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ENTREVISTA

"Fui traficante. Não tenho vergonha de dizer", conta ex-Náutico e Santa Cruz em relato emocionante

Em relato publicado pelo The Players' Tribune, Breno Calixto ressalta orgulho da favela em que cresceu

Cadastrado por

Túlio Feitosa

Publicado em 04/03/2022 às 14:45 | Atualizado em 06/03/2022 às 9:03
Breno Calixto fez 15 partidas pelo Santa Cruz e chegou a marcar um gol. - RAFAEL MELO/SCFC

Conhecido por ter fortes posicionamentos políticos nas redes sociais, o zagueiro Breno Calixto - que defendeu o Santa Cruz em 2021 - teve um relato emocionante publicado pelo site The Players' Tribune, em que contava a vida do atleta antes de ser jogador profissional.



"Antes de virar jogador, minha profissão — ou melhor, meu ganha-pão — era bem longe dos gramados", introduz a carta de Breno Calixto.

"Durante parte da minha vida, eu fui traficante. Isso mesmo… Traficante. Não tenho vergonha de dizer, irmão. Esse capítulo faz parte da minha história. Pra te contar como eu cheguei vivo até aqui, ainda no corre para vencer nesse esporte, eu preciso reconhecer meu passado", complementou.

Atualmente no URT, de Minas Gerais, Breno Calixto tem passagens por Fortaleza, Náutico, Cianorte, Madureira-RJ, Treze-PB, Brasiliense, Horizonte, Caxias e Coríntians-RN.

Confira o relato na íntegra de Breno Calixto no The Players' Tribune.

Criado na Favela Vertical, no Parque São José - em Fortaleza-CE -, Calixto aprendeu a jogar bola no bairro onde morava, chegando a ser jogador de um time do projeto social da favela.

O zagueiro chegou a fazer diversos testes para clubes no Brasil entre os 14 aos 17 anos, até receber sua primeira oportunidade como profissional. Mas sem se estabelecer em clubes grandes, Breno Calixto precisou encontrar outras formas de se sustentar.

"Antes até de me tornar jogador, teve uma época que… Eu passei alguns anos envolvido no tráfico. Mas não foi porque eu quis. 'Opa, tenho algumas opções aqui e vou escolher o tráfico'. Nada disso", contou.

Breno Calixto (E) foi contratado pelo Santa Cruz durante a Série C do Campeonato Brasileiro - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Ele ainda relatou que tentou procurar emprego, mas sempre recebia um "não" ao dizer de onde vinha:  "Parque São José, Favela Vertical". "Aí já pensavam: 'Pá, é bandido!'. Eu praticamente conseguia escutar isso só pela cara que eles faziam", seguiu o relato.

"O futebol SALVOU minha vida!"

Breno Calixto viu muitos de seus amigos se despedirem da vida antes da hora. Muitos acabaram se perdendo pelo tráfico, outros pelo próprio sistema "armado" para oprimir os mais pobres.

"Do grupo de 17 amigos da minha infância, só cinco estão vivos, contando comigo. No ano retrasado, a gente fez uma vaquinha pra ajudar no enterro do último amigo que perdi. Como eu disse, isso acontece e vai continuar acontecendo… Por causa do sistema", ressaltou.

"O futebol SALVOU minha vida! De verdade! Sem o futebol, eu provavelmente estaria morto. Acredite, isso não é exagero", completou Calixto.

Raniel também fez relato corajoso

Em fevereiro, Raniel, ex-Santa Cruz, ex-Cruzeiro e ex-São Paulo, também publicou um texto corajoso contando as várias situações que teve que superar - do abandono da mãe à suspensão por doping, do acidente com seu filho às sequelas da covid e ao alcoolismo.

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