Piadas conscientes

Entenda o movimento de Tatá Werneck para construir humor menos preconceituoso e violento no Brasil; veja entrevista exclusiva

Comediante contratou especialista para revisar seus programas e assim evitar que piadas preconceituosas ou violentas sejam exibidas

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Cadastrado por

Pedro Oliveira

Publicado em 29/11/2021 às 21:48 | Atualizado em 02/12/2021 às 12:55
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Tatá Weneck é um dos grandes nomes do humorismo brasileiro da atualidade e não precisa levantar muitas informações para confirmar isso. Somente no Instagram, a comediante acumula mais de 50 milhões de seguidores. Consciente da responsabilidade que carrega na profissão e da quantidade de público que atinge, ela tem procurado rever o teor de algumas piadas que faz em seu programa "Lady Nigth", exibido no Multishow.

Regado a muita diversão, Tatá recebe muitos artistas em seu talk show para uma conversa leve e descontraída. O programa, aliás, chegou a sua sexta temporada no último mês e veio acompanhado de algumas novidades. Uma delas é que todos os programas, a partir desta edição, serão revisados por uma especialista para que as piadas contadas nos episódios não transmitam nada de cunho preconceituoso ou violento.

Quem será a responsável por passar esse "pente fino" nas piadas de Tatá Werneck é a acadêmica e mestranda em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) Ana Flor. "O Brasil é um país que produz um humor extremamente problemático por ser, muitas vezes, violentos com determinados grupos. A Tatá começou a ter consciência disso e acredito que ela quer romper com essa premissa não construindo mais essa concepção de humor", disse a pernambucana Ana Flor, em entrevista exclusiva ao Blog Social1.

Tatá Werneck, em entrevista à Folha de S. Paulo, comentou que quer o seu programa - que, inclusive, está bem sucedido em audiência - não provoque desinformação. "Quero que divirta, mas não que seja essa parada descompromissada com tudo. De repente, você tá lá e faz uma piada e, quando vê, tá sendo gordofóbica. Não quero essa coisa [da desculpa] ‘O humor acima de tudo’. Não penso assim... mais. O mundo mudou para gente que tava viajando, porque já era errado. Sempre foi doloroso para quem estava sendo discriminado com essa carapuça do humor", disse à jornalista Mônica Bérgamo.

Representatividade

Parar no tempo e ignorar que o mundo está em constante atualização não é a melhor forma de lidar com o público. Tatá Werneck entendeu isso e diz que não quer mais errar, nem rir da dor dos outros. Essa iniciativa, aliás, começa a abraçar cada vez mais as minorias, que até então não se enxergavam no campo do humor. Pelo contrário, sempre foram alvos de ridicularização.

Instagram/Reprodução
Ana Flor é mestranda em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e hoje integra a equipe de Tatá Werneck - Instagram/Reprodução

"Existem vários humoristas que trabalham numa perspectiva danosa para determinados grupos. Principalmente quando falamos de pessoas negras, gordas, LGBTs. O que ela [Tatá] está fazendo é algo que os humoristas precisam fazer. Isso é fundamental para que a gente consiga construir uma outra concepção disso que a gente chama de humor. Pode ser divertido, bacana, legal e não necessariamente precisa violentar as pessoas para isso", pondera Ana Flor

É respeito ou censura?

A revisão que a acadêmica faz nos programas de Tatá Werneck não se restringe a apenas questões profissionais. Segundo a acadêmica, a ideia é que, além de servir de inspiração para outros humoristas no Brasil romperem com este tipo de violência - considerada velada, de certa forma -, esse trabalho comece a conscientizar as pessoas para um mundo melhor. 

"Acredito que exista avanço por parte de alguns humoristas de construir uma outra ótica de humor, mas, ao mesmo tempo, visualizo que existe também uma recusa outros comediantes que querem permanecer fazendo este humor violento. Até onde é engraçado e até onde passa a ser violento?", questiona.

Alguns comediantes, ao se deparar com este tipo de exercício, não enxergam com bons olhos. Ana Flor analisa isso como extremamente problemático porque, ao invés da classe entender que nem toda piada é válida, a categoria julga como uma possível censura. 

"Este é um exercício fundamental e necessário para qualquer pessoa que trabalha com humor. As vezes as pessoas confundem essa vontade de aprender com uma possível censura, mas estamos falando de duas coisas diferentes. O que a Tatá Werneck está fazendo nesse momento é uma escolha de não usar a profissão dela para violentar certos grupos. Ela está fazendo uma escolha de dizer assim: 'é possível fazer humor sem que ele machuque as pessoas de maneira negativa'. Ela quer que o programa dela seja consciente", observa Ana Flor. 

A sexta temporada do "Lady Night" foi gravada em julho. Para esta edição do programa, Tatá recebe como convidados nomes como Ary Fontoura, Lilia Cabral, Marcos Mion e a ex-BBB Juliette Freire.

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