SOLIDARIEDADE

Governo incentiva doação de sangue antes de imunização contra covid-19

Depois de vacinados, doadores precisam passar por um período sem doar sangue

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Agência Brasil, JC

Publicado em 01/02/2021 às 17:54
A situação dos estoques tem se agravado desde o início da pandemia com a queda de doações. - HUGO DOURADO/SES-PE

O Ministério da Saúde está incentivando os brasileiros a doarem sangue antes de serem vacinados contra a covid-19, em função do impedimento temporário para doação após o recebimento de certos tipos de vacinas.

>> Com queda de 40%, estoques de bolsas de sangue no Hemope estão em estado crítico

De acordo com informação divulgada nesta segunda-feira (1º) pela pasta, o período de inaptidão é necessário porque o micro-organismo da imunização, ainda que na forma atenuada, circula por um tempo determinado no sangue do doador. Em caso de pacientes imunossuprimidos, há risco de o receptor desenvolver a doença para a qual o doador foi vacinado.

O coordenador de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, Roberto Firmino, disse que o intervalo se justifica porque “o modo de fabricação das vacinas pode levar riscos a um paciente que receba o sangue, tendo em vista que seu sistema imunológico já se encontra debilitado pela própria condição de saúde. Ao receber uma vacina, o organismo imediatamente desenvolve reações necessárias para que o imunizante tenha efeito, e estas reações podem levar a resultados imprecisos dos exames sorológicos ou tornar irreconhecível efeitos adversos da vacina ou alterações pós doação”, explicou.

De acordo com o tipo de vacina aplicada, a norma no Brasil determina períodos diferentes de intervalo para uma doação de sangue. Após vacinas de vírus ou bactérias inativados, toxoides ou recombinantes, o tempo previsto de inaptidão é de 48 horas. Já após vacinas de vírus ou bactérias vivos e atenuados, deve-se esperar quatro semanas para doar sangue.

O imunizante produzido pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac funciona com vírus inativado, de modo que se encaixa no período de 48 horas. Já o tempo de inaptidão para as pessoas que receberem o imunizante da AstraZeneca/Oxford, produzido no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é de quatro semanas, por se tratar de uma vacina de vetores virais.

Rodolfo Firmino destacou que a população precisa estar ciente sobre os períodos de restrição para doação de sangue após receber a vacina. “Por isso, enfatizamos a importância de os doadores fazerem suas doações antes de receberem a vacina. A doação de sangue é segura e não contraindica a vacinação, podendo, inclusive, receber a vacina logo em seguida à doação", afirmou Firmino.

Queda de doadores

Em decorrência da pandemia do novo coronavírus e devido à menor circulação de pessoas nas ruas, o Ministério da Saúde registrou diminuição de doadores nos hemocentros. No ano passado, a doação caiu entre 15% e 20% com relação a 2019. Soma-se a isso o fato de o primeiro mês do ano ser considerado período de férias, o que pressupõe redução nos estoques de sangue.

Segundo o Ministério da Saúde, ainda não houve registro de desabastecimento no Brasil, mas alguns hemocentros já estão necessitando de apoio da população com certos tipos sanguíneos.

Devido à pandemia, os hemocentros em todo o país adotaram medidas de segurança para evitar aglomerações e outros fatores de propagação do novo coronavírus. Os doadores precisam agendar um horário de atendimento, via internet ou telefone, e cada unidade passa por procedimento de higienização, tanto dos locais de circulação quanto para lavagem de mãos das pessoas.

Rodolfo Firmino salientou que o Ministério da Saúde, em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), publicou nota técnica para inaptidão de pacientes com covid-19 ou em recuperação, “de modo a afastá-los dos centros de coleta por um período de segurança para manter o sangue, os doadores e os pacientes receptores ainda mais seguros”.

Pernambuco

De acordo com a Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope), desde o início da pandemia de covid-19, em 2020, o local tem sofrido com o decrescente número de doações de sangue a cada mês. Atualmente, o estoque de bolsas de sangue do Hemope está crítico em todos os tipos sanguíneos. Diante dessa queda do estoque de bolsas de sangue, que chega a ser de 40%, a instituição tem feito um apelo solidário para que doadores e a população em geral possa fazer doações com a maior brevidade possível para que, assim, a Fundação possa superar essa fase.

O agendamento para realizar doação não é obrigatório, mas se o doador preferir, pode fazer pelos telefones 0800-081-1535, no Recife; (81) 3182-4630, para ligações interestaduais. Na sede de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, o agendamento é por meio do número (81) 3719-9569. Para doar sangue, a pessoa deve ter entre 16 anos e 69 anos e 11 meses (59 anos e 11 meses para a primeira doação). Os menores de 18 anos precisam da presença do responsável legal (pai ou mãe), bem como levar xerox da identidade.

É necessário ter mais de 50 kg, estar alimentado e em boas condições de saúde, além de apresentar um documento original com foto, como carteira identidade (RG), Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ou carteira de trabalho. Crachás não são aceitos. Também é necessário respeitar os intervalos entre as doações de sangue, que são de três meses para homens e quatro meses para mulheres.

Acompanhamento

O Ministério da Saúde faz o acompanhamento diário do quantitativo de bolsas de sangue em estoque nos maiores hemocentros estaduais. Além disso, ativou, no início da pandemia, o Plano Nacional de Contingência, que permite uma possível antecipação na tomada de decisão para reduzir o impacto de eventuais desabastecimentos.

Atualmente, a taxa de doação de sangue voluntária da população brasileira é de 1,6%, informou o ministério. Esse número está dentro dos parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Dados do ministério mostram que foram investidos pela pasta R$ 1,5 bilhão na rede de sangue e hemoderivados no Brasil, em 2019, e R$ 1,6 bilhão, em 2020. O valor envolve aquisição de medicamentos e equipamentos, reformas, ampliação e qualificação da rede.

Também no ano passado, devido à pandemia do novo coronavírus, o ministério realizou a Campanha Nacional de Promoção da Doação Voluntária de Sangue, cujo foco foi a importância de as pessoas continuarem doando sangue, apesar das restrições de deslocamento. Isso se explica porque o consumo de sangue é diário, contínuo e essencial em casos de anemias crônicas, cirurgias de urgência, acidentes que causam hemorragias, complicações da dengue, febre amarela, tratamento de câncer e outras doenças graves que acontecem diariamente. A campanha foi lançada pelo ministério em junho e reforçada em novembro em comemoração ao Dia Nacional do Doador de Sangue. Ainda não existe um substituto para o sangue, ressalta o Ministério da Saúde.

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