Aos 65 anos, a vida de Ernestina Santos da Fonseca deu uma reviravolta. “Mudou tudo! Ih, como mudou!”, ela exclama, feliz. Há pouco mais de uma semana, ela tinha catarata avançada nos dois olhos. Enxergava muito pouco e dependia da filha para quase tudo na vida. Mas uma cirurgia devolveu a visão para ela, uma senhora independente e bem humorada, dona de um restaurante no município de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. “Eu não podia cozinhar, não fazia nada sozinha, era uma deficiência horrível. Estou tão feliz que você nem sabe!”, sorriu. Ela acha que não, mas a diferença está na cara.
Ernestina foi uma das primeiras pacientes do Recife a ser operada com a tecnologia ORA (Optiwave Refractive Analysis – em tradução livre, análise refrativa por ondas ópticas). O equipamento, que traz maior precisão à cirurgia de catarata, chegou ao Instituto de Cirurgia Ocular do Nordeste (ÍCONE) nesse mês. É o primeiro do Norte-Nordeste, terceiro do Brasil.
Para entender por que o ORA é revolucionário, é preciso entender primeiro a doença e a cirurgia. “Dentro do olho, nós temos uma lente natural chamada de cristalino. Depois dos 50 anos, o cristalino vai perdendo sua transparência e, lentamente, vai evoluindo até chegar aos seus estágios finais, por volta dos 90 anos, quando o paciente pode realmente perder a visão”, explica o médico oftalmologista Álvaro Dantas, do ÍCONE. A catarata, portanto, é o cristalino que ficou opaco. “É uma doença que afeta todos os seres humanos que tem o privilegio de envelhecer”, pontua.
Normalmente, a catarata é assintomática e o diagnóstico é feito em consultório, uma vez que o cristalino vai perdendo sua transparência de forma muito lenta. É comum que o paciente se acostume e se adapte. Mas dona Ernestina já percebia e lamentava não poder enxergar muitos detalhes; era um estágio mais avançado do problema. Antes de entrar na cirurgia, ela afirmou: “Converso contigo, mas não sei a cor dos seus olhos. Essa semana meu filho saiu para um baile, ele estava todo arrumado. Eu só via um vulto. Fiquei desesperada, chorei a noite toda”, disse.
A cirurgia que corrige esse problema tem por objetivo aspirar a lente natural que perdeu a transparência e implantar uma nova, substituta, artificial. Antigamente, a catarata era tratada somente nos estágios mais avançados, com técnicas cirúrgicas mais agressivas e invasivas. “Só valia a pena arriscar quando o paciente não tinha mais o que perder. Por isso, deixava a catarata amadurecer para operar”, analisa Álvaro Dantas.
Nas técnicas mais recentes, no entanto, ela é tratada preferencialmente nos seus estágios iniciais ou moderados, para evitar traumas e complicações. O cristalino opaco é quebrado com laser, de forma calculada, para ser mais facilmente removido. A incisão para retirar a catarata e inserir o “novo cristalino” também pode ser a laser.
“O grande desafio é calcular a lente exata para cada olho”, continua Álvaro. Antes da chegada do novo equipamento, essa medição era feita com o olho ainda doente, nos exames pré-operatórios, o que comprometia a precisão do cálculo. Agora é tudo bem diferente.
“O ORA é um sistema refinado para cálculo de lente intraocular durante o ato cirúrgico. Essa medição é feita em uma condição exemplar, onde você já removeu a catarata”, detalha o médico. “É um refinamento sem precedentes, que torna muito maior a chance de o paciente eliminar os óculos”, diz. Além do ÍCONE, no Recife, só há outros dois centros brasileiros com médicos qualificados para operar o equipamento: um em São Paulo e outro em Belo Horizonte. “Em toda a América Latina, é algo que está começando. Então nós temos o imenso prazer de trazer essa tecnologia rapidamente para oferecer aos nossos pacientes nas cirurgias de catarata que estamos realizando”, finaliza dr. Álvaro.
Agora não há mais nenhum traço de lamento na voz ou nos olhos de dona Ernestina. Só planos: sair sozinha, recuperar antigos hábitos e viajar. “Agora estou vendo os seus olhos, lindos, maravilhosos. Já estou até organizando meu passaporte. Vou a Portugal!”
Em seu restaurante, já de volta à cozinha que tanto ama e aos clientes que a tratam com carinho, dona Ernestina não poderia estar mais feliz por ter se livrado da catarata. “Não estava fazendo nada disso porque eu dependia sempre de alguém para sair. Mas já estou aqui no restaurante, voltei a ir à praia, academia, dançar. Ah, adoro ir dançar!”, exclama.