A partir de domingo (13), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) deixa de ser conduzida pelo engenheiro civil Anísio Brasileiro, há oito anos no cargo de reitor. O segundo mandato, iniciado em 2015, acaba sábado. A expectativa é de que o próximo reitor seja o professor Alfredo Gomes, mais votado pela comunidade universitária numa consulta acadêmica em dois turnos. Para assumir o comando de uma das maiores instituições públicas de ensino superior do País, Alfredo Gomes precisa que seu nome seja chancelado pela Presidência da República. O Ministério da Educação (MEC) informou nessa segunda-feira (07) que a nomeação do novo reitor - sem especificar quem será - deve sair até o fim desta semana.
A lista tríplice com os três nomes referendados pelo Conselho Universitário para a reitoria foi recebida pelo MEC há quase três meses. O órgão teve acesso ao resultado no dia 18 de julho, data em que a correspondência enviada pela UFPE chegou ao ministério. Além de Alfredo Gomes, diretor do Centro de Educação, fazem parte da lista os professores Ricardo Medeiros, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, e Sérgio Abranches, também do Centro de Educação.
Apesar de alunos, docentes e técnicos participarem da consulta para escolher o reitor, a nomeação, por lei, é prerrogativa do presidente do Brasil. No entendimento do governo federal, não existe hierarquia na lista tríplice. Mas o pedido da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior é de que seja respeitado o desejo da comunidade universitária, com a indicação do candidato que tem maior quantidade de votos.
Em pelo menos cinco universidades – UFGD, UFTM, Unirio, UFRB e UFC – o escolhido por Bolsonaro não foi o primeiro colocado da lista. No último dia 30, o Conselho Universitário da Universidade Federal da Fronteira Sul, de Santa Catarina, aprovou pedido de destituição do reitor Marcelo Recktenvald, nomeado pelo presidente e que era o terceiro da lista tríplice.
Nessa segunda-feira (07) o Grupo Docentes pela Liberdade ingressou com ação popular na Justiça Federal para derrubar a lista tríplice elaborada pelo Conselho Universitário que, segundo o grupo, mudou o Estatuto da UFPE para beneficiar Alfredo Gomes, e, consequentemente, cancelar o pleito.
Enquanto não deixa o comando da UFPE, Anísio Brasileiro segue intensa agenda. Ontem entregou cinco salas para atividades pedagógicas no Hospital das Clínicas. Nesta quarta-feira (09) inaugura o Cinema UFPE, nova sala de projeções no bloco B do Centro de Convenções do câmpus Recife. Quinta entrega o título de professor emérito ao ex-reitor Mozart Ramos.
Caso a nomeação do sucessor não seja publicada no Diário Oficial da União desta semana, a atual vice-reitora, Florisbela Campos, segue no comando da instituição. O mandato dela só termina dia 25. O vice da chapa de Alfredo Gomes é o professor Moacyr Araújo. Procurado para comentar sua possível nomeação, Alfredo Gomes preferiu não se pronunciar enquanto seu nome não for anunciado oficialmente.
A UFPE faz parte da vida do reitor Anísio Brasileiro, 65 anos, há 46 anos: cinco como aluno e 41 como professor. Reitor desde 2011, em duas gestões, ele planeja voltar a dar aulas na graduação em 2020.
JC – O que o senhor destacaria nos seus oito anos de reitorado?
ANÍSIO BRASILEIRO – O grande marco foi o fortalecimento da relevância da UFPE, do ponto de vista da qualidade. Para os docentes, lançamos edital de alocação de recursos para manutenção dos laboratórios de pesquisa. Fortalecemos a educação a distância, oportunizando a centenas de jovens o acesso à formação de qualidade. Apoiamos, através de recursos, a publicação em periódicos de língua inglesa. Estabelecemos parcerias estratégicas com empresas públicas e privadas. Investimos na internacionalização, com a criação de 13 disciplinas internacionais. Também buscamos inovar nas metodologias de ensino e aprendizagem. Outro destaque foi a curricularização da extensão.
JC – O que mais?
ANÍSIO – Valorizamos os técnicos, com investimento na qualificação deles e na presença em postos-chave da universidade. Por exemplo, das oito pró-reitorias, quatro são ocupadas por técnicos. Adotamos um sistema informatizado. Hoje os processos circulam via plataforma adquirida na UFRN. Dá mais rapidez e economia de papel. Chamo a atenção também para a criação da Pró-reitoria de Tecnologia e Gestão da Informação.
JC – Que avaliação faz do ingresso do Hospital das Clínicas na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, assunto polêmico antes de o senhor assumir a primeira gestão?
ANÍSIO – Foi uma corajosa decisão nossa de mudar a gestão para Ebserh. Os resultados são extremamente positivos. Foi meu primeiro grande desafio como reitor. Hoje o HC é exemplo de qualidade e de atendimento ao público. O medo que havia da privatização não se concretizou.
JC – Na sua gestão as universidades federais passaram a ter 50% das vagas para egressos de escolas públicas. Que ações destaca na assistência estudantil?
ANÍSIO – Hoje a universidade é mais plural, respeita a diversidade, tem a cara do povo brasileiro e é essa universidade que deve ser defendida. Criamos a diretoria LGBT, investimos na educação indígena. Na assistência estudantil, implantamos o Restaurante Universitário em Caruaru. No Recife, construímos uma residência estudantil mista e recuperamos as casas feminina e masculina. Criamos a Pró-reitoria para Assuntos Estudantis. Queria ter inaugurado o segundo RU no Recife, no prédio da antiga Sudene. Até refizemos a coberta. Mas pegamos o bloqueio de verbas, em maio, por isso não houve liberação dos R$ 400 mil previstos para colocá-lo em funcionamento.
JC – O que o senhor queria ter feito e não conseguiu?
ANÍSIO – Deixo o projeto executivo do Centro de Convenções, no câmpus Recife, pronto. O prédio está fechado desde 2013. São R$ 40 milhões para reformar o teatro. Mas vamos entregar, esta semana, o cinema e o hall, com salas para seminários. Gostaria de ter organizado as calçadas no entorno do câmpus. Foram quatro anos de negociação com a associação de barraqueiros e a Prefeitura do Recife. Temos o projeto dos quiosques concluído. Mas a prefeitura não foi capaz de alocar recursos para os quiosques. Houve várias reuniões com Braga (João Braga, secretário municipal de Mobilidade e Controle Urbano), mas o projeto não avançou. Também não conseguimos implantar o câmpus da UFPE em Goiana porque o Ministério do Planejamento não liberou vagas para professores e técnicos.
JC – Qual será o maior ou os maiores desafios de quem o suceder?
ANÍSIO – Uma das minhas preocupações é a manutenção dos laboratórios de graduação e pós. Com a redução de recursos de capital e a perda de financiamento do CNPq e Finepe, corre-se um grande risco de sucateamento. O próximo reitor terá o desafio de manter a qualidade num cenário que projeta menos recursos. Precisará se articular mais com a sociedade, com as empresas e com o Parlamento. Lamento não ter investido mais nessa aproximação com a bancada pernambucana no Congresso Nacional.
JC – O senhor aposta na nomeação do professor Alfredo Gomes?
ANÍSIO – Sim, estou confiante. A escolha dele foi impecável. O Conselho Universitário o elegeu como primeiro da lista tríplice, dentro da mais absoluta legalidade, referendando o desejo da comunidade universitária.