As denúncias de assédio sexual contra quatro religiosos do Mosteiro de São Bento motivaram, após a intervenção do Vaticano, mudanças de regras. Adolescentes que têm vocação religiosa e desejam conhecer o local, por exemplo, agora só podem entrar acompanhados dos pais ou responsáveis. Em meio à crise, o local vê ainda a saída de noviços - 8 de 12 jovens religiosos deixaram a instituição desde 2019.
Os 32 religiosos do Mosteiro foram surpreendidos com a notificação judicial há dois anos. Em seguida, a entidade recebeu uma visita apostólica - um grupo de monges brasileiros designados pelo Vaticano se instalou no local. Com a pandemia, a intervenção, de fato, começou só em abril deste ano.
"Não foi um inquérito, mas todos foram ouvidos", disse ao Estadão o monge Hildebrando Brito, membro da direção espiritual do Mosteiro. Ele acompanha desde o início a ação dos interventores chefiados pelo Frei Evaldo Xavier, da Ordem dos Carmelitas. "O mosteiro ficou congelado desde o início da visita Todas as áreas têm de passar suas informações. Estamos seguindo com fidelidade as orientações propostas pelo Vaticano."
Embora não sejam tão frequentes, principalmente na pandemia, as visitas estão controladas em um protocolo trazido pelo interventor. Além de irem acompanhados dos pais, agora os jovens são recebidos por um monge específico, designado para recebê-los Antes, podiam ser recebidos por diferentes religiosos. Houve também mudanças na hierarquia e trocas de cargo.
Já a rotina dos monges, segundo Brito, pouco mudou. Ele diz também que os casos de assédio são "pontuais" e destaca que as saídas dos noviços foi por vários motivos. "Alguns pensaram que a investigação ia demorar muito, por exemplo. Mas todas aconteceram nesse período de visita apostólica e intervenção", disse. "As pessoas não podem confundir o Mosteiro de São Bento, em sua totalidade, com os acusados", defendeu. "Vamos ficar com essa ferida, um corte, que vai cicatrizar, mas o corpo está saudável. Não existe erro de vivência na casa."
Demora
Brito afirma também que a crise da covid-19 atrasou a investigação e eventual punição. "As pessoas podem achar que demorou muito, mas nós não estávamos enrolando, como diz a linguagem popular. A pandemia atrasou o processo." Mesmo assim, ele diz que novos casos, se ocorrerem, serão tratados com mais rapidez. "Além disso, precisamos olhar sempre para as vítimas", continuou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.