com Chile ou Argentina. Os graves problemas do nosso País têm a ver com o atual desgoverno. Se eles se preocupassem com o povo brasileiro, conversassem com empresários e trabalhadores, tivessem uma boa imagem internacional, o País estaria muito melhor.
O Brasil hoje está pior do que eu peguei em 2003. Mas eu estou melhor que em 2003. Mais experiente, com mais vontade, sabendo o que tem que ser feito e vou montar a melhor equipe de governo que esse país já viu para montar o melhor governo que esse País já teve.
Garantir três refeições ao dia, emprego para o povo, que os trabalhadores voltem a ter direitos e as pessoas possam pagar suas contas, fazer seu mercado, até o fim do mês e ainda, se quiserem, um churrasquinho no fim de semana.
JC - A oposição, incluindo o PT, votou a favor da PEC Kamikaze, principal aposta de Bolsonaro para recuperar popularidade e voltar ao páreo na corrida eleitoral. Como conter esse crescimento que pode ser provocado pelos benefícios sociais resultantes dessa proposta? O senhor teria votado a favor se fosse parlamentar?
LULA - Há dois anos, Bolsonaro propôs R$ 200 de auxílio, o PT propôs R$ 600 de auxílio emergencial. O Congresso colocou em R$ 500, Bolsonaro baixou para R$ 400, agora propõe R$ 600 de novo. Votamos a favor dos R$ 600 e votaríamos de novo porque é um ato de humanidade, o povo precisa disso diante dos preços que disparam no supermercado.
Se o Bolsonaro pensa que vai ganhar o voto do povo dando isso por três meses, terá uma grande lição. O povo vai pegar o dinheiro e não vai votar nele.
JC - Qual o papel de Alckmin na sua campanha? Há quem aponte papel importante de interlocutor com o mercado e com setores de centro e centro-direita. Se resume a isso? Como apresentá-lo como seu vice, principalmente no Nordeste, onde o ex-tucano apresentou dificuldades nas últimas eleições?
LULA - Alckmin não é vice só para participar da campanha, não. Ele será participante integral do governo, ajudando-nos a governar com a experiência que ele tem. Se eleitos, faremos um governo amplo, de diálogo e muito trabalho porque precisaremos de todos para consertar o desastre e destruição desses últimos anos.
Alckmin vai participar de todas as reuniões, irá nos representar onde for necessário. E tenho certeza que a experiência de quem governou São Paulo por 14 anos irá ajudar muito o Brasil.
JC - Recentemente, percebe-se uma escalada na violência política no País. A morte de Marcelo Arruda foi o ápice. O senhor considera que de alguma forma seu discurso ou o do PT pode ser parte dessa conflagração. Há solução?
LULA - O PT existe desde 1980. Disputa eleições desde 1982, presidenciais desde 1989. E nunca tivemos essa briga e violência que tem agora. Porque política para nós é uma oportunidade de conscientização, não promover barbárie, como esse governo golpista. Nós sabemos e faremos campanha com paz e muito amor.
JC - A LDO de 2023 foi aprovada sem obrigatoriedade do pagamento de emendas do ‘orçamento secreto’. Há chances desse mecanismo voltar num eventual Governo Lula? O senhor vai tentar de alguma forma combater o orçamento secreto?
LULA - Vou fazer todos os esforços para que a gente não tenha orçamento secreto em 2023. Vamos ter é orçamento transparente. E participativo, com sugestões de toda a sociedade brasileira, a partir de 2023.
JC - Em nome da governabilidade e aprovação de mudanças que o PT considera importantes para a população, o senhor aceitaria o apoio do chamado 'centrão', que hoje está com Bolsonaro e, no passado, apoiou a queda de Dilma Rousseff? Já há conversas com líderes desse setor?
LULA - O centrão é uma realidade da política brasileira, mas não é um partido político. É um conjunto de parlamentares de vários espectros ideológicos, que tentam construir uma maioria para governar como eles querem.
E eu pretendo governar com os parlamentares eleitos, não preocupado com seus preceitos ideológicos ou interesses, mas convencê-los que os interesses do Brasil são maiores do que qualquer grupo.