PANDEMIA

Brasil tem início de 2021 sombrio com mais de 200 mil mortos pela covid-19

O Ministério da Saúde registrou 1.524 mortes nas últimas 24 horas, a segunda maior cifra desde o início da pandemia, elevando o total de óbitos a 200.498

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AFP

Publicado em 07/01/2021 às 19:54 | Atualizado em 07/01/2021 às 23:33
O Brasil alcançou a marca de 300 mil mortes por covid-19 nesta quarta-feira (24) - MICHAEL DANTAS / AFP

Atualizada às 23h32

O número de mortos no Brasil pela covid-19 passou de 200 mil nesta quinta-feira (7) em meio a um repique da pandemia. O novo coronavírus matou 200.498 pessoas no País, segundo cifras do Ministério da Saúde - o segundo balanço mais mortal do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos, onde a covid-19 matou quase 363.000 pessoas.

>> Ministério da Saúde lamenta as 200 mil mortes pela covid-19

>> 'A gente lamenta, mas a vida continua', diz Bolsonaro após 200 mil mortes por covid-19 no Brasil

O Brasil registrou, ainda, um número recorde de novos casos - 87.843 - e o segundo maior número de mortes diárias - 1.524 - desde que a pandemia começou.

Muitos esperavam que a pandemia cedesse em 2021, mas no Brasil o ano começou em meio à polêmica sobre as lacunas no plano de vacinação do governo e o contínuo negacionismo do presidente Jair Bolsonaro sobre a gravidade da covid-19.

A situação ainda pode piorar no país antes de melhorar, alerta Paulo Lotufo, epidemiologista da Universidade de São Paulo.

"Não sei como vamos sobreviver esse mês de janeiro", disse à AFP.

"O pessoal (de saúde) está cansado, foi um sofrimento muito grande".

 A guerra da vacina 

Bolsonaro, que desafia reiteradamente as recomendações dos especialistas para conter a pandemia - contestando os confinamentos, o uso de máscaras, o distanciamento social e outras medidas que considera uma "histeria" - mantém a mesma retórica, enquanto o mundo inicia as campanhas de vacinação.

Seus críticos o acusam de alimentar o ceticismo antivacina ao afirmar que ele próprio não pretende se imunizar e ironizando quem quer fazê-lo, ao sugerir possíveis efeitos colaterais afirmando que "se você virar jacaré, problema seu".

"A gente lamenta, hoje estamos batendo 200 mil mortes [...] mas a vida continua. A gente lamenta profundamente", afirmou Bolsonaro em sua 'live' semanal no Facebook, reiterando as críticas ao confinamento social.

"Não adianta apenas continuar aquela velha história de 'fica em casa que a economia a gente vê depois'. Isso não vai dar certo", continuou o presidente. "Não podemos nos transformar num país de pobres, um país de desempregados".

O Brasil ainda precisa definir uma data para iniciar seu programa de vacinação.

Nesta quinta-feira, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que a imunização começaria "na melhor das hipóteses" até 20 de janeiro, mas disse que poderia ser adiada até fevereiro ou março.

O governo enfrenta dificuldades para assegurar vacinas suficientes para a população de 211,8 milhões de habitantes. Na semana passada, as autoridades fracassaram na tentativa de comprar seringas em quantidade suficiente, assegurando menos de 3% das 300 milhões que aspirava conseguir.

"A lista de erros do governo na condução da pandemia é uma coisa sem paralelo no mundo", disse o analista político Sylvio Costa, fundador do site noticioso Congresso em Foco.

"Bolsonaro é o mais teimoso e o mais obcecado dos negacionistas, e está produzindo uma catástrofe aqui no Brasil", acrescentou.

O presidente, que aspira à reeleição em 2022, enfrenta um dilema: em 1º de janeiro, seu governo parou de fazer os pagamentos mensais da ajuda emergencial a 68 milhões de pessoas de baixa renda.

O programa o ajudou a manter sua popularidade durante a pandemia, mas ajudou a disparar o déficit.

"O Brasil está quebrado, chefe. Eu não consigo fazer nada", disse na terça-feira Bolsonaro a um apoiador, que o pressionava a estender o programa, e culpou a "imprensa sem caráter", que - afirmou - teria potencializado a pandemia, pelos apuros da maior economia latino-americana.

Analistas preveem que o país sofrerá uma contração de 4,36% em 2020 e uma decepcionante recuperação de 3,4% este ano.

Após finalmente reduzir as curvas de novas infecções e mortes entre setembro e novembro, o Brasil começa o ano novo com lembretes inesquecíveis de estatísticas sombrias e imagens horríveis dos piores dias da pandemia.

Os hospitais de São Paulo e Rio de Janeiro registraram recentemente uma ocupação de mais de 90% nas unidades de terapia intensiva.

Em Manaus, onde foram registradas cenas chocantes de covas coletivas e corpos empilhados em caminhões frigoríficos, em abril, o sistema de saúde voltou a ficar saturado.

Com internações atingido seu nível mais elevado da pandemia, a capital amazonense voltou a mobilizar caminhões frigoríficos para armazenar cadáveres. No sábado, uma corte forçou o governo do estado a fechar estabelecimentos não essenciais por 15 dias para conter os contágios.

Diferentemente da primeira onda, os subúrbios e as áreas rurais agora também estão enfrentando altos registros de casos.

Em todo o Brasil, o número de mortes por covid-19 subiu 65% entre novembro e dezembro.

Especialistas temem que o ritmo volte a se acelerar em janeiro, depois que muitas pessoas de norte a sul do país ignoraram as diretrizes de distanciamento social em grandes festas de fim de ano.

O país confirmou na semana passada os dois primeiros casos da nova cepa, mais contagiosa, detectada inicialmente na Grã-Bretanha.

As dificuldades que o Brasil e outros países enfrentam para controlar o coronavírus vai além de suas fronteiras, afirmou a Federação Internacional da Cruz Vermelha e das Sociedades do Crescente Vermelho.

"O fato é que ninguém está seguro até que todos estejamos seguros", informou. "A natureza deste vírus significa que o mundo só pode ser tão forte quanto o sistema de saúde mais frágil".

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